'Achava que meu filho estava seguro em casa', desabafa pai de menino Joel
Julgamento começou nesta segunda-feira (6), no Fórum Ruy Barbosa
-
Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br
Pai do menino Joel, o capoeirista Joel Castro não segurou a emoção durante depoimento prestado no julgamento dos policiais apontados como autores dos disparos que mataram a criança. O júri popular, que deve durar até uma semana, começou nesta segunda-feira (6), às 9h, com uma hora de atraso, no Fórum Ruy Barbosa.
No local, o pai do garoto contou que, no dia em que perdeu o filho, os dois tinham ido à igreja. "Deixei meu filho em casa. Terminou o culto, voltei para casa e cochilei. Ele estava na sala. Nunca vou esquecer o que ele me disse antes do que aconteceu: "Pai, isso aí é tiro! Pai, vamos dormir". Depois disso eu ouvi um barulho. Era Joel, que caiu no chão", disse bastante emocionado.
"Foi uma chuva de tiros, ninguém da comunidade queria abrir a porta, com medo. Eu gritei: 'Socorro! Vocês mataram meu filho'. Havia muitos policiais. Fui pedir socorro e eles começaram a andar mostrando a arma para mim. Um deles disse: 'O tiro não veio daqui, veio de lá', apontado para outra direção, indicando que foi o tráfico", disse Joel, relatando que os PMs não prestaram socorro.
Ao ser perguntado se sabia qual organização criminosa agia no bairro na época do crime, o pai de Joel foi enfático."Olhe, doutor, eu não tenho o que dizer, porque trabalho muito. A única coisa que sei é que achava que meu filho estava seguro dentro de casa. A perícia apontou quem matou o meu filho", disse.
São julgados pela morte do menino o ex-policial militar Eraldo Menezes de Souza e do tenente PM Alexinaldo Santana Souza. Foi da arma de Eraldo que partiu o tiro que matou o menino. Já o tenente foi denunciado pelo Ministério Público porque estava no comando da operação.
Durante o julgamento, o pai também foi questionado se sabia quem tinha assassinado Carlos Alberto Conceição dos Santos Júnior, primo de Joel, assassinado em junho de 2013, dois anos após o crime que vitimou a criança. "Foi a polícia. Inclusive, a mãe dele está sendo ouvida agora, lá em Sussuarana. Eu conhecia Júnior, era um menino dedicado, trabalhador", disse. A audiência do caso do primo de Joel acontece no mesmo dia do júri dos PMs acusados de matar o menino de 10 anos.
Antes de encerrar seu depoimento, o capoeirista falou com saudade sobre o filho. "Joel só queria viver. Ele dividia tudo comigo, era um menino incrível. O objetivo dele sempre foi ajudar a família", contou sem controlar o choro. Durante o depoimento de Joel, algumas pessoas da plateia se emocionaram e choraram junto com o pai.
Para compor o júri, foram escolhidas 21 pessoas: cinco homens e duas mulheres. além de outras 14 testemunhas - quatro de acusação e 10 de defesa, sendo cinco de cada réu.