Ao menos 10 terreiros foram alvos de depredação em dois anos
Caso mais recente aconteceu em Lençóis
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Maysa Polcri
maysa.polcri@redebahia.com.br
Pelo menos 10 terreiros foram alvo de depredações na Bahia desde 2022. As informações fazem parte do levantamento da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA), o qual o CORREIO teve acesso. O último episódio aconteceu no domingo (21), quando servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) destruíram um templo religioso no Parque Nacional da Chapada Diamantina.
Os agentes realizavam uma operação de combate ao desmatamento ilegal e ocupação irregular quando demoliram parte do Terreiro de Jarê Peji da Pedra Branca, em Lençóis. O ICMBio admitiu o erro e disse que o imóvel foi destruído porque não havia indícios externos de que se tratava de um templo religioso. Lideranças locais denunciam que foram alvo de intolerância religiosa. O caso é investigado pela Polícia Civil.
Em janeiro do ano passado, um homem invadiu o Terreiro Casa de Xangô, em Vitória da Conquista, e destruiu objetos religiosos. Segundo o líder da casa de candomblé, Pai Lucas de Xangô, o invasor mora próximo ao templo e é filho de um pastor evangélico.
O levantamento da AFA inclui episódios semelhantes registrados em outras cinco cidades da Bahia: Salvador, Lauro de Freitas, Eunápolis, Dias D’Ávila e Itaetê. Uma das denúncias foi feita por Pai Weslei, do Terreiro Nzo Tumbá Kreuizilé Keuamazi, em Sussuarana, na capital baiana. Segundo a AFA, uma vizinha do terreiro joga baldes de água nas oferendas feitas pelo religioso.
Neste mês, o CORREIO noticiou que a Bahia registrou 90 denúncias de violação contra a liberdade religiosa e de crença no primeiro semestre deste ano. Foram 15 por mês, em média. Os casos podem ser relatados pelo Disque 100. Intolerância religiosa é crime com punição de um a três anos de prisão.
Episódios de depredação em terreiros, segundo a AFA
2022
Ilê Axé Gbamin (Lauro de Freitas): 10 assentamentos de orixá foram retirados do terreiro sem autorização
Ilê Axé de Logun Edé (Eunápolis): um culto foi realizado na porta do terreiro e objetos sagrados foram quebrados
Ilê Axé Alafin Oyá Ohun Balé (Dias D'Ávila): uma vizinha arremessa pedras no telhado e ameaça jogar bomba no terreiro
2023
Nzo Reino de Nzaazi: Casa de Xangô (Vitória da Conquista): o terreiro foi invadido e objetos sagrados destruídos
Ilê Axé Airá Tolami (Dias D'Ávila): portas e janelas foram arrombadas, além de objetos pessoais, eletrodomésticos e alimentos furtados
Ilê Axé Oyá Gemin (Lauro de Freitas): terreiro foi arrombado e depredado
Ilê Axé Pai Xangô Aganju (Itaeté): três incêndios atingiram o terreiro sem motivos aparentes. Vizinhos ameaçam o culto e a existência do terreiro
Ilê Axé Onipó Filho (Salvador): vizinho quebra os vidros da janela do barracão, adentra o local e quebra elementos religiosos
2024
Nzo Tumbá Kreuizilé Keuamazi (Salvador): oferendas feitas pelo líder religioso são depredadas por uma vizinha
Terreiro de Jarê Peji da Pedra Branca (Lençóis): foi destruído por agentes do ICMBio