Pilotamos o Hyundai HB20 de competição, entenda as diferenças para o carro de rua
Com 159 cv de potência e transmissão automática o modelo de corrida chega aos 200 km/h. Veja também avaliação em vídeo da versão de passeio
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Antônio Meira Jr.
antonio.meira@redebahia.com.br
Transformar um veículo de passeio em um carro de corrida é algo antigo e, além de fomentar o esporte a motor, é uma importante ferramenta de marketing. Há algumas décadas, uma frase de Bob Tasca, concessionário da Ford nos Estados Unidos, ficou famosa: “vença no domingo, venda na segunda-feira”.
Apesar de não ser novidade, apenas dois fabricantes seguem essa fórmula ao pé da letra no automobilismo brasileiro, a Hyundai e a Porsche. E antes que você fique em dúvida, a Stock Car, a mais famosa das categorias nacionais, não corre há muitos anos com veículos transformados. São estruturas especiais cobertas com “bolhas” que imitam as linhas do Chevrolet Cruze e do Toyota Corolla.
Já a Copa Shell HB20 tem como base o mesmo hatchback que é comercializado nas 233 concessionárias que a empresa sul-coreana tem no Brasil. Inclusive, a transformação é feita na própria fábrica, em Piracicaba, no interior de São Paulo. Já os Porsche, muito mais caros, são alterados na Alemanha.
Até o ano passado, a categoria monomarca da Hyundai usava um modelo baseado no HB20 R Spec 2019 - época que participei de duas etapas com o carro. Neste ano, ganhou uma nova geração de veículos de competição, baseada no HB20 atual.
De longe já é possível perceber que é ele é mais baixo. Ao se aproximar, as diferenças começam a ficar mais visíveis: os vidros, por exemplo, são substituídos por policarbonato, para garantir segurança em caso de acidentes, além da redução de peso. A suspensão foi recalibrada, enquanto a do HB20 de rua tem foco em conforto e segurança, a do modelo de competição precisa ser mais dura e reforçada, adequada às pistas.
Outra diferença perceptível está nas rodas exclusivas e pneus esportivos 195/55R15 85H. E um detalhe interessante nesse quesito: a categoria não utiliza pneus de competição, os slick, que são mais caros. A HRacing, empresa responsável pela gestão dos veículos, optou por radiais, como os aplicados aos veículos de passeio. O fornecedor atual é a Goodyear.
No interior, as mudanças ficam ainda mais claras. Saem absolutamente todos os itens de conforto, conveniência e peças de acabamento, o que inclui a forração e os bancos tradicionais. Tudo isso para economizar peso e aumentar a segurança, pois são incluídos uma gaiola de proteção, o famoso santoantônio.
Fica apenas um banco, mas é um modelo estilo concha com cinto de segurança de seis pontos. Enquanto um carro de passeio chega aos 1.100 kg na versão Platinum Plus, o da Copa tem 870 kg - contando a retirada de peças, a diferença de peso seria maior se não fosse a inclusão de equipamentos de segurança. O freio de mão até ficou, mas está desabilitado para que nenhum piloto tente fazer alguma manobra extra.
Outros equipamentos, como airbags e freios ABS, também não existem no carro de pista. O extintor de incêndio, que deixou de ser obrigatório nos carros de rua, está a bordo, em um sistema mais reforçado.
MECÂNICA E EXPERIÊNCIA
No conjunto motriz, permanece o motor 1.6 Gamma aspirado, que deixou de ser utilizado no HB20 de rua, mas está presente versão de entrada do Creta. O propulsor é remapeado para render 29 cv a mais, são, portanto 159 cv de potência. O torque também cresceu, alcançando 17,8 kgfm. O catalisador e a saída de escape também são diferenciados. O carro chega aos 200 km/h.
Nesta temporada uma grande novidade foi a introdução de uma transmissão sequencial de seis velocidades, em substituição ao sistema manual, no estilo H. Agora, as trocas são feitas por borboletas atrás do volante e o piloto precisa fazer a mudança de forma manual, mas não existe um pedal para a embreagem.
Essa mudança reduziu quebras, explicou Fabiano Cardoso, diretor técnico da Copa Shell HB20. Foi Fabiano, que também é instrutor de pilotagem, que me explicou o funcionamento do novo carro e me acompanhou nos testes que fiz no Autódromo do Velopark, no Rio Grande do Sul.
Além da maior durabilidade, o novo câmbio melhorou os tempos de volta. Isso acontece porque o piloto não precisa tirar a mão do volante. Dessa forma, consegue dominar melhor o veículo.
A bordo do carro consegui extrair bem a potência máxima e curtir o ronco do motor, que empolga muito. A direção é bem firme, sem assistência elétrica como nos modelos convencionais. O sistema de freios não conta com ABS e não tem servofreio, artifício utilizado em carros de passeio para aliviar a pressão que o motorista exerce sobre o pedal, ou seja, o pedal fica muito mais duro.
COMO CORRER NA COPA HB20
O valor para participar da temporada deste ano foi de R$ 240 mil. No pacote, estão inclusos o combustível, suporte de engenheiros, mecânicos e telemetristas a cada etapa. A logística do veículo para cada autódromo e um novo jogo de pneus para cada evento estão inclusos no pacote. O interessado deve ter feito uma escola de pilotagem e ser filiado à Confederação Brasileira de Automobilismo.
Neste ano foram disputas sete rodadas duplas e a etapa final da Copa Shell H20 acontece neste final de semana no Autódromo de Interlagos, em São Paulo.
AVALIAÇÃO DO CARRO DE PASSEIO EM VÍDEO