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Bahia precisa qualificar 574 mil profissionais até 2027, diz Senai


 

Com projeção de crescimento, indústria baiana precisa que os trabalhadores acompanhem o ritmo tecnológico e produtivo

  • Larissa Almeida

Publicado em 23/10/2024 às 05:30:32
Trabalhadores industriais. Crédito: CNI/Miguel Ângelo

Daqui a três anos, grande parte das habilidades que são requisitos para empregar trabalhadores industriais atualmente não serão suficientes para mantê-los no mercado de trabalho. É por isso que, de acordo com o Mapa do Trabalho Industrial, a Bahia vai precisar qualificar 574 mil profissionais até 2027. A projeção é fruto do levantamento elaborado pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que subsidia as ações de planejamento de oferta do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

Segundo o Senai, haverá necessidade de formação de 97 mil novos profissionais e de requalificação de 477 mil que já estão no mercado. A demanda surge em decorrência do ritmo de criação de empregos e a reposição de trabalhadores que deixarão o mercado de trabalho formal. Entre 2025 e 2027, a expectativa é de que haja a criação de 609 mil novas vagas no setor industrial e em ocupações relacionadas à indústria em outros setores. 

No que diz respeito à requalificação, prevalece a exigência da área por novas competências. “Os processos produtivos estão se modificando e as indústrias estão se modernizando. Com isso, novos processos estão surgindo e precisamos nos requalificar. Identificamos que quem já está no mercado precisa aprender novas tarefas – porque a indústria pode automatizar o processo produtivo –, assim como ser preparado para questões de segurança do trabalho e aumento de produtividade”, afirma Patrícia Evangelista, superintendente executiva de Educação Profissional do Senai Bahia.

O Mapa do Trabalho Industrial foi elaborado levando em conta a projeção do emprego formal até 2027, o volume de vínculos formais projetados para a indústria como um todo e na estimativa da demanda por formação industrial – esta última foi obtida com base na estrutura do emprego formal projetado e na necessidade de formação de profissionais. Segundo o levantamento, a indústria demonstra trajetória estável, com perspectivas de se manter em torno de 2,0% até 2027.

Para o economista e educador financeiro Edisio Freire, apesar de ser difícil precisar o cenário econômico da Bahia nos próximos anos, é possível constatar que os indicadores apontam para a ampliação da geração de emprego. “Principalmente nas indústrias, há necessidade de força de trabalho por uma conjuntura natural da economia”, frisa.

“À medida que saímos do cenário de pandemia e há um reaquecimento econômico, isso gera a retomada de postos de trabalho. Além disso, a quantidade de profissionais recém-saídos das universidades e que buscam se especializar incentiva o mercado de trabalho”, analisa o especialista.

Competências

Os 574 mil profissionais da área industrial que vão precisar passar pelo processo de qualificação terão que desenvolver ou atualizar competências técnicas, como domínio de máquinas, equipamentos e softwares (hard skills), habilidades comportamentais como pensamento crítico, inteligência emocional, criatividade e inovação (soft skills) e ações de saúde e segurança no trabalho, como inspeção de instalações, normas e regulamentos.

De acordo com Vitor Igdal, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos na Bahia (ABRH-BA), o desenvolvimento das competências que dizem respeito aos soft skills reflete uma mudança comportamental do mercado. “Houve uma ampliação de consciência sobre a importância intangível de se desenvolver um clima emocional mais positivo e potencializar o engajamento dos colaboradores. Inclusive, é comprovado que a cada 5% de aumento de engajamento dentro do ambiente de trabalho, há aumento proporcional de 3% de faturamento”, destaca.

Patrícia Evangelista afirma que as habilidades técnicas, também chamadas de hard skills, são importantes para a adaptação dos profissionais às novas demandas da indústria. “Nós temos um foco muito grande de formar pessoas que tenham alta produtividade nas empresas. Esse momento de requalificação é o momento para moldar os profissionais para os novos processos, procedimentos e tecnologias, bem como as demandas de integração e automação”, pontua.

Perspectivas de atendimento à área industrial

Segundo o Senai, para colocar em prática a qualificação dos profissionais da área industrial baiana até 2027, primeiro será avaliado o portfólio atual dos trabalhadores para só então haver uma adaptação às demandas do segmento. A entidade disse que as empresas serão ouvidas e, em consenso, será elaborado um plano para possibilitar a oferta de cursos e programas de capacitação.

A Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) disse que entende a capacitação profissional como direito e política pública fundamental para adequação entre as demandas do mundo do trabalho, da sociedade e dos grandes investimentos públicos e privados do estado. Em razão disso, destacou que executa o Programa Qualifica Bahia de qualificação profissional, que oferta cursos conforme identificação de demanda.

A pasta disse que há perspectiva de abertura de 150 vagas para o Curso de Qualificação BYD até o início de 2025, em parceria com o Senai. O Qualifica PAC Linhas de Transmissão é outro curso que vai oferecer qualificação profissional para trabalho na implantação de linhas de transmissão nos municípios de Irecê, Jequié, Juazeiro, Teixeira de Freitas e Vitória da Conquista, e visa alcançar 600 pessoas interessadas na carreira de eletricista industrial.

Por fim, a Setre informou que o Programa Manuel Querino prevê para o período 2024-2026 investimento de mais de R$ 22 milhões, na capacitação de mais de 17 mil trabalhadores em 205 municípios, contemplando os 27 Territórios de Identidade da Bahia.

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) foi procurada para informar o plano de ação para atender a demanda de qualificação de profissionais na indústria da Bahia até 2027, mas não respondeu a reportagem.