Dia Nacional da Baiana de Acarajé: veja onde comer iguaria de R$ 1 a R$ 3 em Salvador
Data é comemorada no Brasil desde 2010
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
Na terra que mistura axé e dendê, o acarajé não deixa de ser preparado no tabuleiro em nenhum dia do ano. Em cada esquina dos grandes e pequenos bairros, pelo menos uma barraca ou um quiosque conta com a venda da iguaria e, em cada um desses espaços, prevalece também a tradição que tem como protagonistas as baianas. Afinal de contas, são elas que, vestidas com trajes em tons de branco com bordado Richelieu, mantêm a ancestralidade viva através da gastronomia, bem como projetam a imagem da cidade com a simpatia inerente à profissão. São também elas as protagonistas desse 25 de novembro, que comemora o Dia Nacional da Baiana de Acarajé.
A data é comemorada desde 2010, mas a importância da baiana de acarajé vai além do calendário festivo. O historiador Rafael Dantas destaca a relevância dessa figura para história de resistência da mulher negra e para a identidade do estado. “A baiana bebe diretamente na tradição da luta de muitas mulheres ao longo do tempo, na conquista da liberdade, na resistência, na liderança de famílias ao longo das décadas.
“Principalmente a partir de meados do século 20, [...] a baiana é essa figura que acaba levando a Bahia para o Brasil e para o mundo. [...] Então, esse dia, antes de qualquer outra coisa, é uma data de história, resistência e memórias, sobretudo com a pauta tão atual e presente hoje, que é a questão da identidade, do pertencimento e da representatividade”, completa Rafael Dantas.
No Centro Histórico de Salvador, uma programação especial foi feita em homenagem às baianas, com o apoio da prefeitura. As atividades começaram pela manhã com a celebração de uma missa na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Largo do Pelourinho, e foi seguida de um cortejo até a Praça da Cruz Caída, onde foi realizado o lançamento de um selo comemorativo pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Correios) e a tradicional feijoada das baianas. À tarde, ainda houve apresentações de grupos culturais e um encerramento na sede da Abam.
“Dia da Baiana é todo dia, os 365 dias do ano, mas termos uma data própria para nós. É um momento nosso não só para as baianas confraternizarem, mas também para mostrarmos a nossa felicidade e a nossa luta. É o dia de fazer a cobrança municipal, estadual e federal e também da nossa população. Hoje está sendo chancelado um selo com fotos da baiana que irá rodar o mundo”, celebrou Rita Santos.
Saiba onde comer acarajé de R$ 1 a R$ 3 em Salvador
No ponto de ônibus da Estação de Metrô Pituaçu, no sentido Aeroporto, nem mesmo a chuva foi capaz de afastar aqueles que estavam de retorno para casa após o trabalho da barraca mantida por Vanessa, baiana que vende acarajé a R$ 1. O quitute, mesmo em tamanho mini, é cobiçado pelos clientes sobretudo pelo preço. É inclusive seguindo a lógica de que o faturamento é melhor ao vender mais barato, já que alcança mais clientes, que há mais de um ano o point não mudou a estratégia de venda.
No Largo do Campo da Pólvora, a barraca de Cleide Araújo, 54 anos, fez sucesso durante oito anos por vender acarajé a R$ 1. A motivação para estipular esse valor foi o desemprego. “Eu estava procurando emprego, mas não encontrava nenhum. Foi quando meu filho me disse para colocar um ponto de acarajé. Eu fiquei receosa porque era difícil, mas decidi enfrentar. Comecei a colocar de R$ 1, mas no início foi difícil até que o pessoal que provou começou a gostar e trazer mais gente. Já teve dia de a fila chegar na entrada da estação”, conta.
Em 2023, Cleide mudou o preço para R$ 3 – o valor do quitute sem camarão –, mas a clientela se manteve fiel. Por isso, ela também resolveu aumentar o tamanho. “Todos os insumos aumentaram. O camarão está caro, eu pago R$ 160 no balde do azeite e gás também está caro. Eu tirei o acarajé mini e coloquei um de tamanho normal. Então, se for contar com a inflação desses anos todos, o acarajé ainda tem o mesmo preço”, diz.
A cabelereira Rosenilda Assunção, 53 anos, afirma que o acarajé mais barato ajuda a economizar no bolso e ainda auxilia a dieta. “Vale a pane porque às vezes não podemos comer um acarajé grande, então compensa mais. Eu, por exemplo, quando quero comer um maior, compro dois porque vem uma quantidade de camarão maior do que viria se eu comprasse um só. Ainda pago menos”, fala.
A assistente de advocacia Rute Gonçalves, 57, que vive próximo ao Campo da Pólvora, não só é atraída pelo preço do acarajé de Cleide, como também é fã de carteirinha do sabor. “O preço está ótimo e o acarajé ainda é uma delícia. Sai ainda mais em conta porque ainda dá para comprar um refrigerante baratinho aqui também”, afirma, aos risos.
Baianas associadas à Abam criticam venda barata do acarajé
Apesar do benefício proporcionado ao bolso dos clientes, as baianas de acarajé que são associadas à Abam não veem de maneira positiva a venda do quitute a R$ 1. Segundo Angelimar Trindade, diretora da entidade, um dos maiores impactos é a perda de qualidade do acarajé que, conforme o preço dos insumos, precisa ser vendido por no mínimo R$ 4,20 atualmente.
“Eu trabalho há 17 anos vendendo acarajé e sei que o azeite de qualidade é caríssimo, sendo que um balde gira em torno de R$ 160 a R$ 170. Para trabalhar um dia, é preciso no mínimo de três litros de azeite. Para fazer um vatapá de qualidade, é preciso investir na castanha, no amendoim e no camarão. Fora isso, tem as vestes da baiana, que envolve dinheiro. Então, não consigo entender como algumas delas vendem acarajé a até R$ 3, até porque também entra na conta a luz, a água, transporte e combustível. Nós combatemos isso”, enfatiza.
A baiana de acarajé Ana Cássia Nery, que é a quinta geração da família atuando no ramo, também critica o barateamento do acarajé. “Acho impossível uma pessoa manter a qualidade das matérias-primas vendendo o acarajé de até R$ 3. Eu não quero desmerecer as colegas que vendem, mas a qualidade de acarajés como o meu, que varia de R$ 12 a R$ 14, é diferente. Não há como manter um padrão bom com um acarajé de valor mínimo”, aponta.
Onde comer acarajé de R$ 1 a R$ 3:
1) Barraca de Vanessa
Onde: Ao lado do ponto de ônibus da Estação de Metrô Pituaçu (sentido Aeroporto)
2) Barraca da Cleide
Onde: Largo do Campo da Pólvora, atrás do ponto de ônibus e em frente à entrada da Estação Campo da Pólvora
3) Acarajé do Bahiano
Onde: Praça da Piedade, na Av. Joana Angélica
4) Barraca de Acarajé s/n
Onde: Na lateral do Colégio Estadual Manoel Devoto, Rua Oswaldo Cruz, no Rio Vermelho
5) Barraca de Acarajé s/n
Onde: Ao lado do Shopping Barra, em frente ao antigo Bompreço (atual Atakarejo)