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Canal entre avenidas de Tancredo Neves é foco do CV em tiroteios com o BDM


 

Área seria fundamental para plano da facção carioca para invadir o Arenoso

  • Wendel de Novais

Publicado em 19/06/2024 às 15:30:29
Facções disputam cada metro de Tancredo Neves. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Em Tancredo Neves, a Rua Bahia é limite de uma área com atuação da facção Comando Vermelho (CV). No Arenoso, a Rua Manoel Rufino margeia transversais com a presença do grupo criminoso Bonde do Maluco (BDM). Duas vias separadas por cerca de 400m e uma área conhecida como Canal 13, localidade que se transformou no foco atual da facção carioca em ataques feitos na região nas últimas três madrugadas.

De acordo com fonte policial, que terá nome e cargo preservados, a anexação do canal seria um passo fundamental para o objetivo principal do CV na região: tomar o Arenoso. O fim de linha de Tancredo Neves, a localidade do Buracão e a Engomadeira já são áreas ‘dominadas’ pela facção carioca. No entanto, o Arenoso e o próprio Canal 13 têm o BDM como grupo criminoso com atuação histórica no tráfico.

Área de Tancredo Neves é dividida pelas facções. Crédito: Eduardo Bastos/CORREIO

O canal, porém, é visto como a área menos protegida. “As duas facções têm áreas de atuação estabelecidas. A Rua Bahia é limítrofe do CV e a Manuel Rufino é do BDM. O Canal 13 está no meio disso e, ao mesmo tempo, do lado do Arenoso, local cobiçado pelo CV há um tempo. Pela proximidade, se você consegue o Canal, o Arenoso fica um passo e é essa área que o BDM tem deixado com menos homens”, diz.

As investidas do Comando Vermelho fizeram, inclusive, com que homens do grupo conseguissem entrar no Canal. Eles, entretanto, enfrentaram resistência de integrantes do BDM que chegaram no local através da Rua Manoel Rufino. Tanto é que, na terça-feira (18), residências e veículos da rua amanheceram repletos de marcas de tiros. Os furos em paredes e chaparias davam indícios de uso de fuzis no tiroteio.

Fachada de casa foi atingida por diversos disparos no Canal 13. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

“Os confrontos na madrugada da terça-feira se concentraram ali na Rua Manoel Rufino. Na madrugada dessa quarta, não foi só lá. Houve registros também na Engomadeira, que até ficou sem ônibus rodando durante a manhã. Provavelmente, houve uma resposta do BDM lá para tentar um contra-ataque e fazer com que, de alguma forma, o CV recue das investidas atuais”, fala a fonte. A circulação de ônibus já foi normalizada no local.

Não há, no entanto, uma confirmação oficial da Polícia Militar da Bahia (PM-BA) sobre as informações descritas pela fonte. Comandante da 23º CIPM, responsável pelo policiamento ostensivo na região, o Coronel Luciano Jorge fala apenas de uma disputa entre facções que será combatida sem entrar em muitos detalhes.

“Nós temos aí um grupo criminoso querendo expandir seus territórios e percebemos isso em alguns bairros da capital. Tancredo Neves não tem sido diferente. No ano passado, isso aconteceu, ações foram desenvolvidas e eles retraíram. Isso está voltando a acontecer agora, ações vão ser desenvolvidas e eles vão retrair”, garante o Coronel.

O policiamento segue reforçado em Tancredo Neves, no Arenoso e na Engomadeira, áreas mais violentadas pelos registros de confronto entre os criminosos. Antônio Jorge Melo, especialista em segurança pública e coronel reformado da Polícia Militar da Bahia (PM-BA), explica as ações do CV em Tancredo Neves lembrando como o grupo opera no Rio de Janeiro, seu lugar de origem.

“O Comando Vermelho (CV) foi o grupo armado que mais conquistou territórios na Região Metropolitana no Rio de Janeiro, por meio de disputas, nos últimos sete anos. É interessante observar nesse contexto o emprego dos conflitos como recurso estratégico, pois essa busca por expansão configura um processo de colonização de novas áreas”, indica Melo

O especialista destaca ainda que, no cenário de guerra, cada liderança criminosa de áreas próximas cede homens ou armamentos para ataques em troca de favorecimentos futuros dentro da facção.

Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, neste ano, Beiru/Tancredo Neves registrou 16 tiroteios, sendo três deles em ações policiais. Ao todo, 11 pessoas morreram, três delas em ações da polícia.

Só no mês de junho, Beiru/Tancredo Neves seis tiroteios, um em ação policial. Duas pessoas morreram, sendo uma em ação envolvendo a polícia.