Confira quais são as novidades do Dois de Julho deste ano
Lapinha está quase pronta para o início dos festejos
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Maysa Polcri
maysa.polcri@redebahia.com.br
Quando os primeiros raios de luz despontarem no horizonte no próximo domingo (2), o sol será mais brasileiro do que nunca no trajeto entre a Lapinha e o Campo Grande. No Pavilhão 2 de Julho, restauradores dão os últimos retoques nas carruagens, as grandes estrelas da festa e agentes da prefeitura finalizam a revitalização do largo. A comemoração do bicentenário da Independência do Brasil na Bahia ganhou feitos inéditos, como a separação das peças dos carros do Caboclo pela primeira vez e a inclusão de quatro cidades na passagem da chama simbólica.
Todo cuidado é pouco no trabalho de restauração dos carros que carregam as imagens do Caboclo e da Cabocla durante o cortejo da festa. As peças são feitas de madeira, o que dificulta a conservação, e mantém partes originais. Para se ter uma ideia, basta salientar que as rodas das carruagens são as mesmas utilizadas para carregar armamentos na batalha pela independência, em 1823.
Para comemorar os 200 anos da independência do território nacional, o carro mais antigo, do Caboclo, foi desmontado pela primeira vez. Isso garantiu uma restauração mais profunda, especialmente na imagem do dragão, que tinha marcas de cupim. A preservação da tradição passou pelas mãos de 15 pessoas e o trabalho durou pouco mais de três meses. Há 26 anos, o restaurador José Dirson Argolo é o responsável pelo restauro das peças.
“Antes, nós restaurávamos dentro do Pavilhão, mas como ele passou por reformas, transportamos as carruagens para o ateliê. Isso foi bom porque percebemos que as peças tinham avarias internas, como ataque de cupins e deslocamento de blocos de madeira”, explica Argolo. Outros monumentos que fazem referência ao Dois de Julho também foram reparados para a festa. Entre eles, o Panteão de Pirajá, o busto do general Labatut e o Monumento ao Dois de Julho, no Campo Grande.
O Pavilhão 2 de Julho, na Lapinha, também foi reformado e, a partir deste mês, ficará aberto para visitação. Ou seja, os caboclos não ficarão mais escondidos dos olhos do público e poderão ser contemplados durante todo o ano. A ideia é inserir o local, por onde as tropas vitoriosas entraram em 1823, na rota turística da cidade. Enquanto as equipes fazem os últimos ajustes, moradores aguardam ansiosos a chegada do domingo.
Expectativa
Aos 91 anos, Maria Menezes observa atentamente o trabalho das equipes que instalam a nova iluminação no Largo da Lapinha - uma extensão do seu quintal. Desde que a obra começou, há pouco mais de três meses, ela reza pelo cuidado dos trabalhadores, assim como reza para Catarina Paraguaçu, indígena tupinambá representada pela figura da Cabocla. Maria vive na região desde os 11 anos e, mesmo com as dificuldades de locomoção, deseja ver de perto o início do cortejo.
“Eu lembro de ver o desfile de longe pela primeira vez, quando tinha 11 anos. Mesmo com as dificuldades, quero ir até a praça ver as imagens de pertinho. Eu sempre rezo para Catarina”, diz Maria. Ao lado dela, Raymundo Marx, seu companheiro há mais de 60 anos, também acompanha os preparativos da porta de casa. “Eu sempre fui mais de ficar quietinho, ela que sempre gostou de ver o movimento de perto”, revela.
A independência da Bahia mexe com os sentimentos do povo ainda hoje, através das histórias passadas através de gerações. Na década de 80, Valdelice Almeida, 79, entrou na Igreja Nossa Senhora da Conceição da Lapinha vestida de noiva. Além da praça abrigar o local em que se casou, é espaço de lembrança dos anos em que assistiu o início dos cortejos na companhia da avó.
“Era uma tradição vir aqui com a minha avó para ver o início do cortejo. É uma data muito importante para nossa história, pena que muitas pessoas não dão a devida importância”, lamenta. Na tarde de quarta-feira (28), ela passeava pela Lapinha na companhia da sobrinha. As duas pretendem ver o desfile mais uma vez, no domingo.
Mesmo quem trabalha com a parte técnica dos preparativos não consegue deixar a emoção de lado. Para Cláudia Barbosa, restauradora que participa dos reparos das carruagens, toda a entrega vale a pena ao contemplar as imagens dos caboclos . “A gente se arrepia, todo ano é uma emoção e, dessa vez, ainda mais especial pelo bicentenário. Toda a equipe vem prestigiar no domingo, é uma festa nossa”, comemora.
Cidades do Recôncavo Norte participarão do desfile pela primeira vez
Outra novidade no cortejo deste ano é a inclusão de quatro cidades que receberão a passagem do fogo simbólico. Mata de São João, Dias D'Ávila, Camaçari e Lauro de Freitas participarão das comemorações do Dois de Julho pela primeira vez, depois de 50 anos. Uma chama simbólica passará pelas cidades e se encontrará, em Simões Filho, com o outro fogo que, tradicionalmente, sai de Cachoeira.
O fogo do Dois de Julho representa a união dos povos para a conquista da libertação da Bahia e do Brasil. Fazer parte da festa era um pleito antigo dos quatro municípios, que se mobilizaram através do Consórcio Intermunicipal do Recôncavo Norte.
A pesquisa sobre a participação das cidades, realizada pelo historiador Diego Copque, deu origem ao livro Presença do Recôncavo Norte da Bahia na Consolidação da Independência do Brasil, publicado em maio de 2022. O historiador Murilo Mello explica que as localidades contribuíram para o cerco das tropas portuguesas que se instalaram em Salvador. A medida fazia parte da estratégia de evitar a chegada de suprimentos para os invasores.
Na sexta-feira (30), às 7h30, haverá a saída do Fogo Simbólico do Recôncavo Leste, de Cachoeira, e, do Recôncavo Norte, de Mata de São João. Ambos se encontrarão no sábado (1), em Simões Filho, ao meio dia.
O projeto Bahia livre: 200 anos de independência é uma realização do jornal Correio com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.
*Com orientação de Monique Lôbo.