Suspeita de provocar morte de turista, aranha-marrom não é comum em Morro de São Paulo
Corpo de turista vítima de animal peçonhento em Morro de São Paulo será cremado
-
Gil Santos
gilvan.santos@redebahia.com.br
O corpo do turista Cid Penha, 65 anos, que morreu vítima de uma picada de inseto em Morro de São Paulo, será cremado nesta terça-feira (16), em Santos (SP). Cid era jornalista e estudante de Medicina, e estava visitando a ilha, em Cairu, quando o incidente ocorreu. A prefeitura informou que ele foi vítima de uma animal peçonhento ainda não identificado. Nas redes sociais há a especulação de se tratar de uma aranha-marrom, mas especialistas afirmam que a espécie não é comum nessa região.
A investigação ainda não identificou qual o animal peçonhento que picou Cid, mas amigos que estavam com ele levantaram a possibilidade de que a picada tenha sido provocada por uma aranha-marrom. A professora titular do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e coordenadora do Núcleo Regional de Ofiologia e Animais Peçonhentos (Noap/Ufba), Rejane Lira, frisa que esse tipo de aranha não é comum nessa região e que é preciso aguardar a investigação.
"Das oito espécies de Loxosceles, conhecidas popularmente como aranhas-marrons, da Bahia, somente duas já foram registradas para a Mata Atlântica, em área de grutas em Pau Brasil, no Sul da Bahia, e apenas uma aranha em Salvador, na Lagoa do Abaeté. É necessária uma visita técnica ou expedição para realizar vistoria a fim de encontrar a Loxosceles, já que muitas aranhas são marrons, mas não têm importância médica", afirmou.
A especialista explicou que a maioria das espécies encontradas na Bahia estão na Chapada Diamantina e que elas preferem a caatinga e regiões de caverna. Quando estão na zona urbana, os animais se abrigam nas frestas das paredes, ralos, embaixo de pedras e no entorno das casas. Em 37 anos de pesquisa o Núcleo Regional de Ofiologia e Animais Peçonhentos não encontrou registro desse animal no Baixo Sul.
"O óbito pela picada de aranha-marrom é normalmente por insuficiência renal aguda. Como o veneno degrada as hemácias a hemoglobina acaba se depositando nos rins. A intubação do paciente, como parece ter ocorrido nesse caso, ocorre quando há acidentes que têm ações neurotóxicas no veneno, o que causa insuficiência respiratória. Não é o caso da aranha-marrom", explicou a professora.
Entenda o que aconteceu
Cid estava viajando com amigos quando passou mal. Ele procurou a Unidade Básica de Saúde de Morro de São Paulo, na quarta-feira (10), com uma picada na panturrilha. O local estava vermelho. A prefeitura informou que a equipe médica seguiu os protocolos necessários e que o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS), da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), foi acionado para conduzir o protocolo específico para possível picada de inseto não identificado.
Em nota, a secretária de Saúde do Município de Cairu, Janine Fonseca, explicou que o paciente foi transferido para Valença, porque é onde podia ser feito o tratamento. “Em relação ao Soro Antiaracnídico ou qualquer outro tipo de soro, eles ficam na Sede da Regional de Saúde em Gandu e nas Unidades Hospitalares de Referência. No caso do município de Cairu, esses soros são encaminhados para a Santa Casa de Misericórdia de Valença”, disse.
De lá, ele foi transferido para o Instituto do Coração (Incar), em Santo Antônio de Jesus, onde permaneceu internado por alguns dias. A morte foi confirmada no domingo (14). O Município de Cairu informou que equipes da Vigilância Sanitária (Visa), da Secretaria Municipal de Turismo e da Secretaria Municipal de Meio Ambiente realizarão uma varredura na área onde ocorreu o possível incidente para averiguar o ocorrido e verificar a presença de infestação de insetos ou aranhas.
Nas redes sociais, amigos lamentaram a morte do turista. "Há 15 dias tomamos café e ele contava com alegria em auxiliar no serviço de parto em mais de 70 crianças, aprendendo no estágio, e agradecia à Deus a oportunidade de trazer bebês à vida porque logo estaria se formando em medicina", escreveu um dos amigos.
As picadas de Loxosceles causam dor leve, seguidas por vermelhidão, bolhas e necrose. No caso dessa espécie, o veneno age lentamente, mas com outros animais peçonhentos o processo pode ser mais rápido, por isso, é importante buscar ajuda médica o mais rápido possível pelo Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), pelo Corpo de Bombeiros ou diretamente em uma unidade de saúde.
Outra alternativa é busca orientação através do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Bahia (CIATox), no telefone 0800 284 4343. A unidade reúne especialistas que orientam adequadamente sobre quais procedimentos a população deve adotar para conseguir a ajuda certa. O serviço funciona 24h.