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Cresce diferença entre mulheres e homens na realização de afazeres domésticos


 

Em 2022, 91,3% das mulheres de 14 anos ou mais de idade realizaram afazeres domésticos e/ou cuidados de pessoas; porcentagem dos homens é de 75%, revelam dados do IBGE-BA

  • Da Redação

Salvador
Publicado em 11/08/2023 às 17:43:41
Proporção de mulheres que realizam afazeres domésticos e/ou cuidados de pessoas é maior do que a de homens. Crédito: Arquivo/CORREIO

As desigualdades entre mulheres e homens na realização de afazeres domésticos e/ou cuidados com pessoas voltaram a crescer na Bahia após o período mais intenso da pandemia de covid-19, entre 2020 e 2021. No ano passado, 91,3% das mulheres de 14 anos ou mais de idade realizavam essas formas de trabalho, enquanto entre os homens a proporção era de 75,0%, o que significava uma taxa 16,3 pontos percentuais maior para elas. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados em 2022.

Frente a 2019, a taxa de realização de afazeres ou cuidados caiu para todas as pessoas, mulheres e homens, mas, na Bahia, o recuo masculino foi um pouco mais intenso do que o feminino, por isso a diferença por sexo cresceu. Antes da pandemia, no estado, 76,6% dos homens e 92,7% das mulheres realizavam afazeres domésticos e/ou cuidados de pessoas (16,1 pontos percentuais a mais para elas).

Foi o segundo crescimento consecutivo da desigualdade por sexo na proporção de quem realizava afazeres domésticos e/ou cuidados de pessoas, na Bahia. Ela já havia subido de 2018 para 2019, após ter recuado por dois anos, entre 2016 e 2018.

Ainda que o aumento não tenha sido grande, ele foi na contramão do que ocorreu em nível nacional. No Brasil como um todo, a taxa de realização de afazeres e/ou cuidados de pessoas das mulheres recuou mais do que a dos homens, e a diferença por sexo nesse indicador diminuiu um pouco. Também foi suficiente para fazer a Bahia subir duas posições no ranking dessa desigualdade, de 8a maior diferença por sexo antes da pandemia para 6a maior depois da pandemia.

Mulheres se dedicam quase 13h a mais do que homens nas tarefas domésticas e cuidados com pessoas

Além de realizarem proporcionalmente mais afazeres domésticos e/ou cuidados com pessoas, as mulheres também dedicam, em média, muito mais tempo a essas formas de trabalho não remunerado dos que os homens. Apesar de ser assim em todo o país, na Bahia, em 2022, as mulheres dedicavam, em média, 23,1 horas semanais a afazeres domésticos e/ou cuidados de pessoas no próprio domicílio ou na casa de parentes. O tempo é mais do que o dobro (+12,2 horas) do tempo dos homens: 10,9 horas.

Antes da pandemia, em 2019, embora já fosse mais do que o dobro, a diferença era menor: de mais 11,3 horas semanais para as mulheres, que dedicavam 21,2 horas frente a 9,9 horas dos homens.

Mais uma vez, o estado foi na contramão do país como um todo e de 21 das 27 unidades da Federação, onde houve redução nessa desigualdade (o Amapá teve estabilidade nesse indicador, entre os dois anos).

De 2019 para 2022, a Bahia também subiu no ranking da desigualdade por sexo no tempo dedicado a afazeres e/ou cuidados, de 10a para a 4a maior.

Mulheres trabalham quase 4 horas a mais por semana do que os homens na Bahia

Mesmo quando têm um trabalho remunerado, as mulheres ainda dedicam, em média, muito mais tempo aos cuidados com a casa e/ou outras pessoas do que os homens. Na Bahia, em 2022, as mulheres ocupadas que realizavam afazeres e/ou cuidados, trabalhavam "fora" em média 33,0 horas por semana e ainda dedicavam outras 19,0 horas semanais aos afazeres domésticos e/ou cuidados com pessoas, somando 52,0 horas semanais nas duas formas de trabalho.

Já os homens ocupados que realizavam afazeres e/ou cuidados trabalhavam "fora" mais horas que as mulheres (37,9 horas ou 4,9 horas a mais), mas dedicavam à casa bem menos tempo do que elas (10,3 horas ou 8,7 horas a menos). Somavam, assim, 48,2 horas nas duas formas de trabalho - 3,8 horas a menos do que as mulheres.

Essa diferença praticamente não se alterou frente a 2019, quando era de menos 3,9 horas semanais nas duas formas de trabalho, para os homens. Na Bahia, ela seguia, em 2022, um pouco maior do que no país como um todo.

de afazeres [é menor entre pessoas brancas e mais instruídas 

Diferença por sexo na realização é menor entre brancos e mais instruídos

Na Bahia, em 2022, a desigualdade por sexo no percentual de pessoas que realizavam afazeres e/ou cuidados, era menor quando elas se declaravam brancas (87,4% das mulheres brancas realizavam, frente a 72,9% dos homens); entre as pessoas mais instruídas (92,3% das mulheres com Ensino Superior completo realizavam, frente a 81,6% dos homens); ou quando as pessoas eram apontadas como responsáveis pelos domicílios em que residiam (94,1% para as mulheres nessa condição, frente a 84,5% para os homens).

Por outro lado, a desigualdade nesse indicador era maior entre as pessoas que se declaravam pardas (92,0% das mulheres realizavam afazeres/cuidados frente a 75,2% dos homens); quando tinham Ensino Fundamental completo a Médio incompleto (94,4% para as mulheres frente a 72,8% para os homens); e quando, no domicílio, as pessoas eram apontadas como filhas ou enteadas (86,3% das mulheres nessa condição realizavam afazeres e/ou cuidados frente a 61,8% dos homens).

Desigualdade por sexo é maior na limpeza de roupas e sapatos e na cozinha

Em 2022, as maiores desigualdades por sexo, no estado, estavam em cuidar da limpeza ou manutenção de roupas e sapatos, atividade realizada por 94,1% das mulheres e 58,6% dos homens; e em preparar ou servir alimentos, arrumar a mesa ou lavar louça, realizada por 95,6% das mulheres e 60,7% dos homens.

As mulheres tinham uma maior taxa de realização de quase todos os afazeres domésticos. A única exceção era fazer pequenos reparos ou manutenção do domicílio, do automóvel, de eletrodomésticos ou outros equipamentos, realizado por 29,7% das mulheres e 51,5% dos homens.

Por outro lado, os afazeres mais igualitários eram cuidar da organização do domicílio (pagar contas, contratar serviços, orientar empregados etc.), realizado por 71,2% das mulheres e 68,9% dos homens na Bahia; e cuidar dos animais domésticos, realizado por 46,5% das mulheres e 43,6% dos homens.

Já considerando só os cuidados com pessoas moradoras do mesmo domicílio, voltados majoritariamente para crianças e adolescentes de 0 a 14 anos, embora a proporção de mulheres fosse maior em todas as atividades realizadas, a diferença em relação aos homens era muito menor no que dizia respeito a ler, jogar ou brincar (realizado por 73,9% das mulheres e 72,0% dos homens) e transportar ou acompanhar para escola, médico, exames, parque, praça, atividades sociais, culturais, esportivas ou religiosas (realizado por 66,5% das mulheres e 62,1% dos homens).

Por sua vez, as maiores diferenças por sexo estavam no auxílio com cuidados pessoais (realizado por 88,4% das mulheres e 68,6% dos homens) e com as atividades escolares (realizado por 70,0% das mulheres e 56,3% dos homens).