Bancos e cartões de crédito são os vilões do endividamento dos baianos
Estado tem 4,5 milhões de inadimplentes, sendo 33% deles por pendências com bancos e cartões de crédito
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
Quando o estudante universitário Alexandre Martins, 22 anos, foi aprovado no curso de Serviço Social na Universidade Federal da Bahia (Ufba), ele não esperava que as despesas fossem custar tanto ao seu bolso. Tendo que arcar com mobilidade, permanência na universidade, alimentação e aluguel de casa, uma hora as contas apertaram e ficou impossível dar conta de tudo. Como resultado dessa situação, o jovem acumula desde 2022 uma dívida de R$4 mil com três cartões de instituições financeiras distintas. Assim como ele, outros 4.570.611 baianos estão inadimplentes e têm débitos com bancos e cartões de créditos como os principais vilões do endividamento.
A população endividada da Bahia representa pouco mais de 40% da população adulta do estado e ocupa a 21ª posição do ranking nacional de inadimplência. Os bancos e cartões de crédito correspondem a 33% dos endividamentos dos baianos. Em seguida, dívidas com empresas financeiras equivalem a 17,6% e dívidas de varejo são 17,4% do todo. Os dados são da Serasa, empresa brasileira que registra o comportamento financeiro dos consumidores.
Para o consultor e educador financeiro Raphael Carneiro, o que leva às dívidas com o cartão de crédito é a falta de uso adequado do recurso, enquanto as dívidas bancárias se dão por conta da crença em vantagens, que posteriormente se mostram um problema. “Por não conseguir ou não entender como usar de maneira correta e segura, as pessoas acabam usando o cartão como extensão da renda, o que compromete e dificulta o pagamento. No caso dos bancos, muitas vezes a oferta de crédito fácil e o uso do cheque especial com taxas de juros exorbitantes vão gerando uma bola de neve, dor de cabeça e acabam se tornando os vilões”, aponta.
O educador financeiro Edisio Freire chama atenção para o fato de que, historicamente, os cartões de crédito e cheques especiais têm taxas de juros acima dos 400% ao ano. “Isso faz com que, à medida que a pessoa consuma no cartão de crédito e não pague, o nível da dívida cresça exponencialmente. Imagine o crescimento de uma dívida 12% a 15% ao mês: o que era R$100 vira R$600 em um ano. Isso acaba tornando a capacidade de pagamento do consumidor muito pequena, porque ainda que o consumidor tenha no mês seguinte ou nos próximos a condição de pagar pela dívida original, essa condição some porque os juros transformaram essa dívida em um valor que ele não pode mais pagar”, exemplifica.
Esse foi o caso de uma autônoma de 28 anos que preferiu não ter seu nome revelado. A mulher conta que, há aproximadamente seis anos, foi vítima de um golpe ao ter seu cartão clonado durante uma compra online. Sem conseguir provar que não tinha sido ela a autora das compras feitas no seu cartão, ela não pôde pagar a dívida na época, o que fez com que o débito de aproximadamente R$1000 se transformasse hoje em um endividamento de quase R$4 mil.
“Quanto mais o tempo passa, mais os juros aumentam. Eu não tenho perspectiva de pagar, porque nesse momento não está dentro do meu orçamento. Eu saí de casa, já tive vários gastos e estou desempregada, então tudo isso dificulta”, lamenta.
Assim como ela, Alexandre, o estudante de Serviço Social que aparece no início da matéria, também demonstra não ter otimismo para quitar seus débitos. “No momento, não tenho condições de pagar o que devo, pois sou bolsista universitário e pagar essas dívidas consumiria a minha bolsa. Já apareceu algumas ofertas, mas eu achei caro”, relata.
De modo geral, o pouco otimismo que assola os baianos em relação ao pagamento de suas dívidas quase sempre está atrelado à dificuldade de obtenção de renda. “[O que está por trás do estado ser menos otimista em relação ao pagamento das dívidas] são vários fatores, como a situação econômica atual do estado. Podemos avaliar desde inflação, nível de desemprego, até mesmo com nível de educação financeira e das facilidades para negociação da dívida”, analisa Fernando Gambaro, gerente da Serasa.
Nesta quinta-feira (21), a Serasa, Ministério da Fazenda, Correios e mais de 700 empresas vão realizar o Dia D do MegaFeirão Serasa e Desenrola, ação que consiste em atendimento especial em agências dos Correios em Salvador e nas outras 26 capitais do Brasil. O objetivo é orientar presencialmente os interessados em negociar dívidas com descontos de até 96%.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro