Com cemitério lotado e gritos por justiça, corpo de pastora Sara Mariano é sepultado
Sepultamento aconteceu no Cemitério Quinta dos Lázaros, em Salvador, na tarde desta segunda-feira (30); ladeira de acesso ao local ficou engarrafada
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
Na ladeira que dá acesso ao Cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas, um pequeno engarrafamento de veículos, na tarde desta segunda-feira (30), anunciava previamente a grande quantidade de pessoas que estavam reunidas para dizer o último adeus a cantora e pastora Sara de Freitas Souza Mariano, 35 anos, que foi encontrada morta e carbonizada na tarde da última sexta-feira (27), à beira da BA 093, na altura de Dias D’Ávila, na Região Metropolitana de Salvador.
Sob gritos por justiça, orações e aplausos, familiares, amigos e conhecidos carregaram o caixão com o corpo de Sara até o local do seu sepultamento. Antes, o velório mobilizou e emocionou todos os presentes, que expressaram revolta e tristeza pela morte da pastora, e pediram pela condenação do marido e produtor Ederlan Mariano, que confessou à Polícia Civil ter sido o mandante do crime que vitimou a esposa.
Vinda do Maranhão para fazer o reconhecimento do corpo da filha na manhã desta segunda-feira, Dolores Correia foi amparada a todo tempo pela família. Sem se separar do caixão até o momento do sepultamento, ela deixou que suas últimas palavras diante dele fossem direcionadas ao céu e, só depois, à multidão ao seu redor.
"Só está aqui o corpo, eu sei, mas eu creio que ela estava [aqui]. Eu não tenho mais nenhum argumento para falar. Eu só tenho a dizer que Deus está com todos nós, nos dando força. Se não fosse Deus, eu não estaria aqui, meus irmãos. Eu estou muito triste", declarou.
Em Salvador desde domingo (29), quando chegou do Ceará, Soraia Correia, irmã de Sara, estava tão abalada que chegou a desmaiar no cemitério, segundo relato de amigos. À reportagem, ela também entoou os pedidos por justiça. "A justiça vai ser feita e a justiça de Deus já está sendo feita. Nós vamos conseguir fazer justiça pela minha irmã. Meu desejo agora é ter minha sobrinha do meu lado com a minha mãe", afirmou.
A filha de Sara e Ederlan, de 11 anos, está sob guarda dos avós paternos. Segundo Dolores Correia, já houve tentativa de contato com eles no intuito de negociar a tutela da menina, mas sem sucesso. A família de Sara também tentou levar a criança para se despedir da mãe, mas não conseguiu liberação dos avós.
Desolada com a situação, Dolores disse que vai lutar pela guarda da neta e guiá-la pelo caminho religioso, como a mãe. "Se a minha neta estiver nas minhas mãos, ela vai ser criada com Jesus Cristo. Ela vai ser uma grande missionária do Senhor. Era minha expectativa que ela estivesse nessa despedida, mas a mãe daquele malfeitor, que é outra malfeitora, não deixou", ressaltou.
Além da família, amigos e membros de igrejas evangélicas prestaram homenagens a Sara. Pastora na igreja que ela frequentava na Estrada das Barreiras, há cerca de sete anos, Luciene Silva, 56 anos, lembrou com carinho da amiga que fez na vida religiosa.
"Ela lançou o CD dela lá na nossa igreja. Ela gostava muito de cantar, era muito feliz, se dava bem e conversava com todo mundo, sempre muito alegre. O carinho que ela tinha pela filha dela era enorme. Era muito querida. Recebi a morte dela e fiquei muito triste, até agora estou sem acreditar", disse.
Outras mulheres de igrejas evangélicas aproveitaram a oportunidade para levar cartazes pedindo o fim da violência doméstica contra a mulher e enfatizando a necessidade de o assunto ser levado às igrejas. "A morte dela veio em outubro, mês em que existe uma campanha voltada para o cuidado da mulher. Isso não é ao acaso. É para mostrar que esse assunto precisa ser levado para as igrejas. Ela teve ajuda de muita gente para sair dessa relação, mas acreditava que o marido ia mudar. Ela orou, mas o monstro que existia nele falou mais alto. A gente, enquanto mulher, não pode aceitar isso", protestou uma das integrantes da igreja frequentada por Sara, que preferiu não revelar sua identidade.
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela