ESG e mudanças climáticas: o que as empresas têm a ver com isso?
A partir de 2026, empresas de capital aberto deverão disponibilizar relatórios de riscos ESG
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Maysa Polcri
maysa.polcri@redebahia.com.br
Desde pequenas, as crianças são ensinadas a desligar a torneira do banheiro enquanto escovam os dentes e a apagar as luzes quando saem de algum cômodo da casa. São maneiras de preservar o meio ambiente, os adultos explicam. As medidas são válidas, mas, sem a participação de quem mais polui, ações individuais não dão conta de reverter os problemas ambientais, segundo especialistas.
A preocupação com as mudanças climáticas é um braço significativo dos pilares do ESG - sustentabilidade, responsabilidade social e transparência, em tradução para o português. A sigla representa as práticas que priorizam o desenvolvimento sustentável. Entre as medidas adotadas por empresas estão a redução de gases poluentes, reciclagem e diminuição do desperdício de água.
“Das 200 maiores receitas do mundo, 157 são de empresas. Isso significa que existem 157 empresas, no mundo, que são tão grandes ou maiores, economicamente, do que nações. É claro que quem mais explora a biodiversidade e quem mais gera resíduos são as empresas. Quando uma corporação de grande porte resolve reduzir seus impactos ambientais, é algo muito significativo”, analisa Augusto Cruz, consultor empresarial e especialista em ESG.
Há 24 anos, baianos viram a oportunidade de transformar lixo em energia renovável, muitos antes de ESG entrar na moda. Assim surgiu a MDC Energia, que aproveita o gás produzido em aterros sanitários para produzir biometano. A solução ecologicamente correta evita que os gases sejam liberados na atmosfera e contribuam para o aquecimento global. Depois de tratado, o biometano é utilizado para o fornecimento de energia em indústrias e combustível para veículos (GNV).
“Nós fomos pioneiros no mercado. Há 20 anos, se falava em preocupação ambiental, mas não da forma que é hoje em dia. Estamos vendo as consequências da poluição de carbono no mundo, com as mudanças ambientais”, conta Neila Larangeira, uma das fundadoras da empresa.
Ao longo dos anos, Neila acompanhou o crescimento da concorrência e a regulamentação do mercado. “Não havia regulamentação naquela época e as pessoas sequer entendiam como funcionava ‘gás feito de lixo’”, relembra Neila Larangeira. Hoje, o gás produzido pela empresa é transportado por gasodutos para a Companhia de Gás da Bahia, que comercializa o produto.
À medida que as discussões avançam, a cobrança sobre a responsabilidade ambiental das empresas cresce. Uma pesquisa feita pela PwC Brasil e Instituto Locomotiva revela que 89% dos brasileiros acreditam que as empresas devem ter iniciativas sustentáveis para combater as mudanças climáticas. A partir de 2026, as companhias abertas, que têm negociações na bolsa, deverão disponibilizar relatórios de riscos ESG.
O documento seguirá as normas do International Financial Reporting Standards (IFRS) - Normas Internacionais de Informação Financeira, em tradução para o português. Elas são padronizadas pelo órgão International Sustainability Standards Board (ISSB) e incluem informações sobre riscos e oportunidades ligados à sustentabilidade (IFRS 1) e clima (IFRS 2), como gestão de riscos e metas de sustentabilidade. Até agora, a medida tem caráter voluntário.
“O IFRS será obrigatório para empresas de capital aberto a partir de 2026. As empresas precisarão relatar temas relacionados a governança e seus impactos no clima. Quando falamos hoje de questões ambientais e climáticas, analisamos como as empresas estão impactando no clima e, agora, como o clima impacta no negócio”, explica Augusto Cruz, especialista em ESG.
Especialistas admitem os avanços da agenda ESG no mundo corporativo, mas um longo caminho ainda precisa ser percorrido. É o que diz Vinicio da Fonseca, que presta consultoria ambiental para empresas da Região Metropolitana de Salvador.
“As pessoas estão começando a tomar consciência que o negacionismo está nos levando a uma catástrofe. Mas, para quem está dentro, ainda é muito difícil falar sobre isso”, diz Vinicio, da consultoria Ecosoluti. Ele está à frente de um pátio de compostagem, que transforma matéria orgânica em adubo natural.
A responsabilidade das empresas e os impactos da poluição nas mudanças do clima serão alguns dos temas debatidos no III Fórum ESG Salvador, realizado pelo Jornal CORREIO e Alô Alô Bahia (confira a programação aqui), no Porto de Salvador. No evento, estarão expostas bolsas artesanais produzidas a partir de resíduos de lona utilizados na estrutura do Carnaval de Salvador.
O projeto é do Instituto Mandarina, dos mesmos fundadores da MDC Energia, que acelera negócios de empreendedores locais. Além de reciclar mais de uma tonelada de resíduos, o projeto beneficiará 30 mulheres artesãs. Estarão expostas 100 bolsas, de 10 modelos diferentes.
“As peças são tramadas com trabalhos autorais artesanais aplicados a estas lonas, por mulheres das comunidades da Península de Itapagipe, acompanhadas por mentorias conduzidas por empreendedores especialistas, que compartilham suas experiências e conhecimentos com aquelas que estão iniciando seus negócios. É um trabalho colaborativo que envolve muitas mãos”, conta Neila Larangeira presidente do Instituto Mandarina.
O III ESG Fórum Salvador é um projeto realizado pelo Jornal Correio e Site Alô Alô Bahia com o patrocínio da Acelen, Alba Seguradora, Bracell, Contermas, Grupo Luiz Mendonça - Bravo Caminhões e Ônibus e AuraBrasil, Instituto Mandarina, Jacobina Mineração - Pan American Silver, Moura Dubeux, OR, Porsche Center Salvador, Salvador Bahia Airport, Suzano, Tronox e Unipar; apoio da BYD | Parvi, Claro, Larco Petróleo, Salvador Shopping, SESC, SENAC e Wilson Sons; apoio institucional do Sebrae, Instituto ACM, Saltur e Prefeitura Municipal de Salvador e parceria do Fera Palace, Happy Tour, Hike, Hiperideal, Luzbel, Ticket Maker, Tudo São Flores, Uranus2, Vini Figueira Gastronomia e Zum Brazil Eventos.