'Completamente expostos': moradores das imediações do presídio de Mata Escura relatam temor após fuga
Sete detentos, incluindo lideranças do BDM, fugiram no último sábado (21)
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Wendel de Novais
wendel.novais@redebahia.com.br
A fuga de sete detentos do Complexo Penitenciário Lemos Brito (PLB), em Mata Escura, no último sábado (21) levou temor a quem vive nas imediações do presídio. Os bandidos, que eram lideranças da facção Bonde do Maluco (BDM), fugiram por um matagal e entraram em carros que os esperavam na Avenida Gal Costa. No entanto, em diferentes áreas que estão próximas ao local, o sentimento é de medo. Uma moradora, que prefere não se identificar e tem residência próxima a entrada principal afirma não ter sossego, mesmo com a fuga acontecendo do outro lado do complexo.
“Nós estamos completamente expostos. Se eles saem do pavilhão lá, como conseguiram no sábado, não têm mais nada pela frente. Fugiram pela mata, mas você olha aqui na frente e vê que tem muro que não passa dos dois metros de altura. Isso não é nada para quem está fugindo. Quem consegue abrir um buraco na parede, vai pular esse muro em dois tempos”, fala ela, que tem medo de ter a residência invadida durante uma fuga.
Outro morador, que também não diz o nome por medo, afirma que o seu principal temor está na possibilidade de muitos escaparem de uma vez só. “Saíram sete, mas você consegue imaginar o que seria se, de repente, 100 conseguem escapar? Isso ia virar uma guerra e todo mundo que mora em Mata Escura estaria no meio”, fala ele. No pavilhão V, de acordo com informações da polícia, estão cerca de 500 detentos.
No domingo (22), em entrevista sobre a fuga, Julio, tenente-coronel da Polícia Militar e do Batalhão de Guarda, classificou a ação da polícia como ‘exitosa’ no momento em que os criminosos fugiram.
"Foi uma ação muito exitosa, não só sob ponto de vista da retirada de circulação desse material bélico, que estava sendo colocado contra nossa sociedade, mas também de impedir a fuga de vários presos. Estamos nesse exato momento em operação, na tentativa de localizar os sete internos que conseguiram fugir, como também em arrecadar na área de mata outros pertences e até material bélico que tenham sido deixados nessa estrutura de tentativa de invasão do complexo penitenciário de Mata Escura, acrescida com fuga de presos”, falou o tenente-coronel.
O Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado da Bahia (Sinspeb), no entanto, nega que tenha ocorrido uma tentativa de fuga em massa no sábado por conta da estratégia utilizada pelos criminosos e a forma como fugiram do local, passando por um buraco de 60 cm aberto em um sanitário. As condições estruturais do complexo é o que preocupa quem mora nas imediações. “Isso é um presídio que está caindo aos pedaços, não precisa ser especialista para ver. Está velho e aí que os bandidos aproveitam para conseguir escapar”, fala a primeira moradora.
Presidende do Sinspeb, Revion Pimentel concorda com as falas sobre a condição estrutural no local. "Eu entrei como agente penal há 16 anos e, desde que eu entrei, há uma cobrança para a construção de um muro de, no mínimo, cinco metros de altura. Um muro que separe os pavilhões do perímetro exterior. [...] Aqui tem uma placa para a construção do muro, que só agora ainda está em fase de licitação para a escolha da empresa. No entanto, quanto mais demora, mais estamos expostos a casos como esse", fala ele, lembrando uma outra fuga em 23 de setembro no mesmo complexo, quando três detentos escaparam em fuga.
A Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) foi procurada para responder quando o muro deve ser construído e a reportagem aguarda o posicionamento. O Ministério Público do Estado da Bahia (MPE-BA) também foi procurado e informou que "está acompanhando o caso e vai instaurar procedimento para apurar as circunstâncias da fuga, inclusive quanto a possíveis vulnerabilidades de segurança do Complexo Penitenciário e do seu perímetro e também as eventuais responsabilidades quanto ao fato".