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Caetano faz apresentação nostálgica e acalorada em Salvador antes de tirar “férias radicais”


 

Apresentação deste domingo (17) foi a última do ano; cantor retorna aos palcos em março

  • Maysa Polcri

Publicado em 17/12/2023 às 21:37:52
Os shows de sexta (15), sábado (16) e domingo (17) tiveram os ingressos esgotados. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Não houve lugar em Salvador que estivesse mais odara do que a Concha Acústica na noite deste domingo (17). Caetano Veloso subiu ao palco, às 19h, ovacionado pelo público em ebulição, que acompanhou com gritos e olhares de admiração o show de uma hora e meia do cantor e compositor. Atentos, todos queriam guardar na memória os detalhes da última apresentação da turnê Meu Coco, antes de Caetano que entrar em “férias radicais” até 1° de março, quando tem show marcado em Porto Alegre.

Depois de uma breve e silenciosa saudação à plateia, ele entoou os primeiros versos de Avarandado, música que inicia os shows da turnê que reproduz ao vivo o última álbum de estúdio do artista. Pelo terceiro dia consecutivo, os fãs lotaram a Concha. Caetano se sentou depois de meia hora de show, quando prestou mais uma homenagem a Carlos Lyra, um dos criadores da Bossa Nova, que morreu no sábado (16), aos 90 anos. “Um dos maiores compositores do Brasil dos últimos anos”, disse antes de cantar Quando Chegares, composição de Lyra.

Depois da discussão de praxe da plateia da Concha (os pedidos para quem está em pé sentar-se), o público até acompanhou a batida das músicas com moderação. Mas, foi só começar Reconvexo e Caetano dar os primeiros passos para o convite à dança se tornar irrecusável. Resultado: todo mundo ficou em pé, sambando junto. A euforia, no entanto, durou pouco e logo após a canção Leaozinho, os gritos de “senta” voltaram a ser ouvidos pela plateia que, mais uma vez, obedeceu.

Próxima apresentação do cantor será em Porto Alegre (RS), em 1º de março do ano que vem. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

O show foi marcado por muita nostalgia da parte de Caetano, que relembrou o tempo em que integrava os Doces Bárbaros, grupo musical com o qual ‘inventou’ a Tropicália, ao lado de Maria Bethânia, Gilberto Gil e Gal Gosta, que morreu em novembro do ano passado. Claro que o quarteto baiano não inventou, de fato, a Tropicália, mas os artistas citados constam na genealogia do movimento tropicalista ao lado de Tom Zé, Mutantes, Rogério Duprat, Torquato Neto, Hélio Oiticica, Capinan, Jorge Mautner, entre outros. 

Caetano recapitulou ainda a “marcha caetaneada”, apelido de Gil para músicas que captam a atmosfera dos carnavais dos anos 70, como a composição A Outra Banda da Terra.

A última apresentação antes das férias foi também a primeira que as amigas Denivia de Jesus, 47, e Eliane Calheiros, 44, puderam acompanhar de perto. O valor dos ingressos sempre foi obstáculo para elas, acostumadas a acompanhar Caetanos apenas pela televisão e redes sociais. Dessa vez, com medo da apresentação ser a última do artista de 81 anos em Salvador, elas decidiram parcelar os ingressos comprados com antecedência. “É a realização de um sonho para mim”, disse Devinia.

Entre os presentes, muitos que já fizeram parte de outras plateias do cantor. Caso das irmãs Alberice Góes, 70, e Sandra Maria Góes, 69. A parceria das duas fica mais forte quanto o assunto é o amor por Caetano. Juntas, elas já foram de ônibus até Santo Amaro, cidade onde o artista nasceu, para assistir a uma apresentação há cerca de dez anos. "Nós fomos e dormimos dentro de uma igreja da cidade para esperar a hora de voltar para casa no outro dia", relembrou Alberice com bom humor. 

Para conseguir ingresso para uma das três apresentações do cantor em Salvador, pediram ajuda para a sobrinha. "Ela estava no computador de madrugada e conseguiu comprar antes que esgotasse. Ainda bem", completou. 

Parte do público ficou entristecida ao acreditar que a apresentação havia chegado ao fim sem a clássica Tieta. O adeus antecipado de Caetano e da banda, no entanto, não passou de charme. Poucos segundos após saírem do palco e as luzes serem apagadas, o grupo retornou para finalizar a apresentação sob gritos de “mais um” e “eu não vou embora”. Esse último já consolidado como tradição baiana repetida em shows de todos os gêneros.

O anúncio das férias foi feito na quinta-feira (15). Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Deu tempo da plateia curtir as canções Mansidão, composição de 1982 e que está ausente da discografia do cantor, e Odara, que levou o público à loucura. O final ficou mesmo para Tieta, acompanhada pela plateia dançante. A tríade de shows na capital baiana foi encerrada com muitos aplausos e a certeza de que os baianos aguardam ansiosos por mais de Caetano Veloso.