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Cartão-postal ameaçado: comerciantes relatam insegurança no entorno do Mercado Modelo


 

Trabalhadores e frequentadores do Centro Histórico estão apreensivos

  • Gil Santos

Publicado em 26/09/2024 às 05:15:00
PM instala base móvel em frente ao Mercado Modelo. Crédito: Paula Fróes/ CORREIO

Um dia após duas pessoas serem baleadas e outra ficar ferida durante uma tentativa de assalto em frente ao Mercado Modelo, que é um dos principais cartões-postais de Salvador, comerciantes, turistas e trabalhadores disseram que estão assustados e cobraram ações mais efetivas na segurança pública - área de responsabilidade do governo do Estado. O crime suspendeu o funcionamento da Galeria do Mercado nesta quarta-feira (25).

Segundo testemunhas, um homem com uma faca tentou roubar um casal que caminhava nas imediações do Mercado Modelo, mas uma das vítimas estava armada e reagiu, o que deu início à confusão. No final, o suspeito foi baleado, um trabalhador terceirizado da Galeria foi atingido de raspão e uma bombeira civil da Galeria machucou a cabeça e o punho ao cair durante o tumulto. Um vendedor de água, que pediu para não ser identificado, contou que a praça estava cheia e que houve correria.

"Eu ouvi o barulho dos disparos e, quando levantei a cabeça, vi uma multidão correndo em minha direção. Ouvi os gritos e vi algumas pessoas caindo enquanto corriam. A maioria foi para dentro do mercado, eu também, peguei o balde e saí correndo. O bandido é conhecido, já roubou por aqui antes", contou o homem.

Nesta quarta-feira, uma viatura e duas bases móveis da Polícia Militar ficaram de plantão na Praça Visconde de Cayru, entre o Mercado Modelo e o Elevador Lacerda, enquanto outras duas viaturas da PM e uma equipe da Guarda Civil Municipal ficaram entre o Mercado e o Terminal Náutico. O movimento seguiu a rotina, rodas de capoeira foram improvisadas, agentes orientaram visitantes e guias ofereceram serviços.

Os trabalhadores têm medo de comentar sobre o caso, mas disseram que sentiram o impacto da violência nas vendas, porque o movimento estava mais fraco do que o normal. Um comerciante, que pediu para não ser identificado, contou que os assaltantes são sempre as mesmas pessoas, usuários de drogas que circulam pela região, e que os trabalhadores vivem acuados.

"Quando a gente reclama, eles ameaçam, ficam agressivos e esse comportamento afugenta os clientes. A violência nessa região está muito relacionada com o tráfico e o uso de drogas. É lamentável que uma região que é considerada a cara da cidade sofra tanto com a falta de segurança pública", afirmou o homem.

Turistas que estiveram no Comércio tentaram visitar a Galeria, mas encontraram as portas fechadas. O local será reaberto nesta quinta-feira (26). O casal de paulistas Daniel Sena e Fernanda Sampaio, ambos de 36 anos, estão visitando Salvador pela primeira vez e contaram que ficaram assustados com a notícia. A Galeria do Mercado está na programação de pontos turísticos que eles pretendem visitar antes de ir embora. A mulher contou que ficou apreensiva.

"Infelizmente, a violência está em todo o Brasil, mas sempre que ocorre em uma região turística é um alerta de que as coisas estão complicadas, já que esses locais costumam ter policiamento reforçado e que nem mesmo assim os bandidos se sentiram intimidados. A gente tinha acabado de voltar para o hotel quando vimos as notícias. Soube que um funcionário ficou ferido, espero que ele se recupere bem", afirmou Fernanda.

A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) informou que os dois funcionários foram atendidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e que já estão em casa. O comerciante José Iglesias, 61 anos, trabalha há 30 anos no Centro Histórico e contou que está tendo despesas extras com segurança particular e transporte para os funcionários.

"Ontem [terça-feira], um casal desistiu da reserva que tinha feito no restaurante, porque quando desceram do carro com a família foram cercados por quatro dependentes químicos. Estou pagando um segurança para ficar na porta e carro de aplicativo para levar os funcionários para casa, porque é arriscado eles saírem daqui à noite", explicou.

Comerciantes frisaram que a região está mais bem policiada, mas que existe um problema social que reflete na insegurança do local e cobraram ações mais efetivas do poder público. Eles explicaram que sem clientes, o faturamento cai, o desemprego aumenta e a cidade arrecada menos impostos. O presidente da Associação do Centro Histórico Empreendedor (Ache), Leonardo Régis, lamentou o ocorrido e contou que comerciantes têm investido em câmeras e segurança privada.

"A gente lamenta, porque quando acontece algo assim é muito ruim para a imagem da cidade, e o turismo está relacionado com o desenvolvimento econômico e a geração de emprego e renda. Tivemos uma melhora na segurança do Centro Histórico, a região está mais bem organizada, mas é preciso encontrar uma solução para esses problemas”, disse.

O Mercado Modelo tem 256 permissionários, são cerca de 500 trabalhadores. O local funciona das 9h às 18h, de segunda-feira à sábado, e das 9h às 14h, nos domingos e feriados. Procurada, a Associação dos Comerciantes do Mercado Modelo (Ascomm) preferiu não comentar sobre a insegurança no bairro.

Segurança

Em nota, a Polícia Militar informou que o policiamento na região é realizado pela 16ª CIPM (Comércio), com o apoio de equipes da CIPT/Rondesp BTS, do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur) e de unidades convencionais e especializadas da Polícia Militar.

"A PM ressalta a importância do acionamento pelos canais institucionais, como o 190, sempre que o cidadão se depare com algo que fuja à normalidade. Viaturas são imediatamente encaminhadas para a averiguação das denúncias e o sigilo da fonte é garantido", diz a nota.

A Guarda Civil Municipal (GCM), que tem sede no Centro Histórico, disse, em nota, que atua diariamente na região com dezenas de agentes, realizando patrulhamento intensivo por meio de viaturas, motos e patrulhamento a pé, o que já possibilitou uma redução de cerca de 18,5% das ocorrências em todo o Centro Histórico, entre abril de 2023 e julho de 2024, período em que foi criado o Distrito Cultural.

"A presença dos agentes é constante também nos equipamentos públicos que fazem a ligação entre as cidades altas e baixas, garantindo a segurança da população e dos visitantes. A GCM reforça que está comprometida em melhorar ainda mais a sensação de segurança dos comerciantes e visitantes do Centro Histórico e continuará trabalhando em parceria com outras instituições para enfrentar esses desafios", diz.

A Polícia Civil informou que 3ª Delegacia (Bonfim) está investigando o caso, que diligências estão sendo realizadas e pessoas estão sendo ouvidas. A autoria e a motivação do crime estão sendo apuradas.