Americano se jogou duas vezes contra janela tentando fugir antes de cair do 2° andar, diz delegada
Zachary usou tornozeleira de março a agosto, acusado de agredir garota de programa, e no último fim de semana esfaqueou namorada e taxista
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Wendel de Novais
wmoreira@redebahia.com.br
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Da Redação
redaçao@redebahia.com.br
O americano Zachary Modi Mikaya, 30 anos, se atirou duas vezes contra a janela ao notar a chegada da polícia, terminando por cair do segundo andar do quarto de hotel onde estava, no Stiep, em uma tentativa de fuga. Suspeito de esfaquear a namorada e um taxista no último fim de semana, na Barra e na Graça, Zachary seria preso pelo crime na manhã desta terça-feira (12), mas pulou da janela e morreu no local.
"A gente estava adentrando o imóvel, só que apesar da gente ter recebido acesso através da administração interna, estava com uma tranca interna, o pega-ladrão. E quando a gente entreabriu a porta ele correu, a gente ainda ouviu o barulho dos vidros quebrando. A gente fez a perícia agora, o perito fez a constatação de que apesar da janela abrir apenas 12 centímetros, ele se precipitou uma vez, quebrou o vidro, por isso está com escoriaçoes na região do pé, retornou e num segundo momento conseguiu quebrar o vidro e se jogar. Caiu por 12 metros", disse a delegada Mariana Ouais, titular da unidade da Barra, que investiga os crimes que aconteceram no final de semana.
A delegada crê que o pulo foi realmente uma tentativa desesperada de fuga de Zachary, que tinha mandado de prisão por tentativa de feminicídio e tentativa de homicídio. "Tentativa de fuga com certeza, porque se tivesse intenção de efetivamente se suicidar, não esperaria chegada da polícia. Acho que foi tentativa de fuga. Nós solicitamos exame toxicológico para saber se efetivamente ele estava sob influência de entorpecente, mas não retiro essa possibilidade", acrescentou. Não foram encontradas drogas no quarto de hotel.
Segundo Ouais, os policiais não conseguiram sequer estabelecer um diálogo com Zachary. "A gente nem conseguiu conversar. Quando a gente abriu a porta, o pega-ladrao estava colocado, e só abre poucos centímetros. Quando ele percebeu a presença da polícia, ele se arremessou por duas vezes. Primeiro bate, quebra o vidro. Aí ele volta, se fere nos vidros quebrados já no chão, tem resíduo de sangue na cama, onde ele se apoiou, e também no chão".
O suspeito deu entrada no hotel no Stiep no domingo, usando uma carteira de motorista dos EUA falsificada, com outro nome. Ele também estava com aparência diferente, com cabelos cortados. Mesmo assim, o trabalho de inteligência da polícia o localizou no local e equipes das delegacias da Barra e do Rio Vermelho, onde ele foi investigado em março acusado de agredir uma garota de programa, fariam a prisão hoje.
Depois de ser preso em março no Rio Vermelho, Zachary saiu em liberdade após pagar fiança e usou tornozeleira eletrônica até agosto. "Em agosto essa medida foi retirada, e ele não estava sendo monitorado", diz a delegada. "Os advogados dele me disseram que houve solicitação ao Judiciário para fazer retirada dessa medida restritiva da tornozeleira. Certamente devem ter comprovado que não existia mais necessidade de fazer esse monitoramento", acrescenta ela.
A atual namorada de Zachary, que já teve alta médica após ser esfaqueada pelas costas por ele, foi ouvida duas vezes pela delegada e descreveu um relacionamento harmonioso, sem saber o que teria motivado o ataque. "Disse que a relação deles era muito boa, nunca teve episódio de agressão, comportamento mais explosivo da parte dele. Relação que ela dizia que era muito boa. Uma pessoa que sempre tratou ela muito bem, segundo ela, não teve discussão, desentendimento entre eles, então pode ter sido um surto", acredita.
A delegada diz que com a morte de Zachary os inquéritos sobre os ataques no fim de semana devem ser encerrados. "O mais importante que não pode ser esquecido é o esclarecimento dos dois crimes que ele em tese cometeu. A tentativa de feminicídio contra a namorada e a tentativa de homicídio. Isso a gente dá meio por encerrado, porque já tem a autoria, a materialidade do delito, tanto que a gente veio dar cumprimento ao mandado de prisão".
A delegada diz que não tem conhecimento de que foi pedida a extradição de Zachary em algum momento - esse tipo de assunto é da alçada da Polícia Federal, acrescenta. "No pedido de preventiva, a gente já pediu retenção e apreensão do passaporte dele. Essa parte de deportação, extradição, a gente vê com a Polícia Federal. A gente já estava numa parceria com a PF para assim que finalizasse os trâmites e efetuasse a prisão dele, a PF tomaria frente dessa parte. A gente não ter informação de já ter processo de extradição", explica.
Prisão
Em março desse ano, Zachary foi preso por suspeita de violação sexual mediante fraude, acusado de agredir uma garota de programa. Ele pagou fiança de R$ 10 mil e foi liberado com uso de tornozeleira eletrônica - ele usou o equipamento por determinado período, mas já estava sem. O americano foi preso depois que uma viatura da Polícia Militar, que passava pelo Rio Vermelho, ouviu o relato da garota de programa que denuciou o suspeito, dizendo que ele não queria pagar o programa e tentou enforcá-la.
Sob efeito de drogas, Zachary acabou agredindo a mulher. O americano chegou a segurar uma pistola de um policial e ainda se masturbou na frente dos agentes dentro do apartamento dele, onde foi detido. Ele era engenheiro de software do Massachusetts Institute of Technology (MIT) quando o crime aconteceu.
Neste final de semana, ele voltou a se envolver em mais crimes na capital baiana. Uma mulher que teria relacionamento com Zachary foi esfaqueada na Rua Afonso Celso e socorrida por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ela já recebeu alta.
Logo em seguida, um taxista foi esfaqueado na Avenida Princesa Leopoldina, no bairro da Graça. Ferido no braço e pescoço, o homem contou que foi atacado por um suspeito que tinha as mesmas características do autor do crime na Barra. O taxista está internado no Hospital Geral do Estado (HGE).
Zachary Modi Mikaya é natural da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e estava trabalhando na capital baiana por meio de homeoffice há cerca de 1 ano, com o visto de turista. Ele veio para Salvador acompanhando a ex-namorada, que é baiana, com intenção de ficar seis meses, mas acabou permanecendo mais. Em março, ele morava em um prédio de luxo no Rio Vermelho com a então companheira, que é brasileira. A vítima atacada no final de semana já era outra namorada do rapaz.