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Churrascaria em Salvador é acusada de servir comida estragada, gerente nega


 

Chef de cozinha realizou a denúncia pelas redes sociais e gerente informou que a mulher não chegou a consumir o alimento

  • Da Redação

Salvador
Publicado em 24/11/2023 às 20:01:27
Peças de sushi do buffet. Crédito: Arquivo pessoal

Com reserva feita há dez dias para o almoço de aniversário do filho mais velho, a chef de cozinha Emanuele Nascimento foi até a churrascaria Sal e Brasa às 12h17 desta sexta-feira (24). Ao chegar ao estabelecimento e ser guiada até a mesa, a chef acompanhou a filha de nove anos até o buffet de sushi, onde constatou que o “sashimi estava com água, já ressecado e tinham outros pratos ressecados”.

Emanuele buscou algumas peças que não estavam com aparência estragada e colocou no prato da filha, que apenas come japonês, para que pudesse chamar o maitre. “Chamei ele num canto e me apresentei antes de dizer que sou profissional de cozinha. Queria te mostrar, vem aqui, aí chamei ele, não tinha ninguém nesse momento no Sal e Brasa, e mostrei. Eu falei assim, olha, o peixe está com água, a temperatura aqui está quente, está ressecado e isso é um risco alimentar grave. A minha intenção era que a cozinha fizesse uma troca. Aí ele me disse que eu estava com um problema e que, por conta disso, eu não poderia comer lá”, relatou a chef.

Enquanto a chef discutia com o maitre, sua filha comeu algumas das peças de sushi e ficou se sentindo estufada, mas está sob observação da mãe. “Qualquer alteração vou levar para o hospital e vou obviamente solicitar exame porque numa situação dessas eu vou recorrer judicialmente e já estou em contato com o escritório de advocacia. Vou recorrer porque eu trabalho com comida então quando todos os restaurantes trabalham direito é bom para todo mundo, você tira o medo das pessoas do consumo e melhora para todos”, contou.

A família de Emanuele foi retirada da churrascaria duas vezes. Na primeira vez foi após ameaçar ao maitre que iria denunciar o espaço na vigilância sanitária, mas o homem afirmou que a denúncia não significaria nada e a família foi informada de que não poderiam mais comer no local e, caso permanecessem, não seriam servidos. A menina de nove anos possui Transtorno do Espectro Autista (TEA) e ao ver a situação chorou sem entender o que estava acontecendo.

Ainda segundo o relato de Emanuele, o segurança tentou apaziguar a discussão entre o maitre e ela, que já estava aborrecida pelos planos do aniversário do filho terem sido estragados. A chef ameaçou fazer as denúncias cabíveis e se separou da família para fazer ligações, onde registrou a denúncia na vigilância sanitária e conversou com amigos da polícia.

A família foi convencida a retornar à churrascaria enquanto as ligações eram feitas. Eles voltaram à mesa, mas foram recebidos pelo maitre que reiterou a informação de que a família não seria servida e assim se retiraram do Sal e Brasa.

Nas redes sociais, a chef denunciou o ocorrido com um vídeo ainda na churrascaria, onde afirma que realizou as denúncias nas autoridades cabíveis. Em conversa com a reportagem, Emanuele confirmou que aguarda o amigo delegado para realizar o boletim de ocorrência na 39ª Delegacia, a mais próxima do restaurante e irá realizar o registro ao lado do advogado neste sábado (25).

Com o uso do serviço de manobrista, Emanuele confirmou a hora que chegaram ao local e o horário em que saíram. A permanência deles no local foi de 25 minutos. No estacionamento eles foram informados de que aquele tipo de situação é comum, quando alguém reclama de algo no Sal e Brasa é convidado a se retirar do ambiente.

Emanuele registrou com o celular um vídeo do buffet de sushi, além de fotos de alguns pratos. “Não tem como ter comprovação biológica e nem de cheiro, porque esse é um tipo de registro que não dá. Eu me centrei nos pratos que visivelmente, que mesmo para uma pessoa leiga, mostraria que tá oxidado, que tá velho, que não faz sentido porque não foi tarde. É uma situação inacreditável”, relata.

Nas redes sociais, outros usuários relataram também ter passado por situações parecidas. Uma usuária marcou outra e comentou: “Olha isso! Igual no dia do seu noivado que de 20 pessoas, 16 ficaram doentes e eles ainda alegaram que não foi a comida deles”.

Outro usuário digitou: “Também já encontrei comida estragada no @salebrasa.salvador horrível”.

A Vigilância Sanitária foi acionada e a denúncia está protocolada, mas a comprovação será realizada pelos agentes apenas na próxima semana, a partir da segunda-feira (27).

A churrascaria Sal e Brasa foi procurada pela reportagem em três contatos diferentes ao longo da tarde e recebeu retorno apenas à noite, onde uma nota foi enviada após o gerente do restaurante, Paulo Nunes, ligar para a reportagem.

"Eu fui para a delegacia abrir uma ocorrência, porque fez um escândalo na churrascaria e ela nem se serviu do alimento. A gente tinha até ainda acabado de montar, então a gente não trabalha, como você falou, com comida estragada. Essa pessoa vai ter de ser punida pelo ato porque ela não se serviu do produto. Ela chegou, fez o escando na empresa até no momento, achei que era uma pessoa especial, com um problema, mas depois vi que não, era uma armação. Então, foi feita a ocorrência e tá com o advogado", disse Paulo Nunes ao telefone.

Em nota, a churrascaria Sal e Brasa informou que as preparações são produzidas diariamente, sob controle de qualidade, armazenamento e distribuição de acordo com as normas determinadas pela Anvisa.

“Todos os procedimentos adequados para as preparações em buffet, assim como a exposição, estão em total conformidade com a vigilância sanitária, e demais órgãos competentes, até porque a empresa detém alvará de saúde emitido pela Vigilância Sanitária, atestando o nosso cumprimento e adequação às normas”, relatou o advogado Alex Burgos Santana, representante da churrascaria.

Ainda em nota foi relatado que testes são realizados periodicamente por laboratório e retornaram dentro da normalidade. "Medidas judiciais pelo crime de denunciação caluniosa serão tomadas pelo estabelecimento" contra a denunciante, garantiu o advogado.

*Com orientação da subeditora Monique Lôbo