Advogada passa mal em audiência por causa do calor
Irna Verena teve uma queda de pressão durante sessão na Vara Cível da Comarca de São Francisco do Conde
-
Millena Marques
milena.marques@redebahia.com.br
Se é difícil trabalhar no calor com roupas leves, imagine para quem tem que utilizar roupas formais diariamente, como é o caso dos advogados. O incômodo gerado pela vestimenta do profissional de advocacia já é pauta em diversos grupos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), inclusive na Bahia, onde as altas temperaturas costumam ser registradas com frequência e chegam a causar desconfortos até mesmo durante audiências. Esse foi o caso da advogado Irna Verena, que teve uma queda de pressão durante a defesa de um caso, em São Francisco do Conde.
Especialista em Direito Civil, Direito da Família e Direito Público, Irna foi protagonista de um desses episódios durante uma audiência há dois meses, no município da Região Metropolitana de Salvador. Era manhã de uma terça-feira quando a advogada começou a apresentar sinais de desconforto durante uma sessão na Vara Cível da Comarca de São Francisco do Conde
O dia estava tão quente que, apesar de estar munida com uma garrafinha de água e paramentada com roupas formais de tecidos mais leves, a advogada não resistiu e apresentou uma tontura durante a audiência, que só não foi interrompida por causa da complexidade do caso. "Eu passei mal de verdade, tive uma tontura, mas não quis fazer alarde porque o caso era muito complexo. Me mantive firme, mas, quando cheguei em casa, vi que a pressão tinha caído", relata.
"Precisamos reavaliar o que realmente se ganha com toda essa formalidade. O que fere a visão das pessoas sobre a advocacia, de uma forma geral, está muito mais ligado às más condutas dos colegas. Então, acho que deveríamos estar mais preocupados em zelar pela boa assistência que pelo distanciamento provocado pela formalidade", afirma.
São Francisco do Conde costuma registrar temperaturas em torno de 29°C. A reportagem entrou em contato com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), solicitando a maior temperatura registrada no município neste ano, mas o órgão informou que não possui estação meteorológica na cidade. "Eu nem estava com uma roupa tão abafada, procurei vestir calça e camisa com tecidos mais leve, mesmo assim passei mal", diz Verena.
Além de atender em escritório próprio e na assistência judiciária da prefeitura de São Francisco do Conde, Irna Verena também atende em Salvador. De acordo com a advogada, a utilização de trajes formais "não condiz com o clima de cada cidade". Além disso, Verena ainda questiona a forma como as advogadas precisam se preocupar em relação a vestimentas.
"O que mais me incomoda é que nós, mulheres, ainda precisamos nos preocupar com altura de saias e profundidade de decotes", afirma.
Proposta pode mudar
Um grupo de advogados da OAB-BA pretende apresentar um projeto à Ordem para reivindicar a utilização de peças mais confortáveis no exercício da profissão. A equipe é formada por sete advogados, quatro mulheres e três homens. A criação surgiu por meio da ideia do conselheiro Adriano Batista e definida, de fato, pela presidente da OAB-BA, Daniela Borges. Eles buscam estudar sugestões de revisão da Nº 005/2015-CP, que dispõe sobre a regulamentação do traje no exercício profissional da advocacia.
A ideia ainda é prematura, mas já é vista com bons olhos por alguns profissionais da advocacia, inclusive por Irna Verena. "A justiça precisa ser acessível, e as pessoas precisam entender que podem e devem dispor dela. Eu defendo a permissão de outras peças, sim, até porque, na dinâmica das relações atuais, precisamos de fluidez. Gostaria de poder usar roupas mais fluidas e leves sem me sentir de alguma forma julgada ou diminuída", pontua.
O grupo vai apresentar um novo projeto de resolução à OAB que pode solicitar a permissão de camisas de manga curta, sendo de botão, ou gola polo. Essas peças seriam utilizadas em um período específico do ano, especialmente em estações mais quentes. A ideia ainda é prematura, mas deve ser apresentada até o final deste ano, com previsão de ser votada em fevereiro ou março de 2024. Quem aprova ou não o documento é o conselho da OAB.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro