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Baianos se destacam no mercado de games, no qual mulheres já são maioria


 

Apesar do avanço na diversidade, público em evidência no mundo dos jogos continua sendo formado por homens

  • Raquel Brito

Publicado em 12/08/2023 às 05:00:00
Painel no evento Agenda Bahia teve como tema o "Mundo gamer". Crédito: Ana Albuquerque

“Todo dia que surge um jogo novo, surge uma profissão nova junto com ele”. Foi o que Bárbara Carvalho, diretora de marketing da Go Gamers, comentou durante sua fala no Agenda Bahia, nesta sexta-feira (11). No último painel da noite, o evento fez uma viagem ao mundo dos games: com número sempre crescente de adeptos, o mercado de jogos tem ganhado cada vez mais visibilidade no Brasil e na Bahia, e esse foi o tema do debate “Mundo dos games”.

Mediada pelo empresário Lucas Freire, o painel contou com a presença de Victor Cardozo, co-fundador da Bahia Indie Game Developers (BIND) e, de forma remota, Cynthya Rodrigues, sócia e co-fundadora da start-up de jogos G4B, além da própria Bárbara Carvalho.

Com premiações que vão até 32,8 milhões de dólares para os jogadores, o mercado gamer vem crescendo de forma exponencial. E essa área envolve bem mais gente até chegar nos campeonatos: desenvolvedores, roteiristas, ilustradores, dubladores e profissionais de marketing são alguns exemplos.

“Nós não somos só um setor em crescimento, mas um fenômeno que envolve esporte, entretenimento, tecnologia e cultura. À medida que a gente vê esse cenário crescer, a gente vê que estimula uma nova era de economia criativa e de inovação, descoberta e sucesso”, continuou Bárbara.

É no grupo dos desenvolvedores que está Victor Cardozo. Co-criador de ÁRIDA, jogo que narra a saga de uma garota pelo sertão baiano, o empresário viu sua obra tomar proporção mundial. Para ele, o reconhecimento significa uma quebra de paradigmas. “O sucesso do jogo mostra que as nossas raízes e o nosso legado são muito importantes. Isso dá pra gente coragem e valida que as nossas histórias impactam o mundo”, diz ele.

Lançado em 2019, ÁRIDA é protagonizado por Cícera, uma garota de 15 anos que luta contra a seca e a fome, com direito a itens como rapadura, palha de milho e farinha. De acordo com Victor, a ideia é expandir o universo do projeto e criar personagens para histórias em quadrinhos e animação. Hoje, o jogo está disponível nos principais sistemas operacionais, além de ter sido uma das dez iniciativas selecionadas para fazer parte do fundo de investimentos do Google.

Questionado sobre qual dica daria a um jovem que quer entrar na criação de jogos, Cardozo responde sem hesitar. “Seja muito curioso. Essa é uma área nova, então tem muitas possibilidades, mas, ao mesmo tempo, com tantas oportunidades, você precisa estar capacitado para elas, então é preciso consumir livros, audiovisual, música. Cada área vai ter seus desafios, mas também é um mercado que tem muito conhecimento e muitas vagas abertas”, diz.

Diversidade

De acordo com a pesquisa Gamer Brasil, realizada em 2022, as mulheres representam 51,5% do universo gamer. Apesar do avanço da diversidade nessa área, o público em evidência continua sendo masculino. Por isso, Cynthya e Bárbara reforçam que ainda há um longo caminho a ser trilhado. “Eu acho que falta muito ainda para nós conseguirmos, tanto geograficamente como entre os gêneros, [a diversidade ideal]”, analisa Bárbara Carvalho.

Para Cynthya Rodrigues, é essencial também que as empresas patrocinadoras invistam ainda mais num público variado. “Todo esse ecossistema só funciona se tiverem marcas por trás. É muito importante a gente estar aqui como mulher e empresárias nesse evento. A gente só vai conseguir ter uma equidade de salários, de times femininos e masculinos, se as marcas investirem. As pessoas precisam ser muito bem remuneradas para fazer o seu trabalho”, comenta ela.

Confira mais jogos desenvolvidos por baianos

WHAT THE BOX?

  • A partir do tema “Isso não deveria estar aqui?”, surgiu em 2016 o jogo que é um tipo de esconde-esconde com caixas no cenário. Como os jogadores também têm formato de caixas, o ponto do jogo é diferenciar quais são objetos inanimados e quais são outros jogadores, que não deveriam estar ali, e saber quando atacar.

ROCKET FIST

  • Primeiro game brasileiro a sair pelo Nintendo Switch, trata-se de uma criação do baiano Daniel Silveira, de 28 anos. Radicado no Canadá, ele começou a fazer o jogo como protótipo para um dos trabalhos do mestrado, mas não serviu ao propósito e foi descartado. Como gostava muito e se divertia com os amigos, Daniel continuou desenvolvendo o Rocket Fist e lançou por conta própria, através da Bitten Toast Games, em 2016.

SOCIEDADE NAGÔ

  • O aplicativo, desenvolvido em parceria com a Strike Games com apoio financeiro do Governo da Bahia por meio do Fundo de Cultura, alterna entre o jogo virtual e tarefas no mundo real, tendo como tema a Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador em janeiro de 1835.

DOIS DE JULHO TOWER DEFENSE

  • Desenvolvido por um grupo de pesquisas da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), é um jogo sobre as batalhas da Independência do Brasil na Bahia. Nele, o jogador ajuda os heróis locais traçando estratégias de resistência às invasões das tropas portuguesas no território baiano, entre os anos de 1822 e 1823.

*Com supervisão de João Galdea.