Câncer de próstata matou até quatro pessoas por dia na Bahia em 2024
Ao todo, 1.144 foram vítimas da doença entre os meses de janeiro e outubro
-
Gilberto Barbosa
gilberto.neto@redebahia.com.br
Com a chegada do mês de novembro, o combate ao câncer de próstata é reforçado nas cidades baianas. Dados da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) apontam que cerca de 1.144 baianos foram vítimas da doença entre os meses de janeiro e outubro de 2024. O número representa uma média de aproximadamente quatro mortes por dia no estado.
Ainda de acordo com a secretaria, a doença é o segundo tipo de câncer que mais matou baiano no ano, atrás dos tumores de brônquios e pulmões, além de ser a principal causa de mortes no ano passado, com 1.594 incidentes. A cidade com mais registros foi Salvador, com 214 óbitos, seguido por Feira de Santana (54) e Vitória da Conquista (27).
“A prevenção do câncer de próstata é fundamental para ter um bom acompanhamento com o paciente. Esse é um tumor que não muda a incidência de acordo com o comportamento da pessoa. O principal fator para a proteção é fazer um bom seguimento preventivo, que resulte no diagnóstico precoce, aumentando as chances de cura em até 90%”, fala Lucas Batista, urologista e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
O diagnóstico é feito a partir de exames de toque retal e de PSA, que mede a presença do antígeno prostático específico, proteína produzida pela próstata, no sangue. Alterações nos resultados apontam a necessidade de biópsia e exames de imagem, que confirmam a doença.
O exame deve ser feito anualmente e é indicado para homens a partir dos 50 anos. Caso a pessoa apresente fatores de risco como obesidade, parentesco de primeiro grau com pacientes que tiveram o tumor ou seja um homem negro, é indicado que o acompanhamento começe aos 45 anos.
“Os primeiros exames indicam apenas a suspeita já que os sintomas são os mesmo os da hiperplasia benigna da próstata, ou próstata grande. Esse é um tumor pequeno e localizado, que mede cerca de um centímetro e não causa dor durante o seu crescimento. Como a próstata é uma glândula pequena, ela não afeta outras regiões e quando isso ocorre significa que ele já invadiu outras partes do corpo”, afirma Lucas.
O administrador de empresas, Alberto Botelho, 61, conta que faz o acompanhamento desde os 35 anos. O pai dele descobriu a doença em estágio avançado há cerca de 30 anos e faleceu pouco depois do diagnóstico. Um exame de PSA feito no ano de 2021 apontou alterações no nível da proteína no sangue, o que chamou a sua atenção.
“O meu PSA normal é de 1.94 e nesse exame ele estava em 4.45. Eu comecei a investigar para saber se tinha a doença, mas não obtive resultado. Minha médica me indicou realizar uma biópsia, feita no último mês de março, onde foi constatada a presença do tumor em um local que não era possível identificar com o toque retal”, relata.
A doença foi descoberta ainda em estágio inicial. Com isso, ele foi submetido a cirurgia no último mês de setembro que resultou na retirada da próstata, da vesícula seminal e da uretra seminal. Depois de duas semanas, ele voltou a trabalhar e a fazer atividade física.
“O câncer ainda não havia rompido a cápsula da próstata e espalhado para outros órgãos. Foi um período turbulento, com um pouco de ansiedade porque eu acompanhei o câncer de meu pai e estava preocupado em descobrir a tempo de não passar o que ele passou. Eu converso com meus amigos sobre o que é essa doença para que eles possam se prevenir e fazer os exames”, completa.
Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que o câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais incidente em homens no Brasil, atrás apenas dos tumores de pele não melanoma. O instituto estima que 71.730 novos casos serão registrados anualmente no Brasil no triênio 2023-2025. Segundo a Sesab, cerca de 2.451 pessoas foram internadas no estado entre janeiro e setembro de 2024, uma média de nove pessoas por dia.
De acordo com Humberto Ferraz, urologista e presidente da Sociedade Brasileira de Urologia - Secção Bahia (SBU), sinais como sangramento na urina, diminuição do jato e dificuldade de urinar são os mais frequentes entre os pacientes. O surgimento deles indica que o tumor avançou para outras regiões do corpo.
“O tumor da próstata surge na zona periférica do órgão, ou seja, mais distante da uretra. Ao crescer em direção à uretra e causar sintomas, ele pode se desenvolver para outros órgãos, causando metástases. O local mais frequente são os ossos, causando dores e fraturas quando são atingidos. A obstrução da uretra também pode causar insuficiência renal, necessitando de diálise”, explica.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro