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Conheça projeto baiano que restaura corais em Vera Cruz


 

Iniciativa da ONG Pró-Mar introduzirá 1,6 mil colônias em recifes da Baía de Todos os Santos

  • Millena Marques

Salvador
Publicado em 18/10/2024 às 18:50:47
Fazenda de corais na Baía de Todos os Santos. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

No filme Procurando Nemo, uma das animações mais queridas do cinema, o peixe-palhaço, protagonista da produção, mora dentro de uma anêmona-do-mar – animal que pertence ao grupo dos chamados cnidários. Fora das telas da ficção e a 40 minutos de Salvador, os corais, que pertencem ao mesmo grupo das anêmonas, assumem outro tipo de protagonismo: formam uma ‘fazenda’, com o objetivo de restaurar ambientes recifais, um dos mais ricos ecossistemas do planeta Terra.

A iniciativa se trata da Fazenda Marinha da Baía de Todos os Santos, localizada no município de Vera Cruz, em frente à Ilha de Itaparica. Organizado pelo Pró-Mar em parceira com a Petrobras, o programa, intitulado como Projeto Mares, foi instituído em janeiro de 2023 e já conseguiu desenvolver 1,6 mil colônias de coral, meta estabelecida pela parceria. Desse total, 300 já foram introduzidas nos recifes.

Mas, afinal, como é feita uma fazenda de coral? O CORREIO conferiu de perto a organização das chamadas sementeiras no mar nesta sexta-feira (18). O projeto é fiel ao nome que o define e possui 32 mesas, com cerca de 40 colônias de coral cada, espalhadas como pequenas plantações agrícolas – só que embaixo d’água e em uma estrutura de PVC. Os fragmentos de corais são amarrados em ‘sementeiras’, que são bloquinhos de substrato, formado de outros organismos marinhos que são formadores de esqueleto de carbonato de cálcio.

“Todo esse carbonato, que a gente coleta na areia de organismos que quebraram ou morreram, a gente reaproveita para devolver esse carbonato de cálcio para o oceano”, disse o coordenador científico do projeto, Lucas Lolis, biólogo e pesquisador de ecologia de espécies exóticas e invasoras e ecologia de ambientes recifais pela Universidade Federal da Bahia.

A espécie de coral do projeto é pertencente ao gênero Millepora, mais conhecida como coral-de-fogo. O motivo? A capacidade de atrair biodiversidade. “Ele parece uma árvore, né? Então, essa tridimensionalidade dele fornece abrigo para diversas espécies de crustáceos, de moluscos, de peixes, que desovam perto dele. Também é um coral que cresce bem e é bastante impactado com a questão das mudanças climáticas. Ele sofre muito com os efeitos da temperatura”, disse o fundador do Pró-Mar, o antigo pescador José Carlos Caldas, de 60 anos.

Coral de Fogo. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

O sofrimento com as mudanças climáticas, inclusive, é umas das principais dificuldades da fazenda. Isso porque o aquecimento e a elevação da temperatura da área causam o embranquecimento dos corais – um problema ecológico que pode causar a morte desses animais.

“Cada vez são eventos mais intensos. Então, a gente trabalha com alguns impactos locais. A gente tenta reduzir lixo, tentar conversar com pescadores para medidas menos destrutivas, evitar área de recife para lançar redes, evitar pesca com bombas...”, explicou Lolis.

Neste ano, o planeta teve o evento mais intenso do Atlântico Sul, com uma elevação média de 2°C a 3°C acima da temperatura normal, de fevereiro até início de maio. “Aqui, na Bahia, esse evento foi um pouco menos intenso, não causou uma mortalidade tão grande. Aqui, nas mesas de cultivos, 50% das colônias sofreram palidez, 10% sofreram branqueamento total e 40% não sofreram impacto”, disse. Apesar das implicações, todas as colônias do Projeto Mares se recuperaram.

A Pró-Mar é uma organização não-governamental (ONG), sediada em Vera Cruz e fundada há cerca de 25 anos. A equipe do projeto é composta por 16 pessoas, entre coordenadores, educadores ambientais, bolsistas e estagiários. Além de trabalhar com a restauração de corais, a iniciativa também organiza mutirões de limpeza na areia da praia e no mar e atividades de educação ambiental com escolas da região.

“A importância (de trabalhar com restauração de corais) é atração de biodiversidade. O que confere uma qualidade de um recife saudável é ter uma cobertura de coral. Quando não tem coral, tem pouca vida marinha. É recuperar o habitat, o eco, para os bichos começarem a voltar”, concluiu José Carlos Caldas.

Visitas

Qualquer pessoa pode visitar o Pró-Mar gratuitamente. Basta agendar pelo telefone do professor Geraldo Fonseca, coordenador de educação ambiental (71 98436-3468). Os agendamentos podem ser feitos de segunda a sexta-feira, entre 8h e 17h. As visitas acontecem nesse mesmo período. No entanto, o mergulho ainda não é externo – a ONG tem a previsão de abrir para o público no próximo verão.

Corais em Vera Cruz. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro