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Daniela Leone
Publicado em 17 de novembro de 2023 às 05:00
Único atleta formado nas divisões de base do Vitória titular na campanha da Série B do Campeonato Brasileiro, Lucas Arcanjo escreveu o nome na história do clube do coração ao conquistar o acesso e o inédito título nacional. Um dos destaques da competição, o goleiro foi fundamental para que o time se sagrasse campeão com duas rodadas de antecedência.
Aos 37 minutos do 2º tempo do jogo contra o Novorizontino, ele ficou cara a cara com Felipe Marques e fez uma defesaça. Evitou o gol do rival e, na sequência, viu o Leão virar o jogo. A partida contra a equipe paulista foi uma das 35 do paredão na Série B. Jogador mais regular da equipe no campeonato, o goleiro desfalcou o time apenas uma vez porque estava machucado. Confira a seguir a entrevista exclusiva que o prata da casa concedeu ao CORREIO.
Como você se sente após conseguir o acesso e o título?
Para mim é um turbilhão de emoções, ainda mais porque eu subi da base. É um sonho realizado. Desde que eu subi para o profissional, tinha isso em mente, de um dia subir para a Séria A e ter um título nacional com o Vitória. Na verdade, ainda não caiu a ficha. Acho que só vai cair quando ver a taça. É muita emoção, impossível explicar.
Tem que colocar estrela no escudo do Vitória?
Tem que ficar marcado, né? Estrela dourada. É título nacional. Mas se não colocar, o importante é que estará na história. É o que importa.
Você é o único jogador da base que foi titular do time na campanha da Série B. O que isso representa?
É difícil ter a dimensão das coisas. Para mim que sou da base, esse título e esse acesso têm um peso bem maior, pelo amor que eu tenho ao clube. São nove anos de Vitória e passa um filme na cabeça, pelo tanto de gente que tinha na base e ficou pelo caminho, que queria ter essa oportunidade que eu estou tendo. Eu tinha que aproveitar e graças a Deus deu certo.
Após as eliminações precoces do primeiro trimestre, a diretoria do Vitória reformulou o elenco e contratou o goleiro Thiago Rodrigues, ex-Vasco. O que passou na sua cabeça no começo da Série B, em que tantas posições estavam ameaçadas?
Eu vi como uma oportunidade. Eu estava jogando no último ano e trouxeram mais um goleiro. Pensei: ‘pedi tanto a Deus por isso que não vou deixar escapar. Não vai ser fácil me tirar daqui’. Deu certo e me mantive na Série B.
Você fez defesas cruciais ao longo da competição, uma delas no final do 2º tempo contra o Novorizontino. Foi a mais marcante do campeonato?
Foi a minha defesa mais importante dessa Série B, pela circunstância. Se eles fazem o gol, seria muito difícil a gente conseguir o outro, porque eles iriam se fechar e já estava terminando o jogo. Desde o primeiro tempo, quando a gente tomou o gol, eu fiquei o tempo todo olhando para cima e dizendo: ‘ô Deus, eu quero só uma defesa para entrar para a história’. Passei o primeiro tempo todinho pedindo a Deus. Queria só uma defesa para entrar na história, para quando fossem ver esse jogo, estar lá a minha defesa. Quando teve o lance, que o cara veio cara a cara, eu pensei: ‘é agora, vou fazer essa defesa que foi a que eu pedi a Deus’. Eu estava tranquilo, com a confiança lá em cima. Esperei ele entrar dentro da área para fazer a ação, pois a gente tem uma zona de atuação dentro da área, da marca do pênalti até a pequena área. Esperei ele entrar nessa zona e, graças a Deus, deu tudo certo com a defesa. Está na história agora. Comemorei muito, como se fosse um gol, e falei ‘já foi, a gente vai virar ainda’.
O que foi fundamental para você fazer uma Série B tão regular?
O mental é muito importante. Um atleta de futebol tem que ter um psicológico muito bom e, para mim, foi um dos pilares para conseguir manter o nível em tantos jogos. Quero parabenizar o trabalho do Vitória com a psicóloga Miriam (Carla Rocha), que fez um trabalho muito bem feito com todos os atletas. O professor (Itamar) Ferreira (preparador de goleiros) também. É um conjunto.
Você ficou fora de apenas um jogo da Série B, contra o Tombense, na 11ª rodada, porque estava machucado. Já estava totalmente recuperado quando voltou a jogar ou não quis mesmo dar brecha à concorrência?
Eu não estava 100% não, mas voltei. Eu falei ‘um jogo já está bom, dois já é demais da conta’. Eu tive uma semana para tratar de manhã, de tarde e de noite. Fiz isso. Da panturrilha até embaixo do tornozelo estava inchado. A perna ficou gigante, toda roxa. Quero parabenizar o trabalho do departamento médico. Eu estava na dúvida se iria jogar, mas eles disseram para eu ter calma. Consegui jogar, voltei fazendo defesas difíceis e continuei tratando.
Qual o papel do técnico Léo Condé na sua permanência no gol do Vitória no começo da Série B após as decepções do time no início da temporada?
O professor Léo, quando chegou, conversou com os outros atletas e me chamou logo para conversar. Me disse ‘Lucas, fique tranquilo e faça seu trabalho, vou dar oportunidade para você continuar a mostrar seu trabalho, pois você não está aqui à toa. Faça o que você sabe fazer. Vai depender de você, pode ficar tranquilo que não vou fazer nenhuma sacanagem, sou homem com todos os atletas que merecem’. Ele me deu total confiança e bancou. O trabalho estava sendo bem feito e deu resultado.
O Instagram oficial do Vitória publicou um vídeo seu após o título cantando e tocando pandeiro. O goleiro do Leão tem um lado músico também?
Quando eu não estou treinando e jogando, meu negócio é pagode. É aquilo ali mesmo.
De que forma esta Série B vai ficar marcada no seu coração e na sua memória?
Da base, no elenco, somos eu, Marco Antônio e Léo Gomes. A gente conversa muito e esse título tem um peso triplicado pra gente, porque é nosso time do coração. É um grupo bem trabalhador. Todo mundo respeitou todo mundo. Quando teve que dar oportunidade para outro, não tinha conversinha. O bem de um era o bem para todos. A gente mostrou nossa força no vestiário e nos treinamentos nos jogos mais difíceis. Está na história e é muito gratificante pra gente.
Qual é a motivação para enfrentar o Sport após acesso e título conquistados?
Só de estar jogando diante da torcida já é uma motivação imensa, pelo que a torcida fez desde o começo do campeonato. A gente fez um primeiro trimestre horrível e a torcida ainda assim nos abraçou, fez aquele corredor contra a Ponte Preta. Tem aquela euforia, mas temos um grupo preparado, concentrado e vamos buscar a vitória.
O Sport está fora do G4 e ainda busca o acesso. Como você projeta esse jogo dentro das quatro linhas?
Não vamos mudar nosso estilo de jogo. O professor Condé até já conversou com a gente que vai ser um jogo difícil, porque o time deles é bem capacitado e vai vir aqui para tentar voltar para o G4. Vamos fazer nosso jogo como fizemos o campeonato inteiro, bem compactado e organizadinho. O bom é que não vai ter aquela pressão, porque a gente já está com o acesso e o título, mas vamos manter a pegada.
Você acabou de realizar um sonho. Qual a sua próxima meta no clube?
Agora eu quero jogar a Série A pelo Vitória. Também é um sonho jogar uma Série A. Aquele ambiente de jogo diferente, aquele clima de jogo de Série A.