Braskem, Bayer, Magalu e TIM e abrem programas de estágio só para negros; há vagas na Bahia
Objetivo é ter mais diversidade nas empresas
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Carmen Vasconcelos
carmen.vascocelos@redebahia.com.br
No mês passado, o Magazine Luiza e a Bayer divulgaram programas voltados para trainees exclusivamente negros. As iniciativas inéditas geraram polêmicas, mas explicitaram uma mudança de cultura cada vez mais abraçadas pelas organizações: o incentivo à diversidade nos quadros de colaboradores.
Pessoas negras representam 55,8% da população brasileira, mas ocupam menos de 5% dos cargos de liderança nas 500 maiores empresas do país, segundo pesquisa do Instituto Ethos. Números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) apontam também que as mulheres negras constituem o maior grupo populacional do país (25,3%), porém ocupam somente 0,4% dos altos cargos nas empresas.
Empresas como a Braskem e a TIM decidiram seguir os passos na cultura da diversidade e inclusão. O Programa de Estágio da Braskem, por exemplo, está com inscrições abertas e com vagas na Bahia, e tirou a exigência do inglês em 40% das vagas. Para a empresa, a obrigatoriedade do segundo idioma acaba sendo um filtro que dificultava a diversidade e inclusão nesse processo seletivo, que é a principal porta de entrada para a empresa. A seleção de currículos continua sendo às cegas, sem acesso a informações como idade ou faculdade. A companhia manteve, ainda, parcerias com a Cia de Talentos, a consultoria Mais Diversidade e com coletivos negros de universidades para realizar inciativas direcionadas à atração, desenvolvimento e inclusão de grupos historicamente minorizados pela sociedade.
As etapas são 100% on-line e compreendem, por exemplo, o Teste de Tomada de Decisão, em substituição ao Teste de Raciocínio Lógico. Além disso, as interações foram “gamificadas” para focar no alinhamento entre o perfil do candidato e a cultura da empresa. São cerca de 300 vagas distribuídas nos estados da Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
Mudança de cultura
Para a responsável pelo programa Diversidade & Inclusão na Braskem e co-fundadora da Rede Brasileira de Mulheres LBTQ+ Debora Gepp, não basta falar em apoiar diversidade e, efetivamente, não investir numa mudança nas culturas organizacionais. Para ela, é fundamental que as empresas desenvolvam programas de inclusão bem estruturados, com metodologias de gestão de mudança eficazes, conduzidas por pessoas ou área dedicada apenas ao tema, traçando metas de transformação a curto, médio e longo prazo. Debora Gepp defende que não basta falar em apoiar diversidade, é preciso investir numa mudança nas culturas organizacionais e criar programas efetivos de inclusão e diversidade (Foto: Divulgação). “Na Braskem, acreditamos que as particularidades de cada indivíduo enriquecem o dia a dia, garantindo um ambiente mais criativo e com repertórios diferentes que contribuem para o aprendizado de todos. Por isso, Programas de Diversidade e Inclusão robustos e bem estruturados geram resultados positivos, impulsionando o negócio”, defende.
Para Debora, as companhias devem desenvolver processos de capacitação contínuos, voltados à educação inclusiva, e em medidas para coibir comportamentos discriminatórios. Ela salienta que a empresa valoriza a diversidade e promove uma cultura sempre mais inclusiva, com um ambiente de trabalho pautado no respeito.
Para levar os princípios da diversidade e inclusão, Debora defende que as equipes devem ser capacitadas com foco nessa temática, incluindo os líderes, que precisam ser conscientizados para que reflitam sobre seus vieses inconscientes e tenham um olhar mais cuidadoso rompendo as barreiras ocultas que os grupos minorizados enfrentam no mercado de trabalho. “Recentemente capacitamos 600 líderes na Braskem e também temos as Redes de Afinidade de Diversidade e Inclusão que atuam como embaixadores internos do tema. Outra estratégia eficiente é criar um ambiente inclusivo, o que pode incluir mudanças na estrutura física das organizações”, sugere, reforçando que, na Braskem, por exemplo, foi construído mais de 70 banheiros femininos, salas de amamentação em todas as unidades, produziram uniformes para mulheres e foram estabelecidas vagas de estacionamento para gestantes.
“Essas foram algumas iniciativas para estimular a equidade de gênero na companhia, o que trouxe resultados. Hoje, 22% dos integrantes são mulheres, sendo que 30% dos cargos de liderança são ocupados por elas”, completa.
Sociedade mais igual
A operadora TIM também vem trabalhando em ações capazes de ampliar a participação de pessoas negras no mercado de trabalho e contribuir com indicadores sociais mais igualitários no país. Hoje, a empresa tem um quadro de funcionários formados por 34% de pessoas negras e acaba de lançar uma proposta programa de estágio totalmente inclusivo, que será anunciado ainda este ano, com foco e metas de contratação de estudantes negros e negras, pessoas LGBTI+ e pessoas acima de 45 anos, usualmente preteridos em programas de seleção.
Para a vice presidente de Recursos Humanos da TIM, Maria Antonietta Russo, a força e as peculiaridades de cada país se refletem nas caraterísticas do seu povo e na sua cultura e, no Brasil, que é composto por várias etnias, histórias e uma imensa diversidade cultural, a situação não é diferente. “A proposta é, não somente devemos valorizar essa riqueza, mas sobretudo buscarmos o equilíbrio social, que é a base da evolução de uma sociedade. Neste sentido, o mundo empresarial pode contribuir muito, não somente com políticas internas, mas também estimulando novas iniciativas e a reflexão na sociedade”, diz.
SERVIÇOAs inscrições para participar do processo seletivo do Programa de Estágio da Braskem seguem abertas até 7 de outubro, no site https://www.braskem.com.br/carreira. Já a Bayer mantém as inscrições até o dia 21 de outubro, no site liderancanegra.ciadetalentos.com.br Para mais informações, acesse: www.tim.com.br.