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Hadouken! Street Fighter II faz 30 anos e tem muita história pra contar


 

Jogo revolucionou mundo dos games e a vida de muitas pessoas também

  • Da Redação

Publicado em 13/02/2021 às 11:00:00
Atualizado em 23/05/2023 às 08:09:32
. Crédito: Reprodução

Aquele que nunca filou a última aula, encheu o bolso de fichas e foi jogar Street Fighter II  no fliperama mais próximo não tem ideia do que era ser nerd ou gamer nos anos 90. Saber os movimentos para dar um Hadouken, desafiar amigos ou derrotar o chefão M. Bison eram tão importantes quanto saber a letra de Faroeste Caboclo ou assistir todos os episódios de Caverna do Dragão. O jogo que marcou uma geração e revolucionou os jogos de luta completa, neste mês, 30 anos de seu lançamento. No Brasil, o SFII se tornou um dos jogos mais queridos entres os players brasileiros, mas também fez muita gente perder de ano na escola. Personagens pitorescos, golpes especiais com gritos que viraram febre entre os jovens, Street Fighter II foi um divisor de águas na história do saudoso fliperama em todo mundo, incluindo Salvador. Quando o jogo foi lançado, em fevereiro de 1991, os jovens baianos já procuravam seus respectivos primos ricos para jogarem nos consoles que faziam sucesso na época, como Super Nintendo e Mega Drive. O ‘flíper’ começava a perder, pois seus jogos manjados com naves intergaláticas e bolinhas amarelas fugindo de fantasmas já não prendiam tanta atenção. O Street II chegou para mudar o jogo.  E virar o terror das escolas e dos pais.  Foi uma loucura. Crianças filavam aula e se dirigiam a qualquer bodega para mostrarem suas habilidades no jogo de luta. Com a estreia de Street Fighter II, os consoles foram guardados no armário e o arcade voltou a ser o queridinho daquela geração, que se aglomeravam nos fliperamas da cidade.  “Eu perdi a 7ª série por causa de Street II. Estava viciado a ponto de gastar o vale transporte que meu pai dava para retorno do colégio, trocando por ficha de flíper. Depois tinha que vir andando, com fome, do Rio Vermelho até o Engenho Velho da Federação. Meu pai me deu umas três surras na porta do flíper, na frente de todo mundo, pois passava o dia todo lá. Ganhava de todo mundo. Eu estava alucinado por esse jogo. Eu cantava até as músicas dos personagens”, lembra Damásio Sousa, hoje com 41 anos. Como era uma novidade, o jogo não tinha censura e podia ser encontrado em qualquer bar ou espaço infantil.  Ser bom no jogo era meta de vida entre os gamers da época, pois o jogo trouxe um desafio inédito. Para dar golpes especiais, era preciso combinar movimentos no controle, que tinha uma alavanca e seis botões. Para dar um Hadouken, o golpe mais famoso da franquia, era preciso dar meia volta no manche e apertar o botão de soco logo em seguida. Tinha que ser preciso. Quem dominava o comando, virava o “apelão” da galera, pois só ganhava por meio de golpes especiais. “Eu jogava num fliperama que ficava ao lado da C&A, no 2º piso do Shopping Barra. Os gráficos e a jogabilidade eram revolucionários na época. Eu morava na Barra, minha escola também era na Barra. Ou seja, filei muita aula para jogar (risos). Assim como eu, muita gente ficava com a palma da mão em carne viva, pois, para dar Hadouken, tinha que esfregar o manche”, lembra Bruno Porciúncula, de 41 anos.  O sucesso do jogo no Brasil também teve outro motivo especial. Pela primeira vez, o país ganhou um personagem virtual na história dos games: o estereotipado Blanka. Um monstro verde e de cabelo laranja, que morde seu oponente, vira uma bola giratória e dá choque. Segundo seus desenvolvedores, o monstro brasileiro sofreu um acidente de avião na floresta amazônica e adquiriu estes poderes no meio do mato, se alimentando de clorofila. Por isso a cor.   O Street II também tirou a mulher do posto de sexo frágil nos jogos eletrônicos. Antes de seu lançamento, os games representavam mulheres como princesas que precisavam de salvação. A chinesa Chun-Li acabou com isso. Agente secreta e lutadora de kung-fu, a personagem foi a única mulher na primeira franquia de luta, mas também virou objeto de ciúmes aqui no Brasil. “Eu tinha um namoradinho na época que só jogava com ela. Ele tinha tara por ela. Com ciúme, proibi. Podia jogar com qualquer um, menos com ela. Ela era muito bonita”, lembra a professora de música, Carla Suzart, que ainda tinha que aguentar os primos roubando suas fichas na época. “Eles vinham com a desculpa que passaria de fase pra mim (inclusive o repórter). Lorota pura”, lembra Carla, acusando o autor deste texto. Intriga da oposição.  O game fez tanto sucesso que acabou sendo o primeiro jogo pirateado da história. Conhecido como “Street de rodoviária”, alguns estabelecimentos brasileiros tinham uma versão mais barata e com algumas diferenças do original, como uma luta mais acelerada, personagens coloridos e golpes contínuos que enchiam a tela de magia. A Capcom, vendo o prejuízo, acabou lançando, no ano seguinte, o Street Fighter II Turbo, com algumas novidades, como a possibilidade de escolher os chefões da edição anterior, antes controlados apenas pela máquina. O sucesso também  fez nascer concorrentes de peso, como o sanguinário Mortal Kombat, lançado em outubro de 1992, além de The King of Fighters  e Tekken, ambos lançados em 1994.  Made in Japan  Como o próprio nome sugere, SFII é a continuação de um jogo que poucos no mundo ouviram falar. Em 1987, a Capcom lançou o Street Fighter, com alguma semelhança da continuação que virou lenda. A primeira edição foi um fracasso e mal saiu do Japão. Na época, eram apenas dois jogadores, Ryu e Ken, mas com recursos limitados. Contudo, os designers Akira Nishitani e Akira Yasuda viram potencial na franquia e resolveram dar uma segunda chance ao jogo. Eles criaram os cenários e os personagens que viraram ícones no universo dos nerds.  “Vimos que o jogo tinha potencial. Era o combate um-contra-um, mas com apenas dois jogadores. Resolvemos trazer o mundo para dentro do jogo, com novos personagens espalhados pelo mundo. Nós sabíamos que o jogo seria bom. Mas não sabíamos que seria tão popular”, disse Nishitani, criador dos cenários da franquia, no documentário GDLK, disponível na plataforma Netflix.  Após dois anos de produção e criação, no dia 6 de fevereiro de 1991 a Capcom apresentou Street Fighter 2: The World Warrior. Oito jogadores espalhados pelo mundo lutavam entre si, numa competição mundial de luta. Passando dos oponentes, ainda enfrentavam quatro chefões controlados pela máquina, até “zerar” o jogo. Além da possibilidade de jogar sozinho, bastava outro gamer depositar uma ficha no flíper para desafiar quem já estava jogando contra a máquina. Quem esvaziasse a barra de vida do oponente no melhor de três rounds, vencia.  Restava ao derrotado comprar mais fichas para ter uma revanche.  Para os jovens gamers de Free Fire, LoL e Fifa, respeitem  o pai do multiplayer. O Street Fighter II foi um embrião do milionário mundo do eSports. Com a possibilidade inédita  de jogadores se enfrentarem entre si, o SFII possibilitou torneios e campeonatos mundiais no formato multijogador. “Jogava Street Fighter 2 na loja em que um amigo trabalhava.. Fiquei tão bom que meu amigo me proibiu de jogar lá. Foi quando teve a primeira competição do jogo no Japão e venci sem levar um soco”, lembra o japonês Takahiro Nakano, no documentário GDLK. O gamer levou tão a sério, que hoje ele é treinador de uma equipe japonesa especializada em jogos de luta e de tiro. Segundo especialistas, o universo eSports vai movimentar, até 2022, cerca de US$ 1,7 bilhão.  “O Street Fighter 2 foi um marco na indústria de jogos e uma referência para todos os games de luta, abrindo caminho para os campeonatos mundiais de eSport  que conhecemos hoje. Sou muito fã e ainda jogo. Sempre fui conhecido por jogar somente com Ken e Ryu. Sou apelão, daqueles que solta hadouken toda hora. Nem precisa dizer que Street foi um influência muito forte para minha profissão. Yoko Shimomura, que fez a trilha sonora do jogo, é uma referência pra mim”, diz Tharcisio Vaz, compositor de trilhas sonoras para Games  e professor do curso Tecnológico em Jogos Digitais da Uneb. O maior jogo de luta virtual serviu de inspiração para diversos desenvolvedores de games na Bahia. “Foi uma revolução. É um jogo que deu a possibilidade de termos diversos personagens com particularidades. Viramos fãs não apenas do jogo, mas dos personagens. Até hoje o Street II é um influenciador de qualquer desenvolvedor de jogos. Sua perspectiva de perfil e modo de jogar é até hoje utilizada em games. Os cenários, com animações em gif, eram lindos. Me inspira a produzir cenários para diversos games”, disse o Game Designer e Professor da Uneb, Danilo Dias. Ele é diretor de arte do gamebook brasileiro, Guardiões da Floresta, disponível para IOS e Android.   Após 30 anos de lançamento, o Street Fighter II continua atual. Ganhou desenho animado  e até um filme, estrelado por Jean-Claude Van Damme no papel de Guile, em 1994. O filme foi de gosto duvidoso, mas não deixou de ser mais um marco para a franquia, o primeiro game a ganhar uma super produção em Hollywood.  Em 2016, foi lançado o Street Fighter V, a última edição do jogo, até agora. O Brasil, inclusive, ganhou uma nova personagem: a carioca e lutadora de MMA, Laura Matsuda. Para se ter uma ideia do universo, após o primeiro Street II, foram lançados 48 jogos entre atualizações e sequências, com versões em que é possível ver Ryu ou Ken lutando com o Homem-Aranha e Homem de Ferro.  Haja Hadouken! PersonagensLutadores:Ryu - O japonês é especialista em caratê e solta Hadouken. Ken - Dos Estados Unidos, treina com Ryu, seu broder. Blanka -  O brasileiro dá choque, mas sua arte marcial é desconhecida. Chun-Li  A chinesa é agente secreta e luta kung-fu. Guile-  Americano das forças armadas, solta o Sonic Boom. Tem cabelinho loiro na régua. Dhalsim - O indiano “luta” yôga, cospe fogo e tem braços elásticos. Zangief - O russo é viciado em vodka e faz luta-livre.  Honda - O japonês luta sumô e seu cenário é num banheiro coletivo, tipo sauna.  Chefões:M. Bison   Último chefão, tem treta com todos os personagens. Ninguém sabe de onde vem. Sagat  É da Tailândia, luta muay thai e adora apelar. Balrog  Pugilista dos EUA, tem um soco poderoso. Vega  Espanhol tirado a garanhão. Usa garras e sobe em grades Street 2 no baianês

O mundo inventa, o baiano aperfeiçoa. Golpes do jogo foram rebatizados na Bahia:Cuscuz! (Zutsuki) - Golpe do personagem  Honda. Ele voava em direção do oponente, acertando-o com a cabeça. Mini-tachiii! (Spinning Bird Kick) - Chun-li virava um helicóptero e acertava o rival com as pernas. Cheira c* (sem tradução)  - Zanguief coloca a cabeça do oponente entre as pernas e rodopia até bater a cabeça do adversário no chão. Tchac tchac fruken! (Tatsumaki Senpukyaku) -  Ryu ou Ken rodopiavam com uma das pernas levantadas. Roliúken! (Shoryuken) -  Ryu ou Ken dão um gancho no ar. Raduugui! (Hadouken) - O famoso golpe de Ryu e Ken, que soltam uma bola de energia das mãos. Taigui Robocop! (Tiger Uppercut) - Golpe do chefão Sagat, semelhante ao Shoryuken Uga vai! Uga vem! (Yoga Fire! Yoga Flame!) - Golpe do indiano Dhalsim. Ele cospe fogo. Alec fú! (Sonic Boom) -  O americano Guile solta uma magia que parece um bumerangue. CuriosidadesInspirações realistas - O chefão Balrog é inspirado no famoso pugilista Mike Tyson. Ken   homenageia o carateca famoso na época, Joe Lewis. Zangief não tem referência, mas é amigo de Mikhail Gorbachev, da antiga União Soviética, que aparece no jogo. Eles têm nome! - Lembra da abertura do Street II, em que dois homens brigam na rua? Eles possuem nome e podem entrar no SFV. O sem camisa se chama Scott e o outro, Max. O desenvolve- dor promete uma atualiza- ção do Street V, liberando ambos para jogar. Eles dão hadouken? Faixa etária - Depois do SF II,  surgiram outros jogos semelhantes, como o Mortal Kombat, com ‘fatality’ e ca- beças rolan- do. O congres- so americano, preocupado, resolveu colocar faixa etária pela primeira vez em games. Street é para maiores de 12 anos, viu? Machismo quase estraga - Apesar do jogo inserir a primeira lutadora nos games, alguns produtores pensaram em deixar a barra de vida de Chun-Li menor que os demais, demonstrando fraqueza. A maioria da equipe não concordou com a ideia, que acabou descartada. Um fenômeno de vendas - Com um ano de lançamento, o jogo já tinha vendido 200 mil arcades até 1992, um recorde para jogos de fliperama. Após sucesso no fliperama,  Super Nitendo , Mega Drive e Master System lançaram o jogo. Linha do tempo:1987 - Street Fighter é lançado no Japão. Com apenas dois personagens (Ryu e Ken), mas com alguns aspectos da sua sequência, o jogo foi um fracasso e acabou nem saindo do país. 1991 - A Capcom e sua equipe deram um reboot na primeira versão, colocando mais personagens e comandos de golpes. O SFII se tornou o jogo mais vendido na história do fliperama. 1992 - Após o sucesso no arcade, o Super Nintendo estreou o Street II. Agora, os gamers podiam jogar em casa ou nas locadoras.  O jogador podia alugar os consoles, por hora. Também virou febre aqui. 2016 - Ano da última versão do jogo, o Street Fighter V, disponível nos principais consoles. A sequência faturou o prêmio de melhor jogo de luta do Game Awards 2016, o Oscar da categoria.