Inclusão de pessoas trans e PCDs no mercado de trabalho é destaque no último dia do III ESG Fórum
Palestrantes trouxeram panorama da realidade desses grupos sociais e discutiram caminhos para enfrentamento das estatísticas de desemprego
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
No centro das discussões sobre diversidade, equidade e inclusão, temas propostos durante o segundo painel apresentado na tarde desta quinta-feira (23), no III ESG Fórum Salvador, a falta de oportunidade de emprego para pessoas trans e pessoas com deficiência (PCDs) foi trazida à tona pelas palestrantes Vitor Martins e Amanda Brito. Enquanto Vitor revelou que apenas 5% da população trans está no mercado formal, Amanda expôs que, entre os 18 milhões de PCDs existentes no Brasil, apenas 441 mil estão empregadas. As duas destacaram a necessidade de enfrentamento dessa realidade e apontaram caminhos de solução baseados no diálogo e na educação.
Amanda Brito Orleans, que é cofundadora da startup de impacto social Instituto AB, começou o discurso falando da sua experiência social. Ela, que é cadeirante por não poder andar em razão de uma doença rara, contou que os médicos lhe deram expectativa de vida de dois meses. Hoje, aos 37 anos, Amanda declarou ter vencido o diagnóstico, embora não tenha experimentado a mesma sorte no que diz respeito às oportunidades no início da sua trajetória profissional.
Quando enfim conseguiu se estabelecer no mercado de trabalho, decidiu que iria ajudar outros PCDs. “Eu costumo dizer que eu trabalho hoje para fazer parte da última geração das primeiras, porque geralmente eu sou a primeira mulher com deficiência ocupando vários espaços [...] e é extremamente desafiador ocupar esses espaços quando muitas pessoas não são educadas para entender que existe uma pessoa antes da deficiência”, declarou.
Por meio da startup baiana Instituto AB, Amanda afirma que tem desenvolvido uma série de estratégias que tem como intuito ajudar as empresas a terem o ambiente propício para acolher pessoas com deficiência e combater as estatísticas de desemprego desse grupo. “De acordo com dados do Banco Mundial, a exclusão de pessoas com deficiência do mercado de trabalho da educação pode representar perda de 37% do PIB de um país. Então, a gente tem trazido uma metodologia bem estruturada para apoiar as organizações, para que a gente entenda que ações pontuais não provocam inclusão”, ressaltou.
“A gente precisa desenhar iniciativas de que sejam estratégicas, reais e sustentáveis, e gerenciar os impactos que isso gera na organização. Estamos falando de 18 milhões de pessoas que também consomem. E se a sua ou nossa empresa não está preparada para receber um cliente com deficiência ou um profissional com deficiência, dificilmente vai estar preparada para receber um cliente com deficiência”, acrescentou.
Ela ainda citou que diversos países já têm olhado para essa realidade e investido, por exemplo, no turismo acessível, para incluir PCDs que viajam, consomem e, portanto, têm poder de compra. Para a cofundadora do Instituto AB, esse é o único caminho possível para as empresas.
“A gente precisa entender que falar sobre PCDs, falar sobre ESG não é uma modinha, como muitas pessoas até esperam. É falar sobre um ciclo econômico sustentável que não deixa ninguém para trás. E a gente não tem outro caminho que não seja esse. É uma jornada para todo mundo, mas quem ainda cria resistência de migrar para ela vai ficar para trás”, completou.
Já Vitor Castro, que é administradora e psicóloga trans, premiada pela Young Leader, Líder de Diversidade e Inclusão na Seap e Linkedin Top Voice, deu destaque à necessidade de as organizações entenderem que suas responsabilidades de impacto social não se resumem à geração de emprego por si só, mas também à promoção da diversidade, o que inclui as pessoas trans.
“Se uma sociedade é formada por um conjunto de pessoas e um conjunto de instituições, não faz sentido dizer que a responsabilidade dessa organização seja assinar uma carteira de trabalho. É este debate que precisa ser aprofundado e colocado na crítica para que se ampliem as discussões. Se essa discussão se apresenta dentro desse espaço, é porque os debates e as conquistas necessários de serem feitos no campo do trabalho e das instituições ainda não foram concluídas”, pontuou.
No painel que abordou essas temáticas, também estavam presentes Linda Bezerra editora-chefe do Jornal Correio; Rodrigo Accioly, presidente do Conselho de Administração do Grupo Aliança; e Mariana Paiva, escritora e colunista do Correio, que mediou a conversa.
Linda Bezerra trouxe o caso de sucesso do Afro Fashion Day (AFD), evento de moda negra realizado anualmente pelo Jornal Correio, para abordar a força do “S” do ESG. O projeto, que existe desde 2015, já conta com nove edições, impactou mais de 100 mil pessoas, reuniu 574 modelos e 344 estilistas. Ao todo, ainda conquistou mais de 11 milhões de visualizações nas redes sociais.
“O Afro Fashion Day é um lugar de protagonismo e celebração do poder da população negra e nasceu da angústia de perceber que Salvador não tinha um projeto que valorizasse a economia criativa, principalmente na moda. Então, convidamos pessoas que trabalham nessa área, mas que ainda não têm a visibilidade e o reconhecimento que merecem, para enaltecê-las e mostrar à sociedade o seu brilho e talento”, enfatizou Linda.
Na plateia do III ESG Fórum durante a tarde desta quinta, a estudante de Administração Aline Lima, de 23 anos, compartilhou a experiência de impacto vivida com o AFD. “Eu falei para uma amiga que estava tendo a seletiva na Estação Campo da Pólvora e ela foi participar. Ela é muito linda, mas não se enxergava assim. A partir desse projeto, ela começou a se ver como uma beleza negra e estonteante. Então, a importância e o impacto desse projeto são fundamentais, porque dá oportunidade de acesso à autoestima. Foi sensacional para a minha amiga e eu vejo a mudança significativa na vida dela”, relatou.
Rodrigo Accioly, por sua vez, abordou os desafios para o avanço da garantia de diversidade nas organizações. Ele reconheceu que existe uma resistência por parte de muitas empresas, mas indicou a educação como o caminho para acelerar os passos que faltam. “A educação é o vetor que pode impulsionar o incremento de uma maior atenção à diversidade, à equidade e à inclusão. Vale lembrar aqui que não adianta falar de um ambiente diverso. A empresa [...] precisa reconhecer que não sabe, precisa reconhecer, discutir e depois poder replicar”, defendeu.
Por fim, ele citou o caso de sucesso do Grupo Aliança da Bahia. Conforme conta, a Alba Seguradora, uma empresa de 154 anos que faz parte do grupo, conseguiu se manter graças à sua capacidade de adaptação às mudanças do mercado e da sociedade. “É muito mais barato prevenir, se antecipar aos problemas e viabilizar a diversidade e a liberdade do que ter que reverter esses problemas depois”, concluiu.
O III ESG Fórum Salvador é um projeto realizado pelo Jornal Correio e Site Alô Alô Bahia com o patrocínio da Acelen, Alba Seguradora, Bracell, Contermas, Grupo Luiz Mendonça - Bravo Caminhões e Ônibus e AuraBrasil, Instituto Mandarina, Jacobina Mineração - Pan American Silver, Moura Dubeux, OR, Porsche Center Salvador, Salvador Bahia Airport, Suzano, Tronox e Unipar; apoio da BYD | Parvi, Claro, Larco Petróleo, Salvador Shopping, SESC, SENAC e Wilson Sons; apoio institucional do Sebrae, Instituto ACM, Saltur e Prefeitura Municipal de Salvador e parceria do Fera Palace, Happy Tour, Hike, Hiperideal, Luzbel, Ticket Maker, Tudo São Flores, Uranus2, Vini Figueira Gastronomia e Zum Brazil Eventos.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro