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Bahia tem 2ª maior proporção de domicílios onde não moram casais


 

Com 53,1% dos domicílios sem a presença de cônjuge, Salvador lidera esse indicador entre as capitais

  • Millena Marques

Salvador
Publicado em 25/10/2024 às 19:27:03
Imagem ilustrativa. Crédito: Shutterstock

Natural de São Sebastião do Passé, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), Damilla Carmo, 23 anos, deixou a cidade natal para cursar jornalismo na capital baiana. Para conseguir manter a estadia próxima à faculdade, a estudante decidiu dividir aluguel com uma colega. As duas fazem parte do grupo de baianos que não dividem domicílio com um cônjuge. De acordo com dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (25), a Bahia tem a 2ª maior proporção nacional de domicílios onde não moravam casais. Ao todo, são 2,3 milhões, o que representa 45,1%.

Dentre as 27 unidades da Federação, a Bahia divide a vice-liderança com o Distrito Federal e está abaixo somente do Rio de Janeiro, que tinha 47,2% dos domicílios sem casais. No Brasil, não havia casais em 41,9% dos arranjos domiciliares. Santa Catarina (35,8%), Rondônia (36,8%) e Pará (37,1%) apresentavam as menores proporções.

Frente a 2010, quando foi produzido o último Censo, o número de arranjos domiciliares sem casais cresceu 50% no estado baiano. Há 12 anos, a situação era de 1,53 milhão de unidades domésticas, o que representava 37,8% do total existente, à época. Esse novo perfil de composição domiciliar mostra uma ascensão de formas diferentes, que fogem diferente do padrão casal com filhos, conforme explica a supervisora de disseminação do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros.

“São pessoas que não estão unidas por esse laço de conjugalidade, moram juntas, mas não têm uma relação, ou moram sozinhas porque a gente teve, também, um aumento expressivo no número de domicílios onde só mora uma pessoa”, explicou Mariana.

O número de domicílios unipessoais, onde só vive uma pessoa, passou a ter a segunda maior participação no total, superando as unidades domésticas estendidas (onde, além do núcleo, há ao menos um/a outro/a parente). Entre 2010 e 2022, as unidades com um único morador passaram de 524,95 mil para 1,03 milhões, o que representa um acréscimo de 95,6%. Na participação total, saiu de 12,9% para 20,2%, o 3º maior aumento de participação dentre os estados.

“As pessoas que moram sozinhas, que estão dentro desses que não são casais, mostram essa nova configuração familiar aqui no estado, se impondo, crescendo em importância, por contraposição àquela mais tradicional, mais convencional, que é do casal com filhos, normalmente”, afirmou Mariana.

O crescimento de composições familiares não-convencionais é, também, reflexo das mudanças culturais, segundo a supervisora do IBGE. “Novas configurações que são trazidas pela evolução de novas questões, que, antigamente, não eram tão valorizadas. Também pela ascensão da mulher no mercado de trabalho...”, continuou.

A busca pela ascensão profissional, inclusive, foi o que fez Damilla sair de São Sebastião para morar em Salvador. Ela até poderia continuar estudos na Universidade Federal da Bahia (Ufba), mas perderia muitas horas do dia somente para pegar o transporte. “O ônibus demora 1h para fazer São Sebastião x Salvador, mas os horários são muito ruins. Para conseguir ir sentada, a pessoa tem de chegar que 1h antes (no ponto). Eu perdia mais de 3h só no transporte público”, relatou.

Para manter o aluguel de um apartamento no bairro da Graça, perto do campus onde estuda, ela buscou uma colega para dividir a despesa. “A gente sabe que os preços de aluguel na Graça são mais caros. Então, a opção de dividir um apartamento, uma dependência, acaba saindo mais em conta”, finalizou.

Entre as capitais, Salvador tem a maior proporção de domicílios cujos arranjos não envolviam casais: 509,11 mil, ou 53,1%. Porto Alegre/RS (52,6%), Belo Horizonte/MG (51,0%) e Rio de Janeiro/RJ (50,8%) completam o top 4.

Total

Do total de unidades domésticas da Bahia, 3,18 milhões eram nucleares – em que vive só um casal, um casal com filho (s) ou só uma pessoa com filho (s), ou 62,4%. As unidades estendidas somavam 820.870 e correspondiam a 16,1% do total em 2022 – uma redução de 5,4% em comparação a 2010, quando a situação era de 867,77 mil.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro