‘O mercado está ansioso por soluções baseadas na natureza’, diz Helder Barbalho
Governador do Pará participa de evento promovido pelo jornal Correio e site Alô Alô Bahia
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Donaldson Gomes
donaldson.gomes@redebahia.com.br
Helder Barbalho, governador do Pará, acredita que a COP30, que será realizada no estado amazônico no final de 2024, será uma oportunidade para o mundo conhecer o “mosaico que é a Amazônia” – uma área que abriga a maior floresta tropical do planeta, diversos potenciais econômicos e uma população de quase 30 milhões de pessoas. “As soluções ambientais precisam dialogar com os desafios sociais do nosso estado e da região”, pondera Barbalho.
Segundo ele, hoje o Pará oferece oportunidades tanto para investidores que desejam melhorar a pegada de carbono de seus negócios e se associar a iniciativas de conservação da biodiversidade, quanto a novos negócios que surgem alimentados pela agenda climática. Um dos palestrantes do III Fórum ESG, promovido pelo CORREIO e o Alô Alô Bahia, Helder Barbalho ressaltou ainda a importância de que o país se mobilize em torno da catástrofe climática e ambiental no Rio Grande do Sul para colocar o assunto entre as grandes prioridades nacionais.
Helder Zahluth Barbalho é natural de Belém, nascido em 18 de maio de 1979, casado com a advogada Daniela Barbalho e pai de 3 filhos. Formou-se em administração pela Universidade da Amazônia e é pós-graduado com MBA Executivo em gestão pública pela Fundação Getúlio Vargas. Em 2018, elegeu-se Governador do Pará, sendo reeleito em 2022 em 1° Turno com mais de 70% de votos, sendo o Governador proporcionalmente mais votado do Brasil.
Atualmente é o presidente do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável dos Governadores da Amazônia Legal, reeleito por unanimidade de votos. Foi Ministro de Estado da Pesca e Aquicultura, Ministro-chefe da Secretaria Nacional dos Portos e Ministro de Estado da Integração Nacional do Brasil.
Acompanhe a entrevista completa:
O Pará será o anfitrião da COP30, no próximo ano. Como estão os preparativos?
Em primeiro lugar, essa será uma grande oportunidade de sediar o maior evento de mudanças climáticas do mundo. E particularmente a escolha de fazer este encontro na Amazônia deve ser encarada como uma grande oportunidade para a agenda do meio ambiente global. Poder fazer a COP na floresta, em uma cidade da Amazônia, é um chamamento para o mundo no sentido de podermos construir efetivamente políticas de valorização da floresta viva e agendas de financiamentos de soluções baseadas na natureza.
Nós estamos construindo legados que poderão deixar modelos de desenvolvimento sustentável e soluções urbanas para Belém, de modo que sejamos capazes de realizar um bom receptivo para os visitantes, mas principalmente um legado para quem mora aqui. Por fim, isso tudo ainda poderá funcionar para melhorar a estratégia turística da cidade. As obras estão em andamento para que possamos deixar estes legados. Temos investimentos em macrodrenagem, mobilidade urbana, parques turísticos e em áreas de convivência, que serão usados durante a COP e ficarão como pontos turísticos para Belém.
Acaba funcionando como uma grande vitrine para a região como um todo, mas para o estado em particular. Qual é o Pará que o mundo vai conhecer durante a COP?
O mundo poderá conhecer um retrato do mosaico que é a Amazônia. Quem vier poderá conhecer o que é o Pará floresta, o Pará produtivo, que é importante contribuinte na vocação da segurança alimentar do Brasil, e o Pará cidade. Queremos que as pessoas entendam que nós temos a maior floresta tropical do mundo, mas temos cerca de 29 milhões de pessoas que vivem na região. Portanto, as soluções ambientais precisam dialogar com os desafios sociais do nosso estado e da região.
Essa multiplicidade é importante quando se faz um chamamento para a valorização da floresta para gerarmos empregos, renda e desenvolvimento a partir da preservação ambiental, é este o paradigma que nós queremos construir. Não há nada melhor do que falar sobre a Amazônia com os pés lá, ouvindo os povos da floresta, as comunidades indígenas, quilombolas, os ribeirinhos, os extrativistas e a população urbana. Esse é o mosaico de sociedade que vive na Amazônia brasileira, mas também na Pan-Amazônia (conceito que envolve todos os países que abrigam a floresta).
Como o senhor faz para conciliar a agenda de desenvolvimento, a preservação da floresta e a promoção do bem estar social?
Nós trabalhamos em três importantes vieses de construção de uma nova agenda. Em primeiro lugar, trabalhamos combatendo irregularidades ambientais, reduzindo o desmatamento, através de uma forte política de comando, controle e fiscalização. Nós não podemos dialogar com ilegalidade ambiental, este é o primeiro ponto e é algo central. O segundo ponto é que entendemos sermos capazes de conciliar as nossas vocações. Temos a pecuária, a agricultura e a mineração.
Estamos dialogando para mostrar que podemos manter essas vocações sem precisar avançar sobre a floresta, a partir da intensificação da produção nas áreas que já foram manejadas. Por outro lado, temos 75% de floresta nativa. Qual é o nosso grande desafio? Essa é a principal caminhada para um novo modelo, que esta floresta nativa precisa ter valor, através da ciência, da inovação e do conhecimento, para que possamos implementar uma nova economia, baseada na natureza, que é a socio-bio-economia.
Helder Barbalho
"Estamos atuando fortemente pela implementação do mercado de carbono, para que a captura se torne a commodity verde, gerando uma nova economia a partir da captura. O mundo está buscando neutralizar as suas emissões e a lógica passa pela geração de compras da captura para neutralizar as emissões. "
No que diz respeito à produção alimentar, estamos trabalhando na pecuária pela intensificação da produção. Temos um rebanho de 26 milhões de cabeças de gado e que pode ser ampliado com uma ocupação mais intensiva das áreas, não precisamos expandir. Estamos implantando o primeiro programa nacional de rastreabilidade da pecuária, para mostrar a qualidade e a integridade da atuação na atividade, no respeito às normas ambientais nas unidades rurais. Investimos também, em escala mais ampla, em atividades agrícolas que possam restaurar as áreas, e aí nós temos duas principais culturas sendo incentivadas, a cultura do cacau e do açaí, por envolverem produção e demanda de mão de obra, desde o plantio até a colheita. Além disso, as plantas destas duas culturas regeneram e restauram as áreas anteriormente de florestas.
Por último, estamos implementando concessões de florestas e de restauro. São áreas que estavam degradadas, o estado recuperou e está fazendo a concessão para o plantio de mudas, partindo do princípio que a captura de carbono em áreas de restauro tem um valor adicional no mercado.
Como tem sido a aceitação do mercado a este tipo de medidas e quais resultados os senhor pode destacar?
O mercado está ansioso por soluções baseadas na natureza. Sejam aqueles negócios que optam pelas atividades diretamente, como por exemplo os produtores de amêndoa de cacau, ou o do açaí, a pecuária com rastreabilidade, que abre novos mercados, principalmente no exterior, a partir da demonstração da integridade no processo de produção, atendendo às demandas de compliance na indústria. Mas essas soluções interessam bastante também aos que estão entrando em novos mercados, como é o caso do carbono, que é extremamente rentável quando você opera no sistema jurisdicional, que é o que nós defendemos – aí o ente público dialoga com os proprietários privados, mostra a redução de desmatamento, que gera o crédito a partir do balanço de quanto se reduziu, que gera um crédito.
De 2017 para cá, gerou-se um crédito que permite ao estado negociar 156 milhões de toneladas de carbono. Isso gera um interesse porque está atrelado ao combate ao desmatamento, que agrega valor. Segundo, todo o recurso será distribuído para comunidades tradicionais e agricultura familiar. O estado fica com uma parcela e é obrigado a aplicá-la na política de redução do desmatamento, o que demonstra o nosso comprometimento.
Quais são, na sua opinião, as barreiras para acelerarmos a implantação desta agenda de responsabilidades no país?
É fundamental que nós possamos colocar a mudança climática e a urgência ambiental na agenda do Brasil. O que estamos vendo no Rio Grande do Sul é uma demonstração clara de que a urgência ambiental bate na porta de cada cidadão. Ela interfere na vida de qualquer um e estamos vendo isso neste desastre horroroso que vemos no Rio Grande do Sul. A urgência ambiental impacta na produção agrícola, pecuária, comércio, indústria e na vida das pessoas. Nós estamos assistindo um momento horroroso, que precisa servir de oportunidade para fazermos um chamamento à necessidade desta pauta estar na pauta nacional. Tem algumas ações que são fundamentais. Precisamos continuar na política de comando e controle para reduzir desmatamento, os números mostram que a agenda tem sido exitosa na Amazônia.
Mas temos que entender que o Brasil precisa investir em ciência, tecnologia e inovação para que soluções baseadas na natureza tenham escalas que consolidem a bioeconomia como uma nova vocação nacional. O Brasil que lidera a mineração, o agro, deve liderar, como nova vocação econômica, soluções baseadas na natureza e para isso, precisa investir fortemente em conhecimento. Junto a isso, tem que haver um impulso do financiamento que induza a sociedade a escolher esta atividade como solução, como uma oportunidade. Da mesma forma que o Banco do Brasil e a Caixa Econômica apoiam de forma agressiva a atividade rural, deve apoiar a bioeconomia. No que diz respeito ao mercado de carbono, precisamos concluir a apreciação do marco regulatório, que está no Senado. Essa lei vai garantir previsibilidade e segurança jurídica para liderarmos esta agenda no cenário global. Sem deixar de destacar a transição energética, que é fundamental.
Muitas destas medidas que o senhor coloca passam por mudanças de legislação, regulação e fiscalização mais efetivas. Como o senhor vê a maturidade da classe política em relação a estes desafios?
Eu entendo que o evento do Rio Grande do Sul é um chamamento à sociedade e à classe política. Não existe crise ambiental de direita, esquerda ou de centro. Não existe negacionismo ambiental de esquerda, direita ou centro. O que existem são crises ambientais e urgências ambientais. O que aconteceu no Rio Grande do Sul, não pode ser analisado apenas sob a ótica de enfrentar um evento climático, nós precisamos compreender que este evento se tornará cada vez mais recorrente. Portanto, se avizinha um novo normal, o Brasil precisa estar preparado para isto e a sociedade deve apontar à classe política e às instituições que, com o mesmo nível de urgência de outras pautas que tocam a vida das pessoas, a partir deste episódio, a urgência ambiental e climática também tocam as vidas das pessoas.
O III ESG Fórum Salvador é um projeto realizado pelo Jornal Correio e Site Alô Alô Bahia com o patrocínio da Acelen, Alba Seguradora, Bracell, Contermas, Grupo Luiz Mendonça - Bravo Caminhões e Ônibus e AuraBrasil, Instituto Mandarina, Jacobina Mineração - Pan American Silver, Moura Dubeux, OR, Porsche Center Salvador, Salvador Bahia Airport, Suzano, Tronox e Unipar; apoio da BYD | Parvi, Claro, Larco Petróleo, Salvador Shopping, SESC, SENAC e Wilson Sons; apoio institucional do Sebrae, Instituto ACM, Saltur e Prefeitura Municipal de Salvador e parceria do Fera Palace, Happy Tour, Hike, Hiperideal, Ticket Maker, Tudo São Flores, Uranus2, Vini Figueira Gastronomia e Zum Brazil Eventos.