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Circo Picolino realiza oficinas para crianças e jovens em dia repleto de boas memórias


 

Projeto A Praça do Circo aconteceu neste domingo (11)

  • Larissa Almeida

Publicado em 11/08/2024 às 21:13:52
Circo Picolino promove oficinas para crianças e jovens. Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

A mescla da arte de fazer rir com a formação de palhaços e malabaristas inspirou a ideia de criação de uma escola circense, batizada de Circo Picolino, em 1985. O que surgiu de maneira modesta, passou a ser considerado o mais tradicional picadeiro de Salvador. Circo que segue vivo 39 anos depois e que, em clima comemorativo, abrigou neste domingo (11) alguns dos mais célebres artistas da sua história durante A Praça do Circo, evento que busca dar visibilidade a artistas e trabalhadores das artes do bairro de Pituaçu.

A festividade teve início com a realização de oficinas voltadas para o público infanto-juvenil. A primeira delas contou com instrutores que ensinaram os pequenos a confeccionarem pipas. O menino Davi Fernandes, de sete anos, foi levado pela mãe Daniele Fernandes, que disse que o evento acabou sendo uma grata surpresa. "Ele estava querendo muito fazer uma pipa e eu não sabia ensinar, então fiquei sabendo pelas redes sociais que ia ter a oficina e achei muito interessante, ainda mais por conta do Dia dos Pais, que calhou de ser uma programação bem diversificada", afirmou.

Por volta das 15h30, a alegria da criançada ficou garantida com a oficina de acrobacia e equilibrismo. Enquanto a pequena Mariana Dias, de seis anos, se aventurava em tentar se manter de pé sobre a palma das mãos do instrutor de equilibrismo, a mãe Maria Cândida Dias, 42 anos, vibrava a cada acerto da filha. "Eu não sabia que teria essas oficinas e está sendo muito prazeroso para mim, mas com certeza mais ainda para ela que está se divertindo. É um momento de descobertas e aprendizado, de conhecer as habilidades que eu não sabia que ela tinha. Daqui por diante, podemos até investir em projetos futuros para ela desenvolver isso. Essa oportunidade está sendo única", pontuou.

Da plateia, quem também assistiu às crianças se divertirem foi Fábio Bonfim, acrobata de 43 anos que foi aluno e professor do Picolino por 27 anos. "Eu ingressei no Picolino em 1994 como aluno do Projeto Axé, depois me formei como instrutor e posteriormente como professor. Eu vivia isso aqui grande parte do meu dia, respirava esse espaço. Até hoje, respiro o circo, que é a arte que me formou como educador físico. É difícil esquecer a importância do circo e do Picolino na minha vida. É algo que marcou e vai ficar aí para sempre", disse, contemplativo.

Outro que trouxe memória antigas do circo foi Pé de Ferro, equilibrista que esteve presente no dia de inauguração do Picolino. Aos 84 anos, ele contou que foi aquele espaço que abriu as portas para que ele rodasse o mundo com seu monociclo. "Anselmo e Verônica, os fundadores do circo, foram me buscar em Camaçari porque eu já trabalhava com equilíbrio de monociclo. Fomos logo para a Biblioteca Central e veio um convite para irmos para França", relatou.

"Os pais pagaram o ingresso para as crianças, e Anselmo e Verônica conseguiram pagar a minha. Então, nós fomos lá para tomar conta de 14 crianças, em 1988. Foi a primeira vez que saí do país. No total, fiquei aqui cinco anos, mas toda vez que falam de circo ou escola, lembro do Picolino. Era a maior alegria quando eu me apresentava aqui", completou.

A reunião dessas memórias não se deu ao acaso. É que, além da promoção das atividades abertas ao público, esta edição do evento A Praça do Circo foi o palco das filmagens do documentário "Picolino - O Circo", que vai abordar os 40 anos da história do circo. "É uma alegria muito grande o evento de hoje porque esse projeto foi contemplado dentro do edital Territórios Criativos, assim como as filmagens do documentário, que é resultado do edital SalCine. Duplamente, a FGM celebra junto com o Picolino ações de fomento importantes que levam o circo para o público", destacou George Vladimir, gerente de promoção cultural da Fundação Gregório de Matos (FGM).

Flashs da história

Dispostas em uma mesa próxima ao picadeiro, arquivos da história do Picolino ficaram ao alcance do público que marcou presença no evento. Ao lado do espaço, como a guardiã que é, Verônica Tamaoki, mulher que fundou o circo junto com seu falecido marido, Anselmo Serrat, relembrou o começo de tudo.

Ela contou que, após se formar na primeira escola de circo do Brasil – a Academia Piolin de Artes Circenses –, em São Paulo, se mudou para Salvador com Anselmo em 1984. Na capital baiana, o casal se apaixonou pelo Circo Troca de Segredos e decidiu criar a própria escola circense.

"Nascemos bem modestos e jamais imaginaríamos que o circo chegaria a quase 40 anos e teria relação com tantas pessoas e projetos. Fomos pioneiros aqui de um movimento que estava acontecendo no mundo inteiro. Em 1990, começa a acontecer o que depois vem a se chamar de circo social, que é o que já fazíamos", pontuou.

Na época da fundação do circo, o Mestre Cobra Mansa, conhecido no mundo circense como Cobrinha, foi um dos artistas que ajudou a erguer a primeira lona do espaço em meio a um temporal. Durante os mais de 15 anos que se dedicou ao Picolino, ele também testemunhou a formação de jovens de todas as idades e classes. "Eu era acrobata e ensinava a molecada a dar mortal. Fazíamos coisas lindas como trampolim, malabares e acrobacias. Tínhamos alunos que iam desde o burguês até os que viviam nas periferias. No circo, eles tinham que conviver e aprenderem a construir juntos. Era demais", definiu.

Nova lona

Assim como foi erguida durante um temporal, a lona do Picolino se partiu durante as chuvas do mês de abril deste ano. A partir desta segunda-feira (12), no entanto, o espaço vai contar com a maior lona da sua história, que terá o formato de um chapéu de bruxa.

"Um circo de São Paulo, chamado Circo dos Sonhos, doou essa lona para a gente em respeito ao desejo de Seu Luís, que tinha prometido essa lona. Ele faleceu no meio desse tempo, mas a família respeitou o desejo e mandou esse presente para a gente. Esperamos que essa nova lona traga força e vida para esse local de trabalho", finalizou Luana Serrat, filha dos fundadores.

*Com orientação da subeditora Monique Lôbo