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Baianas fazem a diferença na ciência e inspiram jovens talentos em um universo ainda excludente


 

Jaqueline Goes e Bruna Machado falam sobre a importância de mais incentivo na área da ciência

  • Maysa Polcri

Publicado em 13/12/2023 às 07:30:00
Conheça as cientistas Jaquele Goes e Bruna Machado. Crédito: Reprodução

Uma frase conhecida de pesquisadoras resume bem as desigualdades existentes nos meios acadêmico e científico: a cada degrau que uma mulher sobe, enxerga menos pesquisadoras como ela. Isso porque os homens brancos formam a maioria dos graus mais altos de hierarquia da ciência, que tem, por outro lado, sendo cada vez mais alcançados por mulheres. 

É nesse contexto que surgem duas baianas arretadas, que enfrentaram obstáculos para se tornarem referências entre a comunidade científica. A biomédica soteropolitana Jaqueline Goes de Jesus, que liderou a equipe que sequenciou o genoma do coronavírus em 48 horas, e a farmacêutica Bruna Aparecida Souza Machado, que foi eleita para a Academia Brasileira de Ciências (ABC) neste mês.

“Quanto mais a gente cresce, menos mulheres vemos ao nosso lado, no sentido de representatividade. Tive muitas oportunidades que fizeram com que eu estivesse aqui hoje, mas é difícil, especialmente quando comparamos com outros países. Muitas vezes, temos projetos que são aprovados por mérito, mas precisam ser cortados por falta de recursos”, afirma Bruna Machado, que é professora do Senai Cimatec, em Salvador.

Bruna Machado é professora do Senai Cimatec, em Salvador. Crédito: Divulgação/Senai

Jaqueline Goes, que ganhou projeção internacional no início da pandemia e, hoje, ministra cursos e palestras, concorda com a dificuldade. “O nosso país não tem uma estrutura que favoreça a ciência. A política não foi projetada para proteger a ciência porque recursos, para serem liberados, precisam do aval de outras esferas que nem sempre estão comprometidas com isso”, detalha a biomédica.

Além do estado de origem e a idade próxima em comum - Jaqueline tem 34 anos e Bruna, 37 - o que as aproxima é a vontade de inspirar jovens talentos. “Nós, brasileiros, temos uma criatividade fora de série e há muito capital intelectual. O que nos falta é incentivo. Precisamos colocar na cabeça dos brasileiros que eles podem vir para a academia, que foi, por muito tempo, colocada dentro de uma redoma”, defende Jaqueline Goes.

A biomédica tem planos de criar um instituto com seu nome para investir em pesquisas científicas feitas por mulheres. “Estou criando um instituto para fomentar e acelerar carreiras de mulheres na ciência. Para isso, estou focando em minorias, mulheres negras, indígenas, quilombolas, ciganas, entre outras. Se temos como ajudar, quero ajudar elas que são pouco representadas”, explica.

Jaqueline Goes recebeu a Comenda da Ordem 2 de Julho, Grau Cavaleiro, a maior honraria concedida pelo Estado da Bahia. Crédito: Reprodução

Para Bruna Machado, ainda é preciso que o Estado reconheça a importância da ciência e dos retornos financeiro e intelectual que os cientistas trazem para o país. “O Nordeste ainda não é visto como uma região que faz ciência e tecnologia, mas nós fazemos e temos universidades de destaque. Precisamos de mais políticas públicas que invistam na ciência desse país,através de mais bolsas de mestrado e doutorado, para termos mais cientistas fixados no nosso país”, reforça.