Alunos da Uneb relatam insegurança por conta de tiroteios nas imediações da instituição
Universidade anunciou suspensão das atividades acadêmicas e administrativas nesta quinta-feira (3)
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Gilberto Barbosa
gilberto.neto@redebahia.com.br
Devido a violência na região de Tancredo Neves na noite da última quarta-feira (2), a Universidade do Estado da Bahia interrompeu as atividades nesta quinta-feira (3). Em nota, a instituição declarou que as atividades acadêmicas e administrativas seriam suspensas no campus do Cabula no turno matutino.
"A Gestão Universitária já acionou as forças de segurança pública para apuração dos fatos recentes, demandando medidas que garantam a segurança e o bem-estar da comunidade universitária e do entorno", afirmou a Uneb.
Durante o caso de quarta, um tiroteio deixou uma pessoa baleada, que entrou nas dependências da instituição e tentou acessar o Restaurante Universitário (RU). Servidores e estudantes precisaram evacuar o local às pressas. "O cara baleado sangrando está lá sentado na frente do RU", relatou um estudante em um grupo de mensagens.
A reportagem do Correio* esteve na Rua Silveira Martins na tarde de quinta. Não havia alunos na universidade, que teve as aulas interrompidas no dia 27 de setembro após os docentes declararem greve. Ainda assim, os estudantes relatam se sentirem inseguros durante o período letivo.
“Eu já deixei de ir à faculdade no semestre passado por medo da insegurança, principalmente quando ocorreram operações nos bairros ao redor da Uneb. Como eu estudo no turno da noite e as aulas acabam às 22h, a solução é tentar chegar mais cedo na universidade e sair antes do final da aula para evitar o campus deserto”, conta um estudante de ciências contábeis.
A Uneb faz fronteira com o bairro da Engomadeira. A relação da universidade com a comunidade não se resume somente à proximidade, mas tem raízes na origem histórica do bairro, oriundo do Quilombo do Cabula. Por conta da integração social com o local, muros para separar o ambiente acadêmico da área abarcada pelo bairro não fazem parte da estrutura da instituição.
Por isso, a construção de muros ao redor da universidade para fechar o “buraco”, como chamam os estudantes, e a instalação de catracas para controlar o acesso ao espaço fazem parte do pleito dos alunos. Eles alegam que a mesma passagem usada por moradores para "cortar" caminho, é utilizada tanto por criminosos, quanto pela polícia.
“A gente entende que a criação do muro vai contra a ideia da democratização do espaço público, mas como são casos recorrentes, a necessidade é evidente. A comunidade acadêmica não pode ficar sempre correndo perigo e esse sentimento não é de um grupo pequeno, mas de muitos colegas de classe que desejam que ele seja construído”, completa o estudante.
Já um estudante de administração, que pediu para não ser identificado relata que a sensação de insegurança se intensifica no período noturno já que a iluminação e o efetivo de segurança no local são insuficientes. “Não há controle das pessoas que entram e saem da universidade, então alguns criminosos aproveitam e invadem a Uneb para fugirem da polícia. A iluminação é precária e o número de seguranças no campus é muito pequeno, principalmente à noite”, diz.
O suspeito ferido no RU foi socorrido pelas equipes de segurança da Uneb e levado ao Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), de onde foi encaminhado para o Hospital Geral do Estado. O caso da última quarta ocorreu na localidade do Buracão, em Tancredo Neves durante uma ação da Polícia Militar (PM) na região. Um outro homem foi atingido durante a troca de tiros com a polícia e socorrido para o HGRS, onde não resistiu.
"Os PMs realizavam ações de intensificação do patrulhamento na região, quando se depararam com um grupo de criminosos, que atirou contra os militares. Houve revide. Após o confronto, um suspeito foi encontrado ferido, sendo imediatamente socorrido para o Hospital Roberto Santos, onde não resistiu aos ferimentos", declara a PM.
A Uneb foi questionada quanto a aparição do suspeito baleado no RU e sobre a possibilidade de fechamento do acesso à Engomadeira. No entanto, não houve retorno até a publicação desta reportagem.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro