Sobre Inteligência Artificial, Sobre Inteligência Natural
Especialistas dizem que milhares de empregos serão varridos do mercado de trabalho e funcionários reais não funcionarão tão bem quanto os artificiais
Não faz um ano que o laboratório de pesquisa de inteligência artificial (“IA”), OpenAI, franqueou o acesso ao “ChatGPT” para qualquer pessoa com acesso à internet. Um burburinho ruidoso global, sobretudo na população economicamente ativa, se formou. De fato, há uma divisão histórica entre o antes e o depois do ChatGPT.
“Chat” é conversa, “GPT” é “Transformadores generativos pré-treinados”, pouco importa. Quem acessa o ChatGPT, invariavelmente, se espanta. Uma página simples de internet com um espaço para digitar textos e um botão de enviar. Respostas cultas e eloquentes, inédito e incrível Oráculo de Delfos contemporâneo. Com uma velocidade extraordinária de criação de conteúdos, textos, programação computacional, imagens, músicas, e muito mais, o ChatGPT é capaz de dialogar, pedir desculpas, corrigir e ser corrigido, fazer piadas, incentivar, até de fazer juízo de valor. Espetacular avanço humano.
Como formigas marchando em fila para construir um formigueiro quando, de repente, uma criança risca o dedo no chão transversalmente ao caminho seguido pelos insetos. É disruptivo. As formigas perdem o sentido da fila. Rodam, se batem, seguem em várias direções, até que se restabeleça o caminho. Assim está a marcha da humanidade depois que a IA riscou o chão.
Já existe toda sorte de especulação. O ruidoso burburinho. Muita futurologia em várias direções, até que se reencontre um caminho. Futurólogos, especialistas e pensadores afirmam o discurso catastrófico. Dizem que milhares de empregos serão varridos do mercado de trabalho. Funcionários reais não funcionarão tão bem quanto os artificiais. O mundo do cibercrime será incontrolável, inimputável. Influenciará a geopolítica, invadirá e controlará sistemas militares com poder de destruição em massa. Integrada a robôs armados, a IA dominará, subjugará e até eliminará a vida humana na terra. Catástrofes do admirável velho mundo. Já outros afirmam que, no geral, a IA já é e continuará sendo, um grande benefício para humanidade.
Hoje, até que o futuro chegue, a ascendência da IA na vida humana não é o desafio a ser superado. A decadência da IN - Inteligência Natural, é. Essa inteligência que o ser humano guarda em seu crânio. O cérebro. Dependente da energia advinda dos alimentos para manter-se ativo. A IN sofre no vergonhoso IDH da nossa sociedade. O anacronismo, o ideologismo e o absenteísmo escolar. O deficiente, injusto e explorado sistema de saúde. A desaparelhada, obsoleta, desapoiada segurança pública. Basta olhar ao sair de casa.
No burburinho da sociedade local, capaz de pensar, pois se alimenta, é mais conveniente se preocupar menos com a ascendência da IA e mais com a decadência da IN. Essa sim, em risco catastrófico de não haver ponto de reversão, na Bahia.