Fracasso de Geraldo Jr. faz grupo petista ter o pior resultado na história em Salvador
Vice-governador da Bahia alcançou apenas 10,33% dos votos válidos na eleição do último domingo
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Millena Marques
milena.marques@redebahia.com.br
Único nome apadrinhado pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT) na disputa pela prefeitura de Salvador, Geraldo Júnior (MDB) teve o pior desempenho dos candidatos da base petista desde 2008. Com apenas 10,33% dos votos, o emedebista sequer ficou em segundo lugar na disputa, posição ocupada por Kleber Rosa (PSOL), que alcançou 10,43%.
O PT começou a governar a Bahia em 2007. Nesse período de 17 anos no poder, o grupo petista saiu vitorioso na eleição soteropolitana em apenas uma única eleição: 2008, quando João Henrique Carneiro (na época, MDB) foi reeleito no segundo turno, com 58,46% dos votos.
Na época, o então governador (atualmente senador) Jaques Wagner (PT) apoiou três nomes: João Henrique, Walter Pinheiro (PT) e Antônio Imbassahy (PSDB). No total, os três aliados dele tiveram 69,39% dos votos dos soteropolitanos – o melhor desempenho da aliança petista até agora.
Desde então, o governo manteve a estratégia de pulverização - ou seja, ter duas ou mais candidaturas - na disputa pela capital baiana. Em 2012, Nelson Pelegrino (PT) e Márcio Marinho (PRB, hoje Republicanos) foram os nomes da base petista e somaram 46,24% dos votos válidos no primeiro turno. Com 53,51%, ACM Neto (na época DEM, hoje União Brasil) desbancou no segundo turno o petista, que ficou com 46,49% dos sufrágios.
Já em 2016, o principal nome apadrinhado pelo então governador (atual ministro da Casa Civil) Rui Costa (PT), Alice Portugal (PCdoB), não deslanchou e o pleito foi decidido no primeiro turno.
ACM Neto foi reeleito com 73,99% – o segundo maior percentual nas eleições de Salvador, atrás apenas do quantitativo obtido por Bruno Reis (União Brasil) no último domingo (6), de 78,67%. Nessa disputa, Alice Portugal, Pastor Isidório (PDT) e Claudio Silva (PP), aliados do governo Rui Costa, somaram 24,62%.
Em 2020, a base do governo lançou o maior número de candidaturas do período. Ao todo, quatro nomes entraram na corrida eleitoral: Major Denice (PT), Pastor Isidório (Avante), Olívia Santana (PCdoB) e João Carlos Bacelar (Podemos). Juntos, os candidatos somaram apenas 29,6% dos votos. Resultado? Bruno Reis eleito pela primeira vez com 64,20%.
Após os fracassos eleitorais em 2012, 2016 e 2020, os governistas decidiram desistir da tática de pulverização e adotaram neste ano a estratégia de candidatura única, que também naufragou neste domingo após Geraldo Júnior alcançar o pior resultado da base petista desde 2008.
Embora tenha sido candidato único, Geraldinho, como é chamado pelos mais íntimos, sofreu resistências de segmentos da esquerda, sobretudo, do Partido dos Trabalhadores. Militantes do PT se posicionaram publicamente contra o postulante emedebista.
Pelo menos três razões motivaram a oposição da esquerda em relação ao nome do vice-governador: sua trajetória política no campo da centro-direita, a declaração de voto ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2018 e sua afirmação de que era uma “perda de tempo” a discussão sobre se o impeachment da ex-presidente petista Dilma Rousseff (PT) foi ou não um golpe.
Para Umeru Bahia, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), diversos fatores explicam o fracasso dos adversários de Bruno Reis.
“O problema dos seus repetidos insucessos deve-se também às suas próprias estratégias de campanha e a perda sucessiva da força dos comitês de bairro, dos projetos contínuos, da incapacidade de dialogar e de propor suprir demandas gerais da população”, explicou.
Segundo Umeru, Geraldo Júnior e os correligionários dele não conseguiram mobilizar os diversos grupos sociais. Além disso, houve uma desestruturação da esquerda o que provocou o enfraquecimento deste campo político na eleição deste ano.
Na avaliação do especialista, a vitória expressiva de Bruno Reis pode ser atribuída à aprovação da gestão e ao controle da máquina pública. Pesquisa do instituto Quaest, divulgada em agosto, apontou que 67% dos soteropolitanos avaliavam positivamente a gestão do chefe do Palácio Thomé de Souza.
"A vitória expressiva de Bruno Reis pode ser entendida como uma combinação de sua própria prefeitura bem-sucedida em termos políticos e imagéticos e da fraca estratégia da oposição, que dividida, não construiu desde antes seu eleitorado com projetos de formação política eleitoral”, complementou Umeru.
*Com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva