Agronegócio representa 23% da economia baiana
Número mostra força do campo; setor pode crescer mais com a integração entre lavoura e indústria
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Georgina Maynart
georgina.maynart@redebahia.com.br
Cerca de 23,4% da economia baiana vem do agronegócio. Esta é a participação do setor no produto interno bruto total do estado. O dado faz parte do mais recente levantamento da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI).
Os números do PIB têm como base o primeiro semestre deste ano, mas serão consolidados apenas em 2021. O que já se sabe é que o PIB do agronegócio baiano gerou cerca de R$ 33,3 bilhões nos primeiros seis meses deste ano. O volume é dois pontos percentuais maior do que no mesmo período do ano passado, quando o agronegócio representou 20,4% do PIB da Bahia.
O aumento da participação do agronegócio na economia baiana se deve aos preços de alguns produtos, que alcançaram desempenho superior ao restante da economia, e à sazonalidade da agropecuária baiana, que tem boa parte da produção concentrada entre abril e junho.
Ano passado, o PIB do agronegócio atingiu R$ 61 bilhões, ou seja, cerca de um quinto de tudo o que foi produzido no estado.
A análise do montante do agronegócio envolve a soma de vários segmentos de bens e serviços gerados pelas cadeias produtivas ligadas ao campo. Estão incluídos os insumos, a produção básica nas fazendas, a agroindústria que faz o processamento e os agro serviços, sejam no extrativismo vegetal, lavouras ou criação de animais. Isso abrange várias ramificações como a produção de fertilizantes, plantações, mão de obra, colheita, transporte, preços de mercado e atividades que processam e distribuem o produto até o destino final.
Para o economista João Paulo Caetano, coordenador de Contas Regionais e Finanças Públicas da SEI, o agronegócio tem potencial de se expandir ainda mais se houver a implantação de novas unidades industriais.“A Bahia é grande produtora, mas a integração da indústria e da agropecuária não é completa, tem uma defasagem nos processos agroindustriais e muitos produtos acabam sendo exportados in natura, com baixa agregação de valor. Quando houver esta integração o agronegócio vai crescer ainda mais. Este é o maior desafio do setor, fomentar a implantação de agroindústrias via atração de investimentos”, analisa o economista. PIB do Agronegócio representa 23,4% do produto interno bruto da Bahia. Setor gerou R$ 33,3 bilhões de reais no primeiro semestre deste ano. (Foto: Abacafé) Levando em consideração apenas a produção básica no campo, o PIB agropecuário representa 7,2% do produto interno bruto estadual. A lavoura e a pecuária geraram R$ 17,9 bilhões para a Bahia em 2018.
“Os volumes produzidos foram imensos, mas houve uma leve redução em relação aos anos anteriores por causa do contexto de mercado. Alguns cultivos caíram de preço, como a soja, que teve as cotações puxadas para baixo no mercado internacional”, explica o economista.
Para Humberto Miranda, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), outros entraves também precisam ser enfrentados.
“Apesar da Bahia ser um estado espetacular com potencial enorme e uma diversidade de cultura, solo, clima e biomas, nós temos gargalos importantes. Entre eles o entrave da infraestrutura, que vai desde energia elétrica, passando ainda pela infraestrutura hídrica que atrapalha o desenvolvimento do estado. A insegurança jurídica também é outro grave problema, assim como a questão de assistência técnica e extensão rural, principalmente para os pequenos e médios produtores que são a grande maioria dos 700 mil produtores rurais. Temos que promover o acesso do pequeno e médio produtor ao conhecimento, tecnologia, inovação, através de uma assistência técnica continuada e de qualidade”, afirma Humberto.
Para 2019 as expectativas são otimistas. Apesar de uma queda de 11,7% em relação a 2018, principalmente por fatores climáticos, os agricultores devem fechar o ano com uma produção total de 8,2 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas.
DESTAQUE NACIONAL
A Bahia já é responsável por quase metade da produção agrícola do Nordeste. Os agricultores daqui produzem 47% dos produtos agrícolas gerados por toda a região. E os dados do IBGE não deixam dúvida. Os produtos gerados no campo conquistam uma importância cada vez maior na economia nacional. São eles que ajudam a manter o estado na 7ª posição no ranking do agronegócio brasileiro. Nos últimos dois anos o valor da produção agrícola baiana cresceu 27,1%. Foi a maior taxa de crescimento do país. O bom desempenho fez a participação da Bahia subir de 4,9% para 5,7% na produção agrícola do Brasil.A diferença de apenas oito pontos percentuais no indicador geral pode parecer pequena à primeira vista, mas ganha dimensões gigantescas quando se analisa os efeitos na geração de empregos e na abertura de novos negócios em cada setor produtivo.
Bom desempenho da agropecuária fez aumentar para 5,7% a participação baiana no agronegócio nacional. (Foto: ABAF) COMPLEXO SOJA
No Oeste da Bahia os agricultores já estão em novo ritmo de plantio. Depois de três meses parados por causa da entressafra, é hora de preparar o solo, contratar mão de obra para o trabalho das lavouras e colocar as máquinas em ação.
Estima-se que todos os anos a cadeia produtiva gera mais de 95 mil empregos diretos e indiretos na região. De acordo com a Associação de Agricultores do Oeste da Bahia a previsão é que a região colha no próximo ciclo 6,3 milhões de toneladas da oleaginosa.
"Os cenários climático e agronômico são favoráveis e as expectativas são muito boas. A expectativa é de um incremento de 20% em relação a última safra. Isso demonstra a importância do complexo da soja”, afirma o presidente da Aiba, Celestino Zanella.
Na última safra, os agricultores do Oeste produziram 5,2 milhões de toneladas. A importância econômica deste grão, consumido no mundo inteiro, não é apenas regional. Atualmente o complexo soja é o segmento de maior peso percentual na balança comercial baiana. As exportações de soja triturada, farelo e resíduos da extração do óleo respondem por 18% dos embarques enviados da Bahia para outros países. A venda da commodity no mercado internacional rendeu mais de US$ 1,03 bilhão de janeiro a setembro deste ano.
Estudos demonstram que a cultura deve crescer ainda mais nos próximos anos. Ultrapassando os Estados Unidos, o país deve se consolidar na safra 2019/2020 como principal exportador e produtor de soja do mundo.
Os resultados foram obtidos graças aos investimentos realizados em tecnologia, melhoria da qualidade das sementes e técnica de fertilização do solo, como a correção química com calcário para aumentar a produtividade.
“A relação foi direta. Ou seja, quanto mais profunda a correção no perfil de solo, maior foi a produtividade. Isso se mostra como algo estratégico para o aproveitamento dos recursos, tais como água e nutrientes, além de impactar positivamente na minimização do impacto do clima, em especial do estresse hídrico durante o ciclo da cultura”, afirma João Pascoalino, coordenador técnico e de pesquisa do Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb). Novo ciclo de plantio está aberto no Oeste da Bahia. Complexo soja responde por 18% das exportações baianas. (Foto: Massey Fergusson divulgação) FLORESTAS
Os números demonstram que outros produtos de origem agropecuária têm essencial participação na economia do estado.
A celulose, extraída das florestas plantadas, foi responsável por 15% das exportações da Bahia. Este é o segundo produto de maior peso no comércio mantido com outros países. Entre janeiro e setembro deste ano a venda rendeu cerca de US$ 867 milhões.
A plantação de eucalipto da Bahia é a quarta maior do país. Os 657 mil hectares de plantações florestais estão espalhados por quatro regiões do estado. O setor mantém um crescimento anual médio de 5%.
Para Wilson Andrade, diretor executivo da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF), o segmento deve continuar se expandindo e sendo referência na geração de empregos, investimentos, arrecadação de impostos, e exportações, principalmente devido à demanda alavancada por outros setores.
“O setor de mineração vai crescer na Bahia, mas precisa de madeira para processar os minérios. A construção civil deve voltar a crescer e há muita demanda de madeira. O setor de grãos precisa da energia da madeira para secar e processar os grãos e fibras. O setor de papel e celulose continua com demanda mundial aquecida, principalmente na área de papéis sanitários, embalagens, copos, canudos e tudo isso é feito com madeira plantada. As empresas e famílias precisam de aquecimento, e a madeira plantada é a fonte sustentável e mais competitiva com outras fontes de energia. Ou seja, o setor florestal interage positivamente com outras áreas da economia abastecendo com matéria prima e é imprescindível para o crescimento destes setores”, afirma Andrade.
A sustentabilidade é uma palavra cada vez mais presente no segmento. Os produtores mantêm 744 mil hectares de florestas certificadas destinados a proteção e preservação ambiental.
Do segmento extrativista vem ainda outra boa perspectiva.
Neste momento um grupo de empresários está em Pequim, China, buscando novos mercados para as fibras naturais baianas. Durante cinco dias, eles vão participar de reuniões do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação (FAO) e do Encontro Internacional de Fibras Naturais. Entres os produtos que serão divulgados estão as fibras de sisal, juta e coco, que possuem forte tendência de produção e mercado até 2027.
Um dos destaques é a produção sisaleira na microrregião de Valente, onde as fibras servem de renda para milhares de agricultores em dezesseis municípios.
Produtores baianos buscam na Ásia novos mercados para as fibras baianas Entre os destaques esta a produção sisaleira da microregião de Valente. (Foto: Georgina Maynart) ALGODÃO
O algodão bruto do Oeste é o terceiro produto agropecuário de maior peso no comércio exterior, e representa 4,5% de todas as exportações da Bahia.
Este ano os cotonicultores devem exportar ainda mais. Eles acabaram de colher uma das maiores safras da história, quase 1 milhão e 500 mil toneladas de algodão herbáceo. O volume é 19,7% maior do que em 2018.
De acordo com a Associação Baiana de Produtores de Algodão (ABAPA), a cotonicultura gera cerca de R$ 4,5 bilhões para a economia baiana por ano. A cadeia produtiva emprega 30 mil pessoas nas etapas de aquisição de insumos, plantio, manejo, colheita, transporte, algodoeiras, armazenamento e comércio.“O algodão possui uma grande capacidade de gerar riqueza e empregos o que é muito importante para a Bahia. Temos a maior produtividade de algodão não irrigado do mundo, e existe um potencial muito grande de crescimento. Isso vai depender de dois fatores, entre eles a conquista de novos mercados. No Brasil, o consumo interno é algo em torno de 700 mil toneladas. Então nós precisamos exportar parte do nosso algodão, e é nisso que nós estamos trabalhando principalmente nos mercados da Ásia”, explica Júlio Cézar Busato, presidente da ABAPA. OUTROS PRODUTOS
Pesam ainda na balança comercial baiana as exportações de café cru em grão, goiabas, mangas, mangostões frescos, fumo em folhas, limões, limas, pimenta em grão, uvas frescas, peixes, lagostas congeladas, aves, cacau, cravo da índia, couros, sementes forrageiras e até tripas e buchos de animais.
Todos os produtos juntos garantem à Bahia a décima posição entre os estados que mais exportam no Brasil, segundo dados do Ministério do Comércio Exterior.
No total, de janeiro a setembro deste ano, as exportações baianas atingiram US$ 5.758 bilhões. O valor é 7,39% menor do que no mesmo período do ano passado. Mas ainda assim o estado mantêm um superávit de US$ 484 milhões. A China continua sendo o maior comprador dos produtos baianos, cerca de 26,2% das exportações foram enviadas para o país asiático. Os outros maiores compradores são os Estados Unidos (10,6%), Argentina (7,8%), Cingapura (7%) e a Holanda (6,1%).
I FÓRUM DE INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE PARA A COMPETITIVIDADE
No próximo dia 24 de outubro, a importância do agronegócio e a preservação do meio ambiente serão discutidas no I Fórum de Inovação e Sustentabilidade para a Competitividade. O evento será realizado no Senai Cimatec, das 08 às 13h, com inscrições gratuitas aqui.
O I Fórum é uma realização do jornal Correio, Ibama e WWI, com o patrocínio da ABAPA, Fazenda Progresso e Suzano S.A e apoio institucional da FIEB e FAEB/SENAR.
PROGRAMAÇÃO
8h00 às 9h00 – Credenciamento
9h00 às 9h30 – Abertura
9h30 às9h50 – Palestra Licenciamento ambiental, com Eduardo Bim, pres. do Ibama
9h50 às 10h10 – Palestra Tendências de inovação na Industria 4.0, com Gianna Sagazzio, dir. de Inovação CNI
10h10 às 10h30 – Palestra Eco-Nomia, a Nova Compliance Internacional, com Eduardo Athayde, dir. da WWI
10h30 às 11h00 – Painel I - Um Mundo em Mutação: Novas Regras nos Negócios, com Eduardo Bim, Gianna Sagazzio, Eduardo Athayde
11h00 às 11h20 – Coffee
11h20 às 11h40 – Palestra O Inovador Brasil Rural, com Julio Busatto, pres. da ABAPA
11h40 às 12h00 – Palestra Da Chapada Diamantina para o Mundo, com Evilasio Fraga, dir. do Agropolo
12h00 às 12h20 – Palestra Direito Ambiental na Indústria Florestal, com Georges Humbert, pres. do Instituto Brasileiro de Direito e Sustentabilidade da IBRADES
12h20 às 12h50 – Painel II - Inovação e Sustentabilidade Modelando Iniciativas, com Julio Busatto, Evilasio Fraga, Georges Humbert, mediado por Rodrigo Alves, sup. do Ibama
12h50 às 13h00 – Acordo de cooperação
13h00 – Encerramento
Números do Agronegócio da Bahia
PIB GERAL DO ESTADO (ano base 2018): R$ 287 bilhões. PIB DO AGRONEGÓCIO (ano base 2018): R$ 61 bilhões. PIB DA AGROPECUÁRIA (ano base 2018): R$ 17,9 bilhões.
PIB DO AGRONEGÓCIO (primeiro semestre de 2019): R$ 33,3 bilhões (23.4% do PIB do estado) - Ainda não consolidado.
PIB do agronegócio baiano gerou cerca de R$ 33,3 bilhões nos primeiros seis meses deste ano.
PIB do agronegócio atingiu R$ 61 bilhões EM 2018
Bahia produz 47% dos produtos agrícolas gerados no Nordeste
Participação da Bahia subir de 4,9% para 5,7% na produção agrícola do Brasil
A celulose foi responsável por 15% das exportações da Bahia
Algodão representa 4,5% de todas as exportações da Bahia
Complexo soja responde por 18% das exportações baianas
Setor Florestal cresce em média 5% ao ano