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Com quem está caneta que não admite produções negras? Saiba o que dizem artistas no Liberatum


 

Viola Davis, Tais Araújo, Melanie Clark e  Julius Tennon integram debate

  • Emilly Oliveira

Publicado em 04/11/2023 às 05:00:00
Festival começou nesta sexta (03). Crédito: Paula Fróes

A quantidade de pessoas negras em espaços de poder pode ser inferior a de pessoas brancas em qualquer lugar do mundo, exceto no Liberatum. O palco do evento internacional é negro e evidencia falas de potências como a atriz norte-americana Viola Davis, o marido dela e produtor de cinema Julius Tennon, a atriz brasileira Taís Araújo, e a produtora de cinema norte-americana Melanie N. Clark.

Os quatro estiveram reunidos no painel “Contos da Afrodiáspora” na sexta-feira, primeiro dia do evento, que segue até o próximo domingo, no Centro de Convenções e na Praça Cairu, em Salvador. A diáspora se refere à dispersão de pessoas africanas dos países da África no período colonial. Entre os efeitos disso, figuram o apagamento da arte e cultura negra e a invalidação da sua intelectualidade.

Viola, que abriu a conversa, tratou primeiro de derrubar as barreiras inventadas pelo colonizador. “Eu conquistei uma audiência maior com a série ‘Como defender um assassino’, que foi divulgada em sete ou oito países. É aí que você percebe que tudo que te disseram sobre ser uma atriz negra é mentira. Essas coisas que você acha que não pode fazer, eu chamo de opressão internalizada”, afirmou a atriz, ao ser questionada sobre quando se percebeu como uma grande artista.

Viola Davis. Crédito: Paula Froes / CORREIO

Ao receber uma pergunta sobre como avalia a narrativa dada às pessoas negras nas produções artísticas brasileiras, Taís Araújo destacou a importância do jornalismo, da arte e da publicidade no combate ao racismo. Ela também convocou a plateia a refletir sobre o conteúdo consumido.

“Todas as narrativas [vindas da] publicidade, jornalismo e teledramaturgia são os grandes responsáveis pela imagem que o público brasileiro faz da população negra [...] Eu acredito que é hora de reconstruir esse imaginário e, sim [todas as áreas] têm essa responsabilidade, precisam ajudar a construir porque estão com a caneta e o dinheiro na mão. [Nós também] temos responsabilidade pelo que vamos ver, ler, ouvir e aplaudir”, destacou a atriz.

Após visitar 10 nações africanas e colaborar com diversos artistas e empreendedores de lá, a produtora de cinema norte-americana Melanie Clark refletiu sobre o porquê Hollywood rejeita a diáspora africana na maior parte das produções cinematográficas. Para ela, o mercado usa o racismo para mascarar a incapacidade de compreender a diversidade e agilidade do povo negro.

“Eles [a indústria cinematográfica] não entendem o poder da diáspora porque é algo amplo, diverso e ainda é guiado pelo poder contínuo dos ancestrais. É isso que os colonizadores fazem, eles tentam [nos] destruir, mas não conseguem. E é por isso que estamos aqui”, destacou Clark.

Além de encantar o público com a potência da fala dela, arrancou suspiros ao cumprimentá-lo em português. “Oi, pessoal da Bahia, tudo bem? Estou feliz de estar com vocês”, disse a produtora de cinema.

Quem também chamou atenção foi Julius Tennon. O produtor e marido de Viola Davis comparou a experiência de estar em Salvador com a alegria e conexão ancestral que sentiu ao visitar a África.

“Estar naquele solo com uma pessoa mais velha foi um sentimento muito profundo, igual ao de estar aqui com vocês. Posso dizer que foi algo avassalador, inesperado [...] Certa vez quando eu andava pelas ruas de lá, subitamente os ancestrais me tomaram e, sem nenhuma razão, eu comecei a chorar. Era uma sensação de pertencimento. Agora eu me emociono pensando nisso, assim como estou emocionado de olhar para os rostos lindos de vocês”, disse Julis, com os olhos marejados.

A palestra deles foi a terceira do dia. O evento foi aberto por apresentações artísticas. Já o primeiro painel foi comandado pela ministra da Cultura Margareth Menezes e Gil Alves. Debbie Harry, Majur e Rob Roth vieram em seguida. O último painel foi formado por Alton Mason, Hisan Silva, Pedro Batalha e a deputada federal Erika Hilton.

O festival Liberatum está na sua 15ª edição, mas é a primeira vez no Brasil. O evento é gratuito, mas já está com os ingressos esgotados. 

5 de novembro - Domingo

16h - Show na Praça Cayru com:

Honraria à Angela Bassett

Ground Zero Blues Club + Lazzo Matumbi

Afrossinfônica convida Luedji Luna e Psirico

Ilê Aiyê e convidados

Com orientação da subeditora Fernanda Varela