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Roberto Midlej
Publicado em 10 de abril de 2024 às 06:00
A série Justiça - que a Globo classifica como antologia em vez de série - está de volta e, desta vez, estará exclusivamente no Globoplay, ao menos por enquanto. Todas as quintas-feiras, o público terá acesso a quatro novos episódios e o primeiro pacote chega nesta semana, no dia 11. >
Justiça 2, no entanto, não é exatamente uma continuação daquela produção que foi exibida em 2016. Agora, são novas histórias e novos personagens. “Em ‘Justiça 2’, a continuidade é apenas de formato. Os personagens e as tramas são completamente novos. Apesar disso, o fato de a série agora se passar no Distrito Federal condicionou uma linguagem própria. Brasília, com as suas linhas retas e suas perspectivas, naturalmente pediu uma câmera com movimentos mais lentos e planos mais abertos”, explica o diretor artístico Gustavo Fernández.>
A criadora da série, a baiana Manuela Dias, afirma que Justiça não é uma série sobre leis, mas sobre a possibilidade de que exista justiça. “A própria ideia de justiça é uma ferramenta civilizatória que viabiliza a vida em sociedade. Somos treinados para acreditar que seremos premiados se fizermos o certo e punidos quando agimos de forma errada - mas a vida mostra que isso é apenas um condicionamento teórico”.>
Entre os novos personagens, está Ingrid, que marca a estreia de baiana Rita Assemany na TV ou streaming, apesar de ser veterana nos palcos dos teatros. Ingrid é irmã de Júlia (Julia Lemmertz) e de Jayme (Murilo Benício) e vive com os dois. Jayme foi condenado à cadeia por abuso sexual contra a sobrinha, Carolina (Alice Wegmann), que também morava com a família, mas sai de casa por causa dos abusos. Mais tarde, por problemas financeiros, Carolina precisa voltar a morar com as tias e o tio.>
“O sustento da família depende do irmão, que é um empresário bem-sucedido. Todos dependem, inclusive o filho de Ingrid, Elias (Giovanni Venturini). As irmãs são mulheres que dependem do irmão. E Ingrid, por isso, sempre o apoia. Apoia também por ser uma mulher insensível e amarga. Para ela, a sobrinha abandonou a casa, então não tem valores”, diz Rita.>
Sua personagem, embora não tenha nada de engraçada, é “quase tragicômica”, segundo a atriz: “Ela não conheceu o amor e daí vem tanto desprezo que tem pelos outros. Ela quer chamar a atenção da família, então sempre finge passar mal”. Rita chama a atenção para uma outra característica de Ingrid: ela tem mania de guardar eletrodomésticos na embalagem, porque pretende casar um dia. “Ela é meio patética e lembra um pouco as personagens de Nelson Rodrigues, um pouco acima do tom”, compara.>
Rita faz muitos elogios a Justiça e especialmente à autora, sua conterrânea. “É uma série que fala sobre justiça e injustiça. Fala das dores humanas e é preciso a gente entender a dor alheia, ter compaixão e responsabilidade pela dor alheia”. Para a atriz, o texto de Manuela Dias não tem “gorduras”: “Ela é muito exata no texto. Alguns autores às vezes ‘tropeçam’ nas palavras, mas ela não. Tudo nela é muito pensado”.>
A atriz baiana reconhece que a estreia na TV a assustou um pouco: “Fiquei assustada? Fiquei! Não adianta ter 40 anos de teatro. Nunca tinha entrado na Globo e não sabia como seria. Mas acho que fiz um bom trabalho e o roteiro é muito bom”. Mas atuar com a câmera não é uma novidade para Rita, afinal ela tem no currículo filmes como Abril Despedaçado, Entre Irmãs e Central do Brasil. Ela reconhece, no entanto, uma diferença entre cinema e TV: “O ‘tempo’ é diferente, porque na TV você precisa ser mais objetiva”.>
Esta segunda temporada de Justiça acompanha também a trajetória de outros três personagens, além de Jayme: Balthazar (Juan Paiva), Geíza (Belize Pombal) e Milena (Nanda Costa), que são presos no mesmo dia. Os novos episódios mostram a retomada da vida de cada um ao sair da prisão, sete anos mais tarde. Eles vão em busca de uma justiça que vai além da lógica dos processos judiciários. >
Alice Wegmann, que vive Carolina, sobrinha de Ingrid, diz que a série foi “transformadora para ela” “A história da Carolina toca em questões muito próximas à minha identidade enquanto mulher. É muito difícil falar sobre abuso e mais difícil ainda é falar de uma situação como a dela, incestuosa – que infelizmente acontece em muitas casas no Brasil, devido a uma estrutura familiar patriarcal bastante opressora”.>