'Cidade perdida' na Bahia terá leilão de área com 245 milhões de toneladas de diamantíferos
Vila no interior baiano tem cerca de 350 moradores
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Maysa Polcri
maysa.polcri@redebahia.com.br
Os paredões de pedra e os sobrados coloridos dão a impressão de que é uma cidade cenográfica. Mas o cenário é localizado na Chapada Diamantina, no interior da Bahia. Trata-se de Santo Inácio, vila de cerca de 350 moradores do município Gentio do Ouro, conhecida como 'cidade perdida'. Lá, um depósito de diamantíferos, com volume estimado em 245 milhões de toneladas, será leiloado no dia 27 deste mês.
O certame é organizado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME). Esta será a segunda tentativa de leiloar a área em menos de seis meses. No dia 4 de junho deste ano, uma sessão pública foi aberta, mas nenhum interessado se cadastrou.
O SGB estima investimentos de R$ 5 milhões em pesquisas e cerca de 245 milhões de toneladas de cascalho diamantífero. O depósito diamantífero é a área onde se concentram diamantes.
Os interessados podem ser empresas brasileiras ou estrangeiras, entidades de previdência complementar e fundos de investimento, isoladamente ou em consórcio. O certame será formalizado por meio de contrato de Promessa de Cessão de Direitos Minerários, a ser assinado após o leilão. O evento acontecerá a partir das 9 horas, em Brasília.
Projeto antigo
Transformar a pacata vila de Santo Inácio em um polo de exploração de minerais é um desejo antigo do governo brasileiro. Entre 1985 e 1989, o projeto Diamante de Santo Inácio, do Serviço Geológico Brasileiro, mapeou a região. Foram realizadas sondagens de 7,8 quilômetros de profundidade, abertura de 22 poços de pesquisa e remoção de 3 mil m³ de material. Segundo o SGB, naquele período foram extraídas 279 pedras, dentre gemas, diamantes industriais e carbonados.
Apesar do potencial econômico, os moradores da região dificilmente enriquecem com a extração dos diamantes de Santo Inácio atualmente. É o que conta Oscar Guedes, que foi secretário de Turismo de Gentio do Ouro até 2018. "No século XIX, foram descobertos diamantes na cidade, mas a extração era melhor de ser realizada em Lençóis, que se desenvolveu mais. Em Santo Inácio, no passado, as pessoas enriqueciam com os diamantes, mas hoje é raro", explica. Segundo ele, não há empresas atuando na região.
O Censo 2022 revelou que o município de Gentio do Ouro tem 10.884 habitantes. A cidade é pouco povoada, com taxa de 2,85 habitantes por quilômetro quadrado. Em Salvador, cidade mais populosa da Bahia, a densidade demográfica é de 3,4 mil moradores. O salário médio dos moradores de Gentio do Ouro é de 1,8 salário-mínimo, e a taxa da população ocupada é de 7,28%.
Para o diretor de Geologia e Recursos Minerais do SGB, Valdir Silveira, o leilão representa uma oportunidade promissora de negócio. “Situado em uma região com histórico de produção diamantífera, o projeto agrega valor ao território por meio da avaliação detalhada do depósito, regulamentação adequada e parcerias estratégicas voltadas para atrair investimentos iniciais”, defende.
Cidade perdida
Mas, afinal, o que faz Santo Inácio ser conhecida como 'cidade perdida'? Moradores e pesquisadores acreditam que a vila é a cidade Z, descoberta pelo pesquisador britânico Percy Fawcett, em cuja história se baseia o filme The Lost City of Z (Z: A Cidade Perdida), com cenas gravadas na Colômbia e na Irlanda do Norte.
Oscar Guedes, ex-secretário de Gentio do Ouro, é um dos que levantam essa bandeira. Segundo ele, as semelhanças entre os documentos de Percy Fawcett vão desde a estrutura de pedras até a fauna da região. "São informações como a localização ser do outro lado do rio, o tempo para chegar montado a cavalo, entre outras coisas. As observações são diversas", diz Guedes.