Conheça escultor de maior carranca do mundo que começou a esculpir para conquistar amor
Depois de passar dois anos sozinho em floresta, Flavio Motta voltou para cidade porque se apaixonou
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Emilly Oliveira
emilly.oliveira@redebahia.com.br
Se não fosse para conquistar a jovem que cruzou o seu caminho em uma vila de Juazeiro, o mestre carranqueiro juazeirense Flavio Motta, 66 anos, não faz ideia de quando teria deixado a temporada de dois anos vivendo na mata para se tornar o escultor da maior carranca do mundo.
Exaurido de assistir a família enfrentando dificuldades financeiras, Flávio saiu de casa aos 14 anos para morar sozinho na mata da Serra do Mulato, onde caçava para comer, coletava a própria água e dormia em cavernas. De vez em quando, deixava a mata para ir a um povoado próximo trocar o que caçava por munição.
Foi em uma dessas idas, já com 16 anos, que ele se apaixonou por uma jovem que saiu de São Paulo para passar férias em Juazeiro. Depois de passar mais três meses na mata planejando como conseguiria dinheiro para comprar roupas e sair com a moça, Flávio teve a ideia de esculpir uma carranca para vender.
“Eu só tinha a roupa do corpo, aí eu resolvi esmiuçar uma carranca. Já tinha noção [de como esculpir] tinha um machado e um facão. Esmiucei a carranca, depois coloquei em cima de um caminhão em uma estrada velha que estava pegando pedra para cal, que me trouxe até Juazeiro. Vendi a carranca para uma loja de artesanato, comprei roupa, fui atrás da menina e começamos um romance.
Maior carranca do mundo
A história durou pouco mais de um ano, até a jovem retornar para São Paulo. Depois dela, Flávio teve duas esposas e seis filhos. E não parou de se aventurar. Amante da natureza, ele passava uma temporada na Mata Atlântica quando a região enfrentou uma enchente que derrubou algumas árvores.
Flávio resgatou o tronco caído de uma dessas árvores e construiu a maior carranca do mundo, com cinco metros de altura, exatamente a medida do tronco que ele encontrou. Foi necessário um ano para finalizar a peça, que começou a ser esculpida em 2001 e ficou pronta em 2002.
Hoje a peça está exposta na Casa do Artesão, em Juazeiro. Depois de esculpi-lá, Flávio ganhou três prêmios por seu trabalho de preservação ambiental. A paixão pela natureza levou Flávio a adquirir três reservas ambientais, em Jaguaquara, Mata Atlântica, Juazeiro e Chapada Diamantina.
O carranqueiro também atua na defesa do meio ambiente e na redução da emissão de carbono. “Quando eu ganhei dinheiro comecei a comprar reservas. As pessoas me chamavam de maluco porque eu gastava dinheiro com mata, mas eu sempre estive muito conectado com a natureza”, afirma Flávio.
Depois de 50 anos como carranqueiro, Flávio lamenta que o ofício esteja se perdendo e, por isso, vem trabalhando em uma carranca nova, com o dobro do tamanho da atual maior do mundo. O objetivo dele é chamar atenção para a preservação do ofício de carranqueiro. “O apelo que eu faço é que tivesse mais o olhar das instituições para o nosso ofício”, declara Flávio