Nova carreira após os 50: Veja cinco histórias de quem não teve medo de arriscar
Especialista dão dicas que podem ajudar quem está passando por esta transição, seja na mudança de área ou no empreendedorismo
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Priscila Natividade
priscila.oliveira@redebahia.com.br
Há quem possa chamá-los de ‘coroas’ ou ‘cinquentões’. Mas o mercado de trabalho de hoje prefere reconhecê-los como seniores, profissionais que cada vez mais são demandados por habilidades de resiliência e adaptação, que são muito difíceis de serem encontradas em trabalhadores menos experientes.
E os ‘tiozões’ nem pensam em parar. A aposentadoria não é mais o limite, muito menos uma carreira consolidada em uma área. O fato é que a meia-idade não é empecilho para se iniciar uma nova fase profissional. “São pessoas que passaram por diversas situações ao longo de suas carreiras que provavelmente os tornaram resilientes e emocionalmente inteligentes. Essas habilidades comportamentais são imensuráveis e de extrema importância para qualquer organização”, analisa o presidente da Talenses Executive, João Marcio Souza.
Seja para mudar de área, somar uma nova atividade ou até mesmo empreender, a mudança radical na trajetória profissional vai exigir planejamento, como aconselha o diretor-executivo da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento, Alexandre Slivnik.“O profissional precisa mostrar o valor dele para a empresa ou para o negócio que ele quer criar. E a história dele pode ajudar nesta nova jornada. Ele vai construir uma nova história, mas vai trazer com ele a experiência de vida que ele tem”, pontua.
Para o diretor da consultoria NEXTT 49+, Ismael Rocha, a capacidade de resolver problemas, espirito de dono e visão sistêmica são extremamente necessárias para manter a “longevidade produtiva”. “Quais as oportunidades existentes? Onde suas competências serão consideradas como diferenciais? É entender sua dinâmica e como se diferenciar”, diz. A empresa em que ele trabalha oferece cursos e mentorias para os mais velhos.
Veja relatos de profissionais que se reinventaram e mudaram propósitos. O segredo? Mudaram o plano. Veja nas histórias e confira também cinco dicas que podem ajudar a quem quer um novo rumo após os 50:
APÓS O DESEMPREGO 'O mais importante neste momento é usar a experiência, principalmente na hora de ter cautela', afirma José Ursizino (Foto: Acervo Pessoal) José Ursizino Com a alienação da Cesta do Povo, eu fui demitido da Empresa Baiana de Alimentos (Ebal) após trabalhar lá durante 35 anos. Atualmente estou em fase de criação e montagem de uma empresa de Scouting, a Hype Models Scoutings e Eventos, que terá uma abrangência em todo o território baiano em busca de pessoas que tenham o sonho de serem modelos. O que me levou a mudar radicalmente da minha profissão foi a busca de novos caminhos que não me deixasse dependente de empregos estatais. Não posso ficar parado após os 50 sem nada que me incentivasse e desse novo sentido na vida. Gosto de desafios. Tenho buscado consultorias especializadas na área, informações que balizassem a minha decisão com segurança, estudos de mercado e financeiro, inovações e atuações diferenciadas no segmento. Acredito que o mais importante neste momento é usar a experiência, principalmente na hora de ter cautela para discernir as questões de investimento, por exemplo, sem o ímpeto da juventude.
MAIS DE UMA ATIVIDADE 'Conciliar as duas carreiras é meio complicado, às vezes, mas estou determinado em seguir em frente', destaca Alberto Carvalho (Foto: Divulgação/ Tereza Carvalho) Alberto Carvalho Atualmente eu sou um executivo, trabalho na área comercial. Sou gerente de produtos em uma empresa onde estou há 5 anos. Gosto do que eu faço, procuro ser aplicado em tudo e me sinto muito bem nessa profissão. O que me levou a incorporar a ideia de ter uma segunda carreira é uma velha vontade que eu sempre tive de ser DJ. Sempre gostei de música. Na minha adolescência, juntei amigos toda vezes que eu pude para fazer um baile, uma festa e tocar mesmo nos equipamentos menos profissionais que eu tinha. Comecei há um mês e já fiz duas festas neste período. Ainda estou em busca de conhecimento para poder melhorar o meu desempenho. O desafio que eu enfrento nesse momento é encontrar tempo para treinar e ampliar meus conhecimentos nesse segmento o mais rápido possível. Conciliar as duas carreiras é meio complicado, às vezes. Mas eu estou determinado a seguir em frente com esse meu projeto novo. Seja qual for a área, não dá pra deixar de se atualizar e acompanhar a evolução.
MESTRE EM ADAPTAÇÃO Além da disposição estas pessoas tem mais experiência e maturidade emocional', pontua Juarez Dias (Foto: Divulgação) Juarez Dias Tenho 58 anos e já fui metalúrgico, caminhoneiro e taxista antes de ser admitido no GBarbosa. Minha função consiste em fiscalizar a entrada e saída de clientes. Estava cansado da vida atrás do volante, queria mudar, fazer algo diferente. Decidi deixar o volante e fui em busca de oportunidades. Fiz curso de informática no Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT/Sine), busquei participar da seleção na rede supermercadista e fui admitido. Gosto do que faço e a empresa, por meio do programa Talentos Experientes, dá oportunidades àqueles com mais de 50 anos de idade. Aprender um novo ofício é sempre um desafio, mas com interesse, atenção e determinação o processo de adaptação fica mais fácil. O tempo de vida dos brasileiros está maior. Pessoas acima de 50, 60 anos ainda têm energia e disposição para trabalhar e querem continuar ativos no mercado de trabalho. As empresas estão enxergando isso também. Além da disposição, essas pessoas têm mais experiência e maturidade emocional.
UM OUTRO PROPÓSITO 'Envolvi minha família no negócio e empreendemos no restaurante, muito mais na coisa e na vontade do sonho', diz Rosa Guerra (Foto: Divulgação/ Maria Tereza Carvalho) Rosa Guerra Desde nova, mesmo antes de entrar no Tribunal de Justiça, já fazia alguns ‘bicos’ como artesanato pra vender. Não queria depender de pai e mãe e tal. Depois tive a oportunidade de entrar no Tribunal, o que não impediu de continuar fazendo outras coisas: cozinhava para os amigos, fazia algumas festinhas quando me pediam. Cursei Educação Física e depois Direito. Faltando dois anos para me aposentar, fiz o curso de gastronomia e aí abri o Larriquerri. Era de fato uma ‘portinha’ que só tinha oito mesas. Envolvi minha família no negócio, sem muita pretensão na verdade. Muito mais com a vontade do sonho de receber as pessoas como eu recebia em casa. A coisa foi dando certo, a procura foi aumentando. Hoje, na verdade, eu tenho o Restaurante Larriquerri, o Larriquerri Bar e estamos para abrir o Larri Bistrô, na Aliança Francesa. Hoje eu me sinto mais até empresária do que cozinheira. Continuo na cozinha, mas ali na criação dos pratos. Sempre ali de olho na qualidade e nos detalhes.
CINCO DICAS QUE PODEM AJUDAR NA TRANSIÇÃO
Planejamento Onde nossas competências farão de fato diferença? A resposta a esta pergunta deve direcionar todo o seu plano de carreira. Uma mudança exige, antes de tudo, planejamento. Avalie como será o seu cotidiano na nova função e reflita previamente se a nova rotina está de acordo com suas expectativas, por exemplo. Além disso, é preciso analisar, inclusive, sobre possíveis mudanças de remunerações. Como vou me adaptar? É outra questão importante.
Seja resiliente Essa habilidade comportamental provavelmente foi desenvolvida ao longo dos anos de sua carreira. Use ela nesse momento também, porque fazer uma transição de carreira exige força para enfrentar possíveis erros que podem acontecer no começo dessa nova fase. Não desista.
Se qualifique Seja com o intuito de montar um negócio, mudar de área ou agregar mais uma atividade é fundamental se qualificar. Conhecimento nunca é demais.
Use a maturidade a seu favor Faça uma lista das experiências de sucesso que teve na sua carreira. Mas enumere também, do outro lado, os seus insucessos. Eles serão importantes para determinar suas forças, oportunidades e pontos de melhoria.
Porque na minha época... É preciso saber conviver com a diversidade de pessoas, pensamentos e ideias. Esteja aberto para trocar conhecimento, conviver com as diferenças e o impacto delas. É o momento diverso que vai gerar a inovação.