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O fator Kleber: como candidato do Psol virou o 'campeão moral' da eleição


 

Geraldo Júnior apostou no “Lula é 15 em Salvador” durante a campanha, mas esqueceu de combinar com os petistas

  • Donaldson Gomes

Publicado em 07/10/2024 às 07:00:57
Kleber Rosa apostou na conexão com Lula, mesmo sem contar com o apoio do presidente. Crédito: Reprodução

Kleber Rosa sai da disputa eleitoral de 2024 “grandão”, como se diz informalmente aqui na Bahia. O servidor público que atua como professor e policial civil vai retomar as suas atividades como uma espécie de “campeão moral” desta eleição, tomando emprestada uma gíria do futebol. Não conquistou “o título”, que seria a cadeira de prefeito no Thomé de Souza, porém sai com a maior votação já registrada pelo Psol numa disputa municipal em Salvador, com 10,43% do total e a confiança de 138.610 eleitores.

“Nós tínhamos como objetivo chegar ao dia de hoje (ontem) no segundo lugar e, quem sabe, com a possibilidade de levar a disputa para um segundo turno”, afirmou a jornalistas pouco antes de se dirigir à cabine de votação. Parecia feliz e aliviado, talvez rememorando a batalha hercúlea que enfrentou contra a máquina política que dá sustentação ao governo do estado. Jerônimo, Wagner e Rui, principais cardeais do PT na Bahia, escolheram outro candidato, mas a militância petista estava com Kleber. Não foi para o segundo turno, mas ajudou o partido a fazer dois vereadores.

“Lula é 15 em Salvador”, repetiu à exaustão durante o período eleitoral o candidato do MDB, Geraldo Junior. O atual vice-governador da Bahia apostou suas fichas no apoio institucional do PT, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, à sua campanha, mas esqueceu de combinar com os petistas. Em 2024, o time de Lula escolheu o 50 em Salvador e, embora, o movimento não tenha sido forte o suficiente para modificar o resultado final da disputa eleitoral, engordou a votação do Psol, que vinha definhando nas últimas disputas municipais.

Desde que Hilton Coelho promoveu a estreia do partido numa eleição municipal em Salvador, em 2008, com o seu jingle chiclete – neste momento imagino você cantando mentalmente “eu quero Hilton 50…” – e abocanhou pouco mais de 51 mil votos, terminando o primeiro turno com quase 4% do total de válidos, o Psol vinha ladeira abaixo. Em 2016, Hamilton Assis recebe 33 mil votos e termina com 2,6%, depois Fábio Nogueira, em 2016, termina com 13,7 mil votos, equivalentes a 1,04% dos válidos. Em 2020, o partido apostou novamente em Hilton 50, mas a força do jingle atraiu 1,39% dos votos e 16,8 mil em números absolutos.

Mesmo longe de alcançar o desempenho de outros grandes centros, como São Paulo, onde Guilherme Boulos despontou como forte candidato, o Psol de Kleber Rosa chegou ao final do primeiro turno fortalecido por um aliado improvável: o eleitorado petista, que não conseguiu se identificar com o 15 de Geraldo Junior e dos irmãos Vieira Lima e embarcou na campanha do 50.

Há dois anos, quando disputou o governo do estado, Kleber Rosa ficou 0,59% do percentual de votos válidos, sendo a escolha de 48.239 eleitores baianos. Mas desde o início do processo eleitoral, as pesquisas de intenção de votos apontavam para um cenário diferente agora em 2024. No último levantamento do Instituto Paraná, divulgado em 1º de outubro, o psolista aparecia próximo ao percentual de votos de Hilton em 2008, com 3,5% das intenções, com um crescimento de 1 ponto percentual em relação à pesquisa realizada um mês antes.

Na mesma pesquisa, Geraldo Junior aparecia com 7,4% das intenções de votos, à frente, mas com uma queda de 2,4 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior. Como se diz no jargão político, a curva era favorável a Kleber e ruim para o vice-governador.

Um outro número divulgado pelo Instituto Paraná pode ser esclarecedor em relação à performance de Kleber. A rejeição dele era 21,5 pontos percentuais menor que os 46% do eleitorado que responderam não ter menor intenção de votar em Geraldo Junior.

O PT e os petistas

Na última semana de campanha, a cinco dias da votação em primeiro turno, o presidente do PT na Bahia precisou reforçar o apoio do partido ao candidato emedebista. Éden Valadares garantia que a legenda do governador Jerônimo Rodrigues e do presidente Lula e a sua militância estariam ao lado de Geraldo. “Estou aqui com toda convicção para dizer que Geraldo e Fabya (Reis, candidata a vice-prefeita) tem todo apoio de toda militância do PT de Salvador, da Bahia e do Brasil”, afirmou Éden.

Talvez a grande dificuldade dos petistas com Geraldo – a desconfiança em relação a alguém que até pouco tempo estava no time adversário – seja o maior trunfo de Kleber Rosa dos esquerdistas raízes. Enquanto um precisou dar explicações durante a campanha por elogios e acenos aos atuais adversários, e até mesmo em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, o psolista sempre esteve do mesmo lado.

Desde o período de pré-campanha, quando os nomes que disputaram a eleição foram apresentados, filiados do PT já surgiam em fotos ao lado de Kleber Rosa, prenunciando o que as urnas confirmaram ontem. Duas semanas antes da eleição, o psolista participou de um ato público em que recebeu o apoio de petistas que se recusaram aceitar a decisão partidária de apoio a Geraldo.

Faixas com o título “Petistas com Kleber Rosa e Dona Mira” destacaram a trajetória do psolista com as pautas da esquerda, com os movimentos sociais, e com a luta por justiça social. Em meados de setembro, Rodrigo Pereira, dirigente do PT, pediu que os seus correligionários votassem em Kleber.

“Convoco toda nação petista para votar em Kleber Rosa. Todos aqueles petistas que votaram em Lula e em Jerônimo precisam agora votar em Kleber Rosa por um programa de esquerda de verdade. Por uma candidatura que, de fato, vai nos representar e defender as nossas pautas”, disse Rodrigo Pereira, que foi contra a sigla apoiar Geraldo Júnior.