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Centro Histórico tem 38% dos domicílios vagos em Salvador


 

Cidade tem tinha 77.945 imóveis que poderiam ser ocupados por quem precisava de moradia em 2022

  • Larissa Almeida

Publicado em 15/11/2024 às 09:32:34
Centro Histórico de Salvador. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Em meio ao movimento turístico e as manifestações culturais, o Centro Histórico de Salvador abriga grandes casarões que não participam da vivacidade e do fervor do bairro que é o coração da cidade. Entre imóveis abandonados ou mesmo em ruínas, há aproximadamente 29,6 mil domicílios vagos, isto é, habitações que poderiam ser ocupadas por pessoas que precisam de residência. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número corresponde a 38% dos domicílios vagos em Salvador – o total, segundo o Censo Demográfico 2022, corresponde a 77.945 imóveis.

Mariana Viveiros, supervisora de Disseminação de Informações do IBGE, destaca que a quantidade de domicílios vagos no Centro Histórico não é um problema exclusivo da capital baiana. Segundo ela, grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Belo Horizonte, viveram o mesmo processo de perda de população nessa região e, atualmente, também passam por uma mudança de perfil.

“Já tem um tempo que o Centro Histórico vem se tornando menos um bairro domiciliar e mais um bairro de serviços. Talvez estejamos vivendo ainda essa transição. Os domicílios vagos podem, eventualmente, ter outros usos, mas esse é um desafio. Isso porque, por outro lado, Salvador tem pessoas que às vezes precisam invadir um lugar para ter onde morar”, aponta Mariana.

O processo de perda populacional do Centro de Salvador data de pelo menos cinco décadas. Um marco fundamental para essa mudança foi a criação do Centro Administrativo da Bahia (CAB), em 1972, que desencadeou a migração de aproximadamente 50 mil funcionários, que atuavam no bairro Comércio, para o novo endereço.

“A partir desse processo, houve uma mudança das estruturas do Comércio, que tinha edifícios importantes até mesmo em termos arquitetônicos. No entanto, o que era importante ali passa a ser transferido para a nova centralidade, que hoje é a região do Iguatemi e do CAB. A decadência daquele antigo centro, então, foi imediata”, afirma Clímaco Dias, geógrafo e professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Décadas depois do processo de transferência das atividades administrativas, o Centro Histórico passou por outra grande intervenção ao ser objeto de interesse do comércio – mas do ramo quase predominantemente turístico. Para o geógrafo Clímaco Dias, a prova mais concreta disso é o exemplo do Pelourinho.

“Lá, a ação do estado faz um modelo em que comerciantes ocupam a região, mas não há possibilidade de muito sucesso na recuperação de espaços do Centro Histórico com ocupação de comerciantes”, defende o especialista, que acredita que a atividade comercial massiva afasta os habitantes.

Para ajudar a minimizar o déficit habitacional no Centro Histórico, a Prefeitura Municipal, em parceria com Fundação Mário Leal (FML), está avançando em dois projetos de habitação que vão gerar até 600 moradias nas áreas do Pilar e do Corpo Santo. Conforme afirma Tânia Scofield, presidente da FMF, os dados referentes aos domicílios vagos na região vão ajudar a aprimorar o planejamento. “É uma informação importante para checarmos e compararmos com o nosso próprio levantamento na área do Comércio”, diz.

Na área do Pilar, que compreende o espaço entre a Igreja do Pilar e o Mercado do Taboão, está previsto um projeto de habitação social para contemplar quem já mora no Centro Histórico, quem está em situação de risco ou de precariedade. A proposta já recebeu R$ 800 mil do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphn) para criação do projeto, que deverá ser licitado até janeiro de 2026. A previsão é de que ele seja concluído no segundo semestre de 2025 e venha a ser contemplado por recursos do Governo Federal para a realização das obras.

Já na área do Corpo Santo, que vai desde a Igreja do Corpo Santo até o Plano Inclinado Gonçalves, o projeto previsto é o de habitação acessível, que terá imóveis para quem estiver na faixa de renda de três a sete salários-mínimos. Essa iniciativa contará com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para o projeto e para a obra. A previsão é de que o fechamento do contrato ocorra em junho de 2025.