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E finalmente, qual o dia da lavagem do Bonfim? Aprenda e nunca mais esqueça!


 

Celebração a Oxalá é uma das maiores "tiradas de tempo" nos católicos para que escravizados mantivessem tradições africanas

  • Da Redação

Publicado em 25/12/2022 às 16:00:00
. Crédito: Robson Mendes/Arquivo CORREIO

A lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim, que se tornou essa imensa celebração, é mais uma das inteligentes maneiras que o povo negro inventou para conseguir manter viva suas tradições. Em um resumo bastante breve, Oxalá foi fazer uma visita ao reino do seu filho Xangô e, no caminho, reconheceu o cavalo dele perdido e com sede. Ao tentar levar o animal até um riacho, acabou confundido com um ladrão e preso pelos súditos do orixá da Justiça. 

A partir de então, misteriosamente, o reino passou a sofrer todo tipo de intempéries: secas, enchentes e doenças. Xangô então consultou os búzios (o oráculo). Foi quando descobriu a existência de um homem preso injustamente em seu território. Envergonhado, Xangô determinou que todos os habitantes do reino fizessem fila com quartinhas na cabeça e água do mesmo rio e lavassem os pés de Oxalá pedindo misericórdia. 

Pegou a visão? Lavar os pés . Lavagem... Pronto: a lavagem das escadarias da basílica foi a forma encontrada para lavar simbolicamente os pés de Oxalá todos os anos. Mas, quando fazer isso? Qual foi o dia escolhido para exaltar o “pai da vida e da morte”?  Bom, era preciso “tirar de tempo” e encaixar a festa no meio do calendário católico. 

É aí que surge a dúvida que perdura até hoje. O público em geral sempre faz confusão sobre qual essa data. Aliás, existe data? Seria sempre na segunda quinta-feira do ano ou na primeira? Há quem diga que é na terceira. O fato é que essas dúvidas sempre aparecem quando se tratam de celebrações de origem africana (se fosse cristã ninguém estava perguntando).

Este mesmo jornal escreveu esta semana que a festa do Bonfim mantém a tradição de ser comemorada na segunda quinta-feira do ano. Acontece que a tradição nunca existiu. Pois então, é preciso justamente recorrer ao calendário católico para saber exatamente qual o dia da lavagem. Bora lá?

As celebrações ao Senhor do Bonfim iniciam com um novenário no dia seguinte ao  Dia dos Santos Reis, comemorado em 6 de janeiro, o fim do ciclo natalino. Pegue essa referência e não esqueça mais - 6 de janeiro, Dia de Reis. O dia exato em que se comemora Nosso (lá deles) Senhor do Bonfim é no segundo domingo depois do Dia de Reis. Repetindo: o Dia do Bonfim (para os católicos) é no segundo domingo depois do dia 6 de janeiro (Dia de Reis) - em 2023, será dia 15. Captou? Mas aí não estamos falando da lavagem ainda. 

Então: a Lavagem do Bonfim e das escadarias é na quinta-feira anterior ao Dia do Bonfim no calendário. Neste ano, a lavagem ocorrerá então no dia 12 de janeiro. Os escravizados e seus descendentes meteram água de cheiro no meio da celebração católica sem eles nem perceberem. É essa festa em pleno dia útil, e de origem no candomblé, que reúne quase 2 milhões de pessoas nas ruas todos os anos - e não a católica do domingo. 

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Tudo bem (ou não) que tudo virou uma coisa só e hoje até a imagem de Senhor do Bonfim sai em procissão na frente das baianas com suas quartinhas cheias d'água e alfazema. Tudo bem que, depois de séculos, padre Edson Menezes (que não é besta nem nada) abre o portão do gradil e permite o acesso do povo à igreja.

Mas, no dia da lavagem, quando estiver curtindo todo o sagrado e profano que ela tem a oferecer, lembre-se da mitologia iorubá, lembre-se de Xangô e Oxalá, lembre-se da fé, das dores e das lutas de um povo que deu origem a tanta festa e cultura.