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‘Cansado de comprar e perder tudo’: moradores contabilizam prejuízos após chuvas intensas em Salvador


 

Choveu um terço do esperado para o mês em menos de 24 horas

  • Maysa Polcri

Publicado em 02/04/2024 às 18:00:40
O comércio de Carlos Roberto foi invadido pela água, no Vale das Pedrinhas. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A terça-feira (2) começou caótica em Salvador por conta das chuvas intensas da madrugada. Em Ondina, foram registrados 106,8 milímetros - um terço do esperado para todo o mês de abril. O aumento do nível de um córrego causou alagamentos no Vale das Pedrinhas, onde moradores perderam móveis e tiveram transtornos. Já no Chame-Chame, um ônibus derrapou, assustou passageiros e danificou três veículos.

Os casos citados são só alguns dos muitos que se repetiram na capital baiana. A Defesa Civil de Salvador (Codesal) recebeu 69 solicitações entre a meia noite e as 13 horas desta terça-feira. As ocorrências mais frequentes foram: deslizamento de terra (19), avaliação de imóveis alagados (13), ameaças de desabamento (11) e deslizamento (11). Apesar disso, as sirenes do Sistema de Alerta e Alarme não foram disparadas na cidade.

Por trás dos números, histórias de moradores traduzem os prejuízos de quem enfrentou o pior da chuva durante a madrugada. Na Travessa Teodoro Sampaio, no Vale das Pedrinhas, moradores filmaram a água invadindo as casas. Não é a primeira vez que isso acontece. As entradas das residências já são elevadas justamente para evitar os alagamentos. Mas a elevação de oito palmos não impediu que a água entrasse onde Carlos Roberto mora com a esposa.

“A gente fez isso aqui justamente para evitar que a água entrasse, mas essa noite tudo foi destruído de novo”, lamenta. O volume de água foi tanto que entrou no primeiro andar da casa, que Carlos utiliza para vender bebidas e petiscos. “Eu fiz esse comércio para tentar conseguir sustentar minha família. Minha esposa perdeu o benefício que recebia do governo e tudo está muito difícil. Ainda vem a chuva e piora”, falou. Ele ainda não tinha conseguido tirar o barro do espaço por volta das 11 horas da manhã.

A situação era parecida na casa do vizinho Luiz Carlos Amorim, 59. Ele trabalha com o reparo de geladeiras e o local onde elas ficam armazenadas foi tomado pela água. “Desde as duas horas da manhã que eu estou tentando tirar a água. Nem consegui contabilizar o que perdi, é certo que alguns motores quebraram”, disse.

As geladeiras armazenadas por Luiz boiaram por causa do alagamento. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Quando a chuva deu trégua, ele adicionou mais um tijolo na proteção em frente a casa, para evitar a entrada de água. “Agora é rezar pra que essa noite não seja pior”, falou. A Superintendência de Obras Públicas (Sucop) de Salvador informou que uma vistoria será realizada no jusante do canal para identificar o motivo da obstrução e tomar as medidas necessárias.

Segundo a Codesal, as regiões com mais registros de chuvas foram: Ondina (106,8 mm), Federação (94,7mm), Brotas (76,6 mm) e Parque da Cidade (75,2mm). Na Travessa Miguel Lemos, na Federação, uma árvore atingiu duas casas, quebrou telhas e danificou um muro. “Eu acordei de madrugada com o barulho. As telhas quebraram e a água da chuva entrou pelo buraco. Não tenho mais como ficar aqui, alagou tudo”, disse Lindinalva Conceição, de 56 anos.

Os moradores da rua Pedro Silva Ribeiro, no bairro de Armação, ficaram ilhados durante a madrugada. Depois do temporal, registros mostram um carro abandonado em meio ao alagamento e escadas de condomínios sendo invadidas pela água.

As chuvas que atingiram Salvador foram provocadas pela junção de dois fatores: altas temperaturas e umidade proveniente do oceano. “As nuvens foram carregadas e com descargas elétricas, mas os núcleos de tempestades atuaram de forma isolada. Enquanto alguns bairros tiveram acumulados de quase 100 milímetros, na região do Subúrbio, por exemplo, os volumes foram reduzidos, com menos de 5 milímetros”, explicou Aldírio Almeida, meteorologista do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema).

A queda de uma árvore danificou a casa de Lindinalva, na Federação. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Chame-Chame

Por volta das 5 horas da manhã, Lucyara Moraes, moradora do Chame-Chame, acordou com o barulho da frenagem de um ônibus e os gritos de passageiros. O veículo derrapou, atingiu o carro de Luciana e outros dois que estavam estacionados na Rua José Sátiro de Oliveira. O ônibus ficou atravessado na rua e só foi retirado às 8h20. A Integra, responsável pelo veículo, disse que investiga o que provocou o acidente.

Ônibus ficou atravessado na rua por cerca de três horas. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

“Esses ônibus só descem a ladeira parecendo doidos, toda vez é isso. Meu carro e dos vizinhos foram danificados. Na semana passada, outro ônibus derrapou e atingiu um poste, mas não bateu em nenhum carro”, falou Lucyara. Os moradores cobram que medidas sejam feitas para evitar acidentes, como a construção de um quebra-molas.

A Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador) informou em nota que, até o momento, cinco acidentes sem vítima foram registrados na Rua José Sátiro Oliveira em 2024. Durante o ano de 2023, oito acidentes ocorreram na região, também sem fatalidades. Ainda segundo o órgão, uma equipe técnica será enviada ao local para avaliar a viabilidade e a necessidade de novos instrumentos de segurança e redução de velocidade para a localidade.

Em nota, a Secretaria de Mobilidade (Semob) disse que não há informações sobre as causas do acidente, e que a concessionária foi notificada para apurar as possíveis causas do ocorrido. Ninguém foi ferido.