1° diretor negro da Faculdade de Medicina quer 'elevar' a instituição
Apresentada nesta segunda (14), a nova diretora da Faculdade de Medicina quer reintegração e aposta na união da diversidade
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
A apresentação da nova diretoria da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB/UFBA) celebrou não apenas a vitória do médico e professor Antônio Alberto da Silva Lopes na eleição para diretoria da FMB junto a seu vice, Eduardo Borges dos Reis, como também a conquista por maior diversidade na instituição, que tem, pela primeira vez na história, uma pessoa negra ocupando o cargo de diretor.
Em seu discurso, Antônio Alberto ressaltou o papel da união para conseguir avanços para a instituição. ”Estou confiante de que, com a colaboração de todos, iremos elevar a Faculdade de Medicina da Bahia a outros patamares. Eu acredito que a nossa união resultará no crescimento da FMB e da Universidade, capacitando-nos para transformar nossos esforços e compromissos em benefícios para todos”, disse.
Com capacidade máxima de público atingida, o Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia, no Canela, foi o palco do evento na tarde desta segunda-feira (14), que reuniu autoridades, familiares e movimentos sociais, dentre eles movimentos negros de expressão, como o Movimento Negro Unificado da Bahia (MNU-BA). Esses grupos acompanharam entrada da nova diretoria e aplaudiram de pé o professor Antônio Alberto, que foi alvo de ataques racistas, denunciados à ouvidoria da universidade, durante a campanha para a eleição.
O ato de apresentação teve início às 18h, quando foram convidados para compor a mesa o reitor Paulo Cezar Miguez; a secretária Gestão do Trabalho e da Educação no Ministério da Saúde, Isabela Cardoso de Matos Pinto; a secretária de Educação da Bahia, Adélia Pinheiro; Lorene Pinto, ex-diretora da FMB; e, por fim, o novo diretor e vice-diretor.
Em clima de festividade, o Hino Nacional e o Hino Ao Dois de Julho foram entoados pela voz da cantora Ana Paula Barreiro e pelas notas de piano tocadas pelo diretor da Escola de Música da Ufba (Emus/UFBA), José Maurício Valle. A dupla ainda puxou mais aplausos ao interpretar composições clássicas em uma apresentação que antecedeu o discurso do vice-diretor, o professor e médico Eduardo Borges, que destacou as principais missões que têm para a gestão da diretoria, que vai até 2027.
“Antônio Alberto e eu sabemos da nossa primeira missão, que é reunificar a FMB. [...] Vislumbramos que o professor Antônio Alberto seja uma esperança para a população negra, principalmente os jovens negros, [para mostrar] que existe outras possibilidades. Isso aumenta também a nossa responsabilidade. Toda essa simbologia tem que se concretizar, então vamos ocupar todos os espaços e propiciar oportunidades para essas populações”, prometeu.
A promessa não veio sem demonstração de ação concreta. Já anunciado pela diretoria, a criação do Centro Internacional de Estudos e Pesquisa das Populações Negra e Indígena foi novamente mencionada durante o discurso dos diretor e vice-diretor, bem como projetos de integração da FMB com a UFBA, expectativa de maior uso da tecnologia e promoção de uma semana livre para os estudantes de medicina durante o semestre, com o intuito de reduzir a sobrecarga e promover maior contato com a cultura na universidade.
Para Antônio Alberto, esses planos são o início de um projeto de investimento na juventude, como ocorreu com ele e seus irmãos quando jovens, acreditados desde sempre por seus pais, lembrados com carinho e emoção. “Eles foram incansáveis ao nos ensinar e nos conduzir a não recuar nas adversidades e para nos tornar, através dos estudos universitários, em médicos, profissionais da tecnologia e da informação, advogados, engenheiros, professores, cientistas e doutores”, exaltou.
No evento, o reitor da UFBA Paulo Cezar Miguez depositou confiança plena na nova diretoria da FMB. “Foi preciso 215 anos para termos um homem negro dirigindo a FMB. A consagração aqui se dá muito particularmente em relação à trajetória acadêmica de Antônio Alberto. Eu não tenho dúvida alguma do sucesso que a gestão do professor terá na universidade”, enfatizou.
Presente no evento, o diretor da Fundação Palmares João Jorge Rodrigues também definiu a eleição do novo diretor como avanço da diversidade. “É pactuar a história da Medicina com o Brasil, com a África e com o Caribe. Ao mesmo tempo, colocar um ponto final na tragédia da história de Nina Rodrigues na FMB, que escreveu um livro terrível contra os africanos no país. Essa apresentação hoje vira essa página. É uma vitória incrível”, finalizou.