Conheça a história da baiana que venceu duas vezes o mieloma múltiplo
Servidora pública foi diagnosticada em 2020 e teve remissão da doença, após participar de pesquisa clínica no Hospital São Rafael
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
Por muito tempo, a rotina da servidora pública Márcia Rodrigues Araújo, 56 anos, contava com dedicação às tarefas domésticas pela manhã, expediente das 12h às 19h, e atividades físicas à noite. A partir de 2018, no entanto, tudo mudou. Foi naquele período que ela começou a sentir dores nas costas, algo que, a princípio, não assustou, visto que já tinha histórico de problemas na coluna. Só que a dor persistiu por pelo menos dois anos, e veio acompanhada de encurvamento da coluna, além de diversas crises. O ponto mais crítico se deu em setembro de 2020.
“No dia 29 de setembro, eu tive uma dor aguda na lombar quando me levantei pela manhã. Eu não aguentei, gritei de dor e senti que ia cair, daí me agarrei na parede. Chamei minha filha, que me socorreu e me ajudou a deitar na cama. [...] A dor piorou ao longo daquele dia e eu fui à emergência. O médico passou analgésico, e não melhorou. Quando ele passou morfina, a dor não cedeu. Foi quando eu disse: ‘tem algo errado aí”, narra Márcia.
Realmente havia algo errado, mas Márcia só veio descobrir isso dias depois. Na madrugada do dia 30 de setembro, o médico chegou a lhe dar alta, mesmo sob protestos dela e da filha. Resistente, em vez de ir para casa, a servidora pública pediu para ser internada novamente quando chegou à recepção. Por acaso, um médico residente em Ortopedia passava pelo local enquanto ela relatava o que estava sentindo à recepcionista.
“Ele disse que eu poderia voltar para a poltrona de observação e que ele mesmo me internaria. Assim foi. Por volta das 2h, foi admitida para a internação e, mais tarde, o residente foi junto com o médico ortopedista especialista, que solicitou a ressonância magnética e exames de sangue. No final da tarde, eles disseram que a ressonância tinha indicado múltiplas faturas em toda a extensão da coluna e que suspeitavam de doença no sangue”, conta.
A doença em questão era o mieloma múltiplo, um tipo raro de câncer no sangue, e o diagnóstico foi confirmado no dia 1º de outubro. Na sequência, Márcia descobriu que tinha lesões nos ossos que iam do pé até o crânio, de modo que não havia explicações médicas para o fato de ela estar viva. Por isso, o cuidado foi intenso dali em diante: ela foi proibida de se levantar, andar e se sentar, porque qualquer movimento poderia ocasionar a quebra de uma vértebra, o que pioraria a situação.
Início do tratamento
Por uma semana, a servidora pública ficou restrita ao leito do hospital, fazendo uso de um colete cervical. Foi quando a cmpreensão quanto a gravidade da doença veio. “Eu pensei que era o fim da minha jornada. Pedia a Deus que ele tivesse misericórdia de mim e me ajudasse a ver meu filho que estava fazendo Medicina se formar, e que eu pudesse ver minha filha, que estava com 19 anos na época, encaminhada na vida”, diz Márcia.
Na semana seguinte ao diagnóstico, a servidora começou a quimioterapia, que promoveu o controle das dores. Em fevereiro, ela fez o transplante autólogo – terapia que consiste no recebimento de medula óssea vinda do próprio paciente – e teve sucesso no tratamento. Como efeito colateral, passou 100 dias com uma dieta restrita, enquanto ainda fazia uso de terapia oral.
Segundo desafio
Em maio de 2023, o mieloma múltiplo voltou mais agressivo. Foi quando Márcia foi convidada a fazer parte de uma pesquisa clínica com bioespecíficos, um tipo de tratamento que combina medicações para combater o mieloma. Ela aceitou e passou a fazer o tratamento no Hospital São Rafael. Em menos de três meses, teve remissão total da doença.
“Foi muito bom ter entrado nessa pesquisa clínica pela eficácia da medicação. O líder da pesquisa, o médico Edvan Crusoé disse que eu estava no lugar certo e na hora certa. Eu tive uma resposta excelente e agora faz um ano e seis meses que dou continuidade ao tratamento”, relata.
Como efeito colateral, Márcia teve enfraquecimento do sistema imunológico, o que reativou o citomegalovírus no organismo. Como resultado, ela teve catapora em 2023, que foi tratada com a ajuda da farmacêutica, que também ajudou a custear a internação e o deslocamento da paciente nos dias de consulta. Neste ano, no fim de fevereiro, outro baque: Márcia foi diagnosticada com Covid-19.
Com todas as vacinas contra o coronavírus em dia, a servidora pública não teve complicações, mas precisou ficar internada por 35 dias até que o teste desse negativo para o vírus. Em maio, ela teve outra surpresa desagradável ao ser diagnosticada com herpes-zóster e, em junho, teve uma bronquite. Apesar de todos os problemas, Márcia quis dar continuidade ao tratamento do mieloma, que agora acontece a cada dois meses.
“Conviver com os impactos doença não é fácil por conta das limitações. Eu não posso pegar peso e preciso evitar o risco de fraturas e quedas. Alguns serviços domésticos que eu fazia antes do mieloma múltiplo já não consigo mais fazer, como estender a roupa no varal. Como eu perdi seis centímetros da minha estatura, não posso usar salto e é difícil dirigir. Mas, apesar disso, eu procuro ter uma vida normal. Afinal, é a minha nova etapa: com restrições, mas com vida”, finaliza.