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Conheça a trabalhadora doméstica que ganhou título de Doutora pela Ufba


 

Creuza Maria de Oliveira, 65 anos, escreveu seu nome no livro do ineditismo

  • Emilly Oliveira

Publicado em 25/11/2023 às 07:00:00
Creuza Maria de Oliveira, 65 anos, escreveu seu nome no livro do ineditismo . Crédito: Ana Lucia Albuquerque/ CORREIO

Com uma trajetória de resistência e conquista na pauta do trabalho doméstico, a baiana Creuza Maria de Oliveira, 65 anos, escreveu o seu nome no livro do ineditismo ao se tornar a primeira trabalhadora doméstica do Brasil a receber o título de doutora honoris causa. Sem ter completado o ensino médio, o caminho que a levou até esse momento foi forjado com a conquista de direitos.

Em 1992, Creuza ajudou a fundar e foi a primeira presidente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia; foi uma das idealizadoras do Conjunto Habitacional 27 de abril, em Salvador, exclusivamente para as trabalhadoras domésticas baianas, inaugurado em 2012; e batalhou pela conquista da Pec das Domésticas, aprovada em 2013.

A trajetória da sindicalista no trabalho doméstico começou quando ela tinha 9 anos. Embora tenha nascido na capital baiana, como irmã de oito filhos, morava no município de Santo Amaro, e foi registrada lá, aos 15 anos, com o intuito de se matricular em uma escola de Salvador. O retorno à capital baiana aconteceu após a perda do pai dela, aos 5 anos, e da mãe, aos 12.

Em Salvador, Creuza continuou no trabalho doméstico e, aos poucos, engajou-se na luta pelos direitos da categoria, integrando-se a um grupo de pessoas que se reuniam para discutir os direitos dos trabalhadores domésticos, duas vezes por mês. Os termos "empregada doméstica" e "casas de família" eram constantemente questionados pela ativista.

Para ajudar a fundar o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia, em 1992, Creuza precisou ajudar a fundar, primeiro, a Associação das Empregadas Domésticas da Bahia. Na época, foi criada a associação porque a categoria ainda não era reconhecida. Portanto, não poderia ter um sindicato.

Só após a promulgação da Constituição Federal de 1988 foi garantido o direito da categoria como sindicado. Quatro anos depois, a ativista ajudou a fundar e foi a primeira presidente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia. Acontecimento que Creuza classifica como um marco.

“A Constituição de 88 foi um momento muito importante, porque antes nós não tínhamos salários, direito à folga, nem aos domingos, porque a lei não deixava claro. Além disso, eu estava começando na luta sindical”, afirma Creuza, que é ativista há cerca de 40 anos.

Hoje, já aposentada e sem filhos, Creuza é presidenta de honra da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad); secretária de Formação Sindical e de Estudos do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia (SINDOMÉSTICO/BA); e coordenadora-geral do Instituto 27 de Abril (IEC).

Doutora Honoris

Creuza recebeu o título da Universidade Federal da Bahia (UFBA) durante uma cerimônia realizada no Salão Nobre da Reitoria da UFBA, na última sexta-feira (24). O título foi outorgado por volta das 19h30, pelo reitor da UFBA, Paulo Miguez. Aplausos tomaram conta do ambiente, somado a cânticos e suspiros de admiração. Nessa hora, o Salão Nobre já estava lotado e Creuza não conseguiu conter a emoção.

Com outros títulos na estante, Creuza descreve o de doutora honoris causa como especial pelo reconhecimento vindo da academia. “É essencial que a academia reconheça a luta das trabalhadoras domésticas no Brasil e no mundo, especialmente no Brasil, que a luta começou na década de 30 e ainda nos resta muito a enfrentar”, afirma Creuza.

Premiação

Creuza recebeu, recentemente, o título de comendadora da Ordem Dois de Julho – Libertadores da Bahia. Além disso, a sindicalista recebeu o Prêmio Revista Cláudia, "Mulheres que fazem a diferença”, em 2003; o Prêmio Direitos Humanos, da Secretaria de Direitos Humanos do Governo Federal, em 2003 e em 2011, pela luta contra o trabalho infantil e por igualdade racial; e em 2005 recebeu a Ordem do Mérito do Trabalho no Grau de Cavaleira, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Foi indicada para o Prêmio 1.000 Mulheres para o Nobel da Paz em 2005; recebeu ainda o Troféu Raça Negra da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, no ano de 2013; e a homenagem "Mulheres Guerreiras", da Previdência Social. No Senado Federal, recebeu o Diploma Mulher-Cidadã Bertha Lutz, em 2015, dentre outras diversas honrarias.

Com orientação de Monique Lôbo