Arcebispo de Salvador dissolve Devoção do Senhor do Bonfim e nomeia interventor
Entenda o caso
-
Maysa Polcri
maysa.polcri@redebahia.com.br
O cardeal Dom Sergio da Rocha, arcebispo de Salvador, decretou uma intervenção na Irmandade Devoção do Senhor do Bonfim e o afastamento imediato de Jorge Nunes Contreiras, que atuava como juiz da congregação desde janeiro deste ano. A decisão foi tomada três meses após o conflito entre o padre Edson Menezes, reitor da Basílica do Bonfim, e o então juiz se tornar público. O escolhido para ser o interventor é o padre Abel Pinheiro.
No documento em que Dom Sergio da Rocha decreta a intervenção, o qual o CORREIO teve acesso, o arcebispo afirma que a medida foi tomada com o objetivo de “restaurar a paz diante dos conflitos existentes entre os membros da Devoção”. Na prática, Abel Pinheiro terá 180 dias para garantir uma nova eleição dos integrantes da irmandade, que teve a mesa diretora dissolvida. O interventor tem autorização para admitir e demitir funcionários, firmar contratos, além de ser o novo gestor do Projeto Bom Samaritano, obra social gerida até então por Edson Menezes.
Com a decisão, o padre Edson Menezes deixa o cargo de capelão da Devoção do Senhor do Bonfim, mas segue como reitor da Basílica, podendo celebrar missas e realizar confissões. Em nota, a Arquidiocese de São Salvador da Bahia afirma que a intervenção foi decretada depois que “todas as possibilidades de entendimento para o fim dos conflitos” foram esgotadas.
“O objetivo da intervenção é promover a unidade e a paz, gerir a Devoção e o Projeto Bom Samaritano, a fim de que continuem a sua missão de promoção do culto ao Senhor do Bonfim e a solidariedade com os irmãos mais necessitados”, pontua a Arquidiocese. A reportagem tentou entrar em contato com os padres Abel Pinheiro e Edson Menezes, mas não obteve retorno até esta publicação. O juiz deposto, Jorge Nunes Contreiras, não foi localizado.
Relembre o caso
Desde de janeiro deste ano, o padre Edson Menezes, 65 anos, da Basílica do Senhor do Bonfim, afirma ser alvo de "perseguição" de Jorge Nunes Contreiras, juiz da Irmandade na época. Em maio, a disputa que envolve o religioso e parte da Irmandade se tornou pública e motivou reações de ambos os lados: manifestação em defesa do padre e agendamento de reunião extraordinária.
O imbróglio teve início quando Jorge Nunes Contreiras tomou posse, dizem fiéis que frequentam a Basílica, mas piorou ao longo dos meses. Sob a condição de não ter o nome exposto pela reportagem, um integrante da Irmandade disse que uma parte minoritária, mas poderosa, do grupo "não respeita o padre".
As primeiras brigas foram motivadas por desavenças durante os preparativos para a festa do Bonfim deste ano, com tentativas de interferências da Irmandade na programação, há 16 anos organizada pelo padre Edson. Uma reunião chegou a ser marcada para decidir sobre "mudanças de poderes" instituídos ao padre Edson Menezes, mas não chegou a acontecer.
Entre os desejos de Jorge Nunes estava a assinatura da Carteira de Trabalho do padre e limitação quanto ao recebimento das arrecadações financeiras das missas de sextas-feiras e das caixas laterais da igreja.