Bombeiro baiano conta sobre atuação em resgate de pessoas e animais no RS
Os profissionais estão atuando na busca por desaparecidos e na realocação de pessoas e animais em locais de risco
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Yasmin Oliveira
yasmin.oliveira@redebahia.com.br
Imagine um pai preso em um telhado precisar escolher salvar um de seus dois filhos. Esta situação foi testemunhada pelo Coronel Jadson Almeida durante as operações de resgate no Rio Grande do Sul. O estado enfrenta o pior desastre climático de sua história com enchentes, alagamentos e deslizamentos de terra.
“Ele teve que sair da casa correndo e teve que escolher qual filho que ele pegava quando o jet-ski chegou, porque ele não tinha condição de pegar todos os filhos. O pai relatou isso chorando, graças a Deus o outro menino foi resgatado por vida. São situações assim que a gente vê, é uma população ainda muito emocionada e traumatizada”, conta Jadson.
As equipes formadas por bombeiros baianos desembarcaram no estado sulista na quinta-feira (02) e já realizaram o resgate de 212 pessoas e 20 animais. Alocados na região da Serra Gaúcha, principalmente em Bento Gonçalves e Caxias do Sul, os profissionais da linha de frente estão atuando na busca por desaparecidos e na realocação de pessoas e animais em locais de risco.
Ao chegarem na quinta-feira (02), os bombeiros precisaram se deslocar por vias perigosas, pois o acesso regular as cidades estava interditado pelos deslizamentos de terra. O fenômeno atingiu diversas casas e sete pessoas foram vitimadas, segundo o coronel, seis corpos foram recuperados pela sua equipe.
“Muitas regiões ainda estão sem energia elétrica e abastecimento de água, por conta do deslizamento de terra. Algumas fiações de energia foram atingidas e isso também deixou a população sem comunicação nas redes de telefonia e algumas ainda estão instáveis”, relata.
Nesta segunda-feira (6), a tropa do Corpo de Bombeiros da Bahia resgatou uma vítima desidratada e sem alimentação no distrito de Vila Olívia, em Caxias do Sul. Foi necessário o transporte do homem durante três quilômetros em um trecho de difícil locomoção, transpondo rio e descontinuidades no terreno para que ele fosse resgatado por aeronave até uma unidade de saúde.
“Um caso que nos marcou foi na região de Galópolis, distrito de Caxias do Sul, onde foram vitimadas sete pessoas. Restava localizar apenas um casal e eles eram pais de um jovem rapaz que estava no local acompanhando e auxiliando as buscas do Corpo de Bombeiros. E hoje nós localizamos os corpos dos pais dele, isso é algo que embora a gente tenha um profissionalismo, a gente se emociona”, relata.
Segundo o bombeiro baiano, a situação no Rio Grande do Sul supera tudo que a sua tropa já viu. As pessoas solicitam resgates ao Corpo de Bombeiros de outros em locais de risco, ou locais que não possuem fácil acesso e aqueles que ainda não entraram em contato com a família ou não apareceram aos locais de trabalho também estão sendo procurados. Os oficiais já utilizaram de quadricíclos, tratores e helicópteros para resgatar as vítimas.
“Um salvamento que chama a atenção não foi nem de uma pessoa, foi de um animal. A família fugiu do local porque havia risco de deslizamento e o animal ficou na casa. Quando nós chegamos no local, ele latia bastante e de uma forma muito dócil, ele veio e saiu no colo de um dos bombeiros. O animal percebeu que a gente estava ali para salvá-lo e devolvê-lo para a família”, relata.
O bombeiro baiano conta que diversos colegas do Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul estão morando em seus quartéis. Os plantões estão sendo emendados e alguns oficiais chegam a ter, no máximo, duas horas por dia.
“A gente faz um revezamento para que possamos estar 100% ao atender as vítimas. Nós nos preparamos o tempo todo, mas o cansaço chega e quando pensamos que existe alguém precisando da nossa ajuda, isso revigora”, diz.
A população gaúcha acolheu os profissionais da linha de frente com os braços abertos. O coronel relata que ao caminhar pelas ruas em direção a mais um resgate, são diversos abraços e agradecimentos por parte dos gaúchos e isso os ajuda a se manter motivados para ajudar as vítimas da tragédia. Um fato que surpreendeu o coronel foi quando uma caminhonete parou no posto dos bombeiros durante uma ocorrência e distribuiu quentinhas com um coração desenhado no topo e um recado: ‘Muito obrigado’.
“A motivação de todos os bombeiros que estão aqui é ajudar bombeiros aqui do Rio Grande do Sul. Eles estão incansavelmente trabalhando é algo assim que também é inimaginável. Hoje (7) eu estava conversando com o capitão, ele ligou para a família e se emocionou, e disse assim ‘a segurança de minha família está na mão de outros bombeiros, mas eu confio neles’. Isso é uma frase que nos marca porque tratamos de vidas, é um momento mesmo de irmandade”, conta.
Jadson Almeida também participou de uma operação em Santa Lúcia do Piaí, onde uma família inteira estava além do rio que transbordava. Os bombeiros não conseguiam atravessar o rio e receberam a notícia de que a família não tinha suprimentos, foi necessário a passagem de uma corda para que alimentos e água fossem repassados para as vítimas. A tropa precisou aguardar o rio perder a força para atravessá-lo e fosse possível o resgate da família.
Segundo ele, cerca de 100 mil pessoas estão desalojadas em casas de parentes ou de amigos e mais de 20 mil pessoas estão desabrigadas em igrejas e escolas.
“Foi algo que atingiu diversas regiões do Estado e ainda requer muita atenção. A área de Porto Alegre ainda está inundada, a área de Canoas e alguns outros municípios ainda estão alagados e a gente tem notícias agora que haverá chuvas novamente essa semana atingindo a região sul do Estado. Então já é outra preocupação também na área aqui da Serra, nós estamos em Gramado e estamos visitando as áreas de risco e os avaliando”, finaliza.
*Com orientação da subeditora Monique Lôbo