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Alunos de campi do interior da Uneb sofrem com a falta de professores


 

Universidade possui apenas cerca 2,5 mil professores espalhados por 27 unidades

  • Millena Marques

Salvador
Publicado em 16/10/2024 às 07:00:00
Campus IX da Uneb, em Barreiras, no oeste baiano. Crédito: Reprodução/Google Street View

A Universidade do Estado da Bahia (Uneb) possui cerca de 2,5 mil professores espalhados por 27 campi e 31 departamentos de ensino. Essa atual composição, no entanto, não atende a demanda dos 25 mil estudantes, segundo os próprios alunos da organização estadual e os professores.

De acordo com a estudante de Medicina Veterinária Adriele Lira, de 23 anos, o Campus IX, localizado em Barreiras, no oeste baiano, sofre com a falta de professores. “Nós temos matérias importantes que não conseguimos pegar porque os professores estão superlotados. Não tem nenhuma turma semestralizada”, disse a aluna, que esteve presente no ato feito por professores em frente à Secretaria da Educação (SEC), no Centro Administrativo da Bahia, nesta terça-feira (15).

Segundo Adriele, muitos alunos colocam matérias que são ministradas por professores de outras áreas só para cumprir a carga horária. “No nosso cronograma, a gente deveria pegar sete matérias, mas entramos, no primeiro semestre, pegando quatro. A primeira turma de Medicina Veterinária (de Barreiras) se formou esse semestre”, contou.

O curso de Medicina Veterinária tem previsão de conclusão de cinco anos. No entanto, com a falta de professores, os alunos atrasam a formatura. “São sete anos. E ainda tem gente que não se formou e que não tem, inclusive, previsão de se formar. Se você perder em uma matéria, tem que esperar muito tempo para ter uma nova turma”, completou.

No Campus XI, em Serrinha, no centro-norte do estado, a situação é a mesma. Quando Érica Magalhães, 26 anos, estava no quinto semestre do curso de Geografia, um dos professores desistiu de ministrar as aulas e o sistema só convocou o substituto cerca de um mês e meio.

“Isso gerou um atraso significativo no nosso aprendizado. Para contornar essa situação, tivemos que recorrer a disciplinas remotas com professores de outros campi, o que também não é ideal”, afirmou Érica. Ainda segundo ela, a estratégia adotada pelo sistema adiantou o semestre, mas “não substituiu a necessidade de um corpo docente estável e presente.”

A realização de mais concursos públicos para a contratação de novos professores é, inclusive, uma das reivindicações da Associação dos Docentes da Uneb (Aduneb). No momento, até tem um concurso em andamento para 102 vagas, entre professores e técnicos. O problema? A seleção acontece por Regime Especial de Direito Administrativo (Reda), criticado por alunos e professores.

“O Reda é temporário. Além disso, o professor se sobrecarrega. Todas as demandas vão para ele”, disse Lívia Brandão, 20 anos, estudante de Medicina Veterinária do Campus IX. “Hoje nossa grade tem oito matérias, mas duas estão esperando os professores Reda. A gente está cansado de Reda porque o professor chega no meio do semestre e dá uma aula resumida para gente”, concluiu.

A professora Caroline Lima, do Comando de Greve da Aduneb, afirmou que a crítica não é sobre o professor substituto, mas sim contra o contrato Reda de seis anos. “Porque inviabiliza o concurso público e precariza o trabalho docente. Defendemos o concurso público e combatemos a precarização do trabalho docente”, disse.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Educação (SEC), que solicitou o concurso, e com a Secretaria de Administração (Saeb), responsável pela contratação, mas não obteve respostas até a publicação desta matéria.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro