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Raquel Brito
Publicado em 14 de novembro de 2023 às 22:20
O clássico da literatura brasileira Capitães da Areia possui uma adaptação estadunidense para o cinema que marcou Jorge Amado e Dorival Caymmi na então União Soviética, na década de 70.
Isso porque uma das músicas-tema do filme foi Canção da Partida, de Caymmi, que ganhou uma versão em russo no país e foi uma sensação entre os jovens da época. O presidente russo Vladimir Putin, inclusive, cita Capitães da Areia em sua biografia.
Essa é uma das curiosidades trazidas em Amadas Canções, mesa musical que conta histórias da vida do escritor com base em músicas e artistas que as cercaram: desde as seis canções que surgiram da amizade com Caymmi à emblemática “Modinha Para Gabriela”,interpretada por Gal Costa.
A edição mais recente da apresentação, que é conduzida por Maria João Amado e Guida Moira foi realizada nesta terça-feira (14), na Casa do Rio Vermelho, em celebração aos nove anos da inauguração do espaço como museu.
De acordo com Maria João, neta de Jorge e gestora da Casa do Rio Vermelho, onde os avós moraram por quase cinquenta anos, é uma vitória comemorar mais um ano de museu com uma homenagem ao avô.
“Como gestora, apresentar para o público de Salvador um espaço que traz a Bahia raiz, que mostra quem nós somos e homenageia o escritor Jorge Amado é muito importante. Como família, é [um modo de] devolver tudo que a Bahia fez por nós, apresentar para o povo daqui uma retribuição a todo carinho e amor que sempre nos foi dedicado”, diz.
Guida Moira, artista responsável por dar voz às canções, como Milagres do Povo e Alegre Menina, durante a performance, afirma que o show é uma forma de renovar a forma de olhar para as obras de Jorge Amado.
“Ele sempre teve essa relação com a música e isso não é tão falado. Aqui nós trazemos outros lados da vida dele, então é bem enriquecedor para aqueles que gostam da obra e dele como pessoa. Para mim, é um presente estar aqui”, afirma.
Para Rogéria e Rebeca Sampaio, presenciar a história do escritor, contada através de canções, sobretudo no aniversário da Casa do Rio Vermelho, também foi um presente. Tia e sobrinha cariocas, elas já visitaram o museu juntas cinco vezes. Rogéria, de 63 anos, carregava o livro Mar Morto durante a apresentação.
Orgulhosa, contou que, para além do livro, leva o escritor na pele aonde quer que vá.“Rebeca fez um concurso e nós viemos conhecer a casa. Aqui, eu prometi que se ela passasse, tatuaria a espada de Oxóssi no meu pulso, e foi atendido. Toda vez que eu venho em Salvador, passo aqui para sentir o astral. Parece que Jorge Amado está aqui, me dá paz”, conta, mostrando a tatuagem no braço direito.
A sobrinha compartilha do sentimento de Rogéria. Para Rebeca, defensora pública de 35 anos, a alma do escritor está em todos os detalhes da casa. “Eu sempre fico feliz em ver que o espaço foi preservado, e não só o espaço físico, porque o espírito dele parece estar em tudo aqui, o que é muito bonito. E hoje foi mais especial ainda, com essa correlação entre a música e o que ela representa na obra de Jorge”, diz.
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela