‘A gente nem dorme mais’, diz empresária que manda 20% da produção de vinhos para Salvador
Vinícola estima prejuízos em torno de R$300 mil
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Maysa Polcri
maysa.polcri@redebahia.com.br
Enquanto acompanhava as notícias das enchentes no seu estado, Naiana Argenta estava ansiosa para ver de perto os estragos causados pela lama na cantina da vinícola Valparaíso, no município de Barão (RS). No local onde os vinhos gaúchos são produzidos, a água invadiu e atingiu um metro de altura. A falta de luz e água dificultou a limpeza, que está sendo feita com a ajuda de voluntários há duas semanas. Referência na produção do Rio Grande do Sul, cerca de 20% dos vinhos da empresa são vendidos para Salvador.
A estimativa é que os prejuízos ultrapassem os R$300 mil por conta das chuvas e alagamentos na vinícola. A safra já havia sido colhida em abril, mas alguns vinhos estavam sendo produzidos quando a água invadiu o espaço. “Estamos sem faturamento há duas semanas e tentando organizar o que conseguimos. É horrível tirar a lama porque ela ficou parada durante oito dias”, conta Naiana Argenta, sócia e filha do fundador da vinícola. Em Salvador, os impactos são sentidos com a falta de alguns rótulos no mercado.
O local ficou sem energia e luz durante oito dias, o que dificultou a limpeza, feita apenas com pás naquele momento. “É um trabalho triste, tem lama em todos os cantos. Pegou em rótulos, máquinas ficaram submersas durante dias e não sabemos se vão voltar a funcionar. Alguns tanques que estavam em fermentação viraram e perdemos a produção”, relata os prejuízos.
O avanço do serviço da limpeza não apaga as memórias dos momentos mais delicados. “No final de semana, choveu direto e quase fomos inundados de novo. Parece que não aconteceu pela mão de Deus porque foram uns cinco centímetros. A gente nem dorme mais de noite. Escutamos a chuva e pensamos que a água está entrando de novo”, lamenta.
A propriedade que abriga a vinícola foi comprada em 2006 pela família de Naiana. Na década de 1970, a área foi considerada a maior plantação de uva do Brasil, sendo conhecida como Granja Valparaíso. As videiras são plantadas em duas áreas, sendo uma 50 metros mais alta.
“Na parte de campo, as duas pontes que servem de acesso às propriedades estão obstruídas. Na parte de cima ainda não sabemos porque, como há risco de deslizamento, não conseguimos subir”, explica a empresária. Há dificuldades para escoar os produtos pelas estradas, que estão obstruídas. Normalmente, os produtos percorrem 100 quilômetros de Barão até a capital Porto Alegre e depois seguem até São Paulo, de onde são distribuídas.
Em meio a crise, uma rede de solidariedade foi formada para ajudar as vinícolas mais atingidas pelos estragos. “Foram 12 horas de trabalho apenas no sábado. Recebemos reforço de mão de obra de outras empresas, que, sensibilizadas, ofereceram ajuda. Elas são concorrentes, mas estenderam as mãos para nos ajudar”, diz.
A Defesa Civil do Rio Grande Sul confirmou que 148 pessoas morreram vítimas dos impactos das enchentes no estado. O número foi divulgado no boletim publicado na tarde de terça-feira (14). Além disso, 124 pessoas estão desaparecidas.
Ainda segundo o órgão, 446 municípios foram afetados e 76.884 pessoas estão vivendo em abrigos. Há também outros 538.545 desalojados, 806 feridos e, ao todo, 2.124.203 pessoas que vivem no estado foram afetadas.